Advogado de réus do Carandiru diz que Estado foi omisso e defende PMs: "São bois de piranha"
Para defensor de policiais acusados de matar presos, condenação de clientes é política
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
O advogado Celso Machado Vendramini, que defende os 15 policiais militares acusados de matar oito presos no Massacre do Carandiru afirmou, na manhã desta segunda-feira (17), que o Estado foi negligente no episódio que terminou com a morte de 111 internos do Centro de Detenção São Paulo, em 1992.
Na avaliação do advogado, o "Estado foi omisso com relação à balística forense". Vendramini explicou que na época, os peritos alegaram que não tinham aparelhagem para fazer a perícia e que seria necessário comprar um aparelho nos EUA que custava 500 mil dólares
— Como você vai condenar alguém se não tem balística? Como vou provar que alguém matou alguém se não tem como provar isso tecnicamente? É um absurdo. Estão querendo uma condenação política. Os meus clientes são bois de piranha e hoje vou demonstrar para todos que o que faltou nesse processo foi com que o Estado se dedicasse mais para que realmente se chegasse aos autores verdadeiros desse crime.
Ele afirmou ainda que há depoimentos de agentes penitenciários nos autos relatando que antes da entrada da Polícia Militar no Carandiru no dia da rebelião, já havia aproximadamente 20 mortos.
— Era preso matando preso.
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Ao chegar o Fórum da Barra Funda nesta manhã, onde ocorrerá o terceiro bloco do julgamento do caso, Vendramini afirmou estar confiante na absolvição dos policiais por negativa de autoria. Segundo ele, após examinar os 71 volumes do processo, conseguiu descobriu o real motivo que deflagrou a rebelião no Carandiru.
— As pessoas que estão no processo há 22 anos sequer levantaram essa hipótese.
De acordo com o advogado, cerca de um mês antes, houve uma rebelião em Guarulhos promovida pelos detentos do Carandiru que foi controlada porque alguém teria delatado os planos dos presos. Assim, a rebelião no Centro de Detenção teria sido deflagrada por uma "briga entre quadrilhas, um acerto de contas" e não por causa de um jogo de futebol.
— Foi tudo distorcido. Não houve briga em campo de futebol. É tudo mentira. Está no processo. A briga começou com dois detentos do segundo pavimento. Aí, pintou-se que foi uma briguinha entre uma turminha. Briguinha coisa nenhuma. Aquilo foi uma rebelião geral na Casa de Detenção. Foram presos matando presos. Se a Polícia Militar não entra, nós teríamos aproximadamente mais de 200, 300 presos mortos por presos.
O defensor dos policiais, no entanto, admite que no dia em que a PM entrou no presídio os clientes efetuaram disparos.
— Eles entraram e efetuaram disparos de arma de fogo, mas não dispararam em direção a quem quer que seja. Estava escuro. Os presos atiravam neles e eles revidavam os tiros em direção aos clarões que viam. Nem eles [policiais] sabem se acertaram alguém.
O advogado declarou, ainda, que todos os clientes irão se defender durante o julgamento. Além disso, informou que entre as testemunhas da defesa estão o ex-secretário de Segurança Pública e um desembargador. Também foram chamados como testemunhas agentes penitenciários do Carandiru.
Outros julgamentos
No ano passado, 21 anos após as 111 mortes no massacre do Carandiru, policiais militares foram levados a júri popular em dois momentos. Em abril, 26 foram julgados. Inicialmente, o grupo era responsabilizado pelo homicídio de 15 vítimas, mas duas foram desconsideradas. Depois de sete dias de júri, 23 réus foram sentenciados a 156 anos de prisão e três acabaram absolvidos. Os condenados receberam pena mínima de 12 anos por cada uma das mortes dos 13 detentos.
Em agosto, o 2º bloco do julgamento terminou com a condenação de outros 25 policiais militares a 624 anos de reclusão. Eles foram responsabilizados pela morte de 52 presos no terceiro pavimento do pavilhão 9. Inicialmente, o grupo era julgado pelas mortes de 73 detentos, mas o Ministério Público pediu que 21 homicídios não fossem imputados aos militares. Nos dois casos, a defesa entrou com recurso.