Após suposto mal-estar, acusado de estuprar e matar Bianca Consoli deve ser interrogado nesta quinta-feira
Sentença poderá sair hoje, após os debates entre acusação e defesa
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
O julgamento do motoboy Sandro Dota — acusado de estuprar e matar a cunhada, Bianca Consoli, em 2011 — entra, nesta quinta-feira (25), no que deve ser o terceiro e último dia. Para hoje, está marcado o interrogatório dele, a partir das 10h, e também os debates entre acusação e defesa. Se não houver interrupções, a sentença deve sair até o fim da noite.
O interrogatório de Sandro chegou a ser previsto para a noite de quarta-feira (24), após as testemunhas que restavam serem dispensadas. No entanto, por volta das 21h, depois que os jurados retornaram do jantar, o réu sentou-se em frente à juíza Fernanda Afonso de Almeida, que já havia sido avisada, e alegou um mal-estar.
Questionado sobre o que estava sentindo, o acusado disse que não havia se alimentado direito nos últimos dias e que comeu demais no jantar, o que, segundo ele, teria derrubado sua pressão. Como não havia equipe médica no fórum naquele horário, a juíza perguntou se ele teria condições de continuar. Sandro respondeu que preferia ser ouvido nesta quinta-feira.
Para a mãe da vítima, Marta Consoli, o suposto mal-estar foi “encenação” e “um desrespeito”.
— Agora ele está encenando que está doente. Assim que ele entrou lá e sentou, que eu vi a respiração dele ofegante, eu já vi. Aí, imediatamente ele começa a falar, passar a mão no peito.
Impressões palmares
Nesta quarta-feira, durante o interrogatório da papiloscopista policial Alaide do Nascimento Mariano, o acusado se ofereceu para fornecer suas impressões palmares para confronto com a cena do crime. Na época dos fatos, ele havia negado. Ao fim do segundo dia de júri, o assistente de acusação, Cristiano Medina, afirmou que se trata de uma “estratégia” e fez um desafio ao réu.
— Eu faço aqui em público um desafio a Sandro Dota. Se, realmente, ele tem vontade de fornecer o material genético, que diga isso amanhã, no momento do interrogatório. Eu, como assistente de acusação, me comprometo com toda a imprensa, com a família, em pedir que o julgamento seja suspenso para que seja colhido o material para que seja feito o exame de DNA. É uma estratégia [da defesa]. Se a juíza não perguntar, eu vou perguntar se ele quer fazer o exame. A recusa é uma confissão tácita.
“Psicopata”
Daiana Consoli, irmã de Bianca e mulher de Sandro na época do crime, foi ouvida pelos jurados, também nesta quarta-feira. Quando deixou o fórum, ela disse que não teve medo de falar em frente do ex-marido, que chegou a pedir para sair do plenário.
— Eu acredito que o meu depoimento foi bom. Para mim, foi encenação dele quando pediu para ser retirado e depois acabou voltando, então, foi um pouco de teatro. Mas foi o que eu disse desde o começo, eu não tinha nada para esconder. O que ele fez com a minha irmã não se faz com ninguém e eu quero que a justiça seja feita. Não tenho medo nenhum de falar na frente dele e foi isso que eu decidi.
A irmã de Bianca também fez uma avaliação sobre o ex-marido.
— Um psicopata. Hoje eu sou livre. Hoje eu vivo livre de um psicopata. Eu posso fazer várias coisas sem ter ninguém me segurando de fazer nada. Ele não gosta de ser contrariado, é extremamente possessivo, ciumento. Era esse Sandro que eu tinha do meu lado.
Sentença
Caso não haja interrupções, o julgamento está previsto para terminar hoje. A mãe de Bianca falou sobre a expectativa para a sentença.
— A minha expectativa para amanhã é a condenação máxima, a pena máxima para ele.
Eu não estava preparada. Eu vim esses dois dias agora pensando e eu vou ficar e vou assistir. Eu sei que ele vai falar mentiras, mas vou estar ali para escutar as barbáries que ele sempre fala. Provar, ele não prova.
Depoimentos
A papiloscopista policial Alaide do Nascimento Mariano foi a sexta testemunha a prestar depoimento nesta quarta-feira (24), segundo dia de júri do caso Bianca Consoli. Durante sua fala, o acusado Sandro Dota se ofereceu para fornecer impressões palmares para confronto com a cena do crime. O advogado dele, Ricardo Martins, alegou que o réu se sentia "seguro no momento" para fornecer as impressões. A juíza indeferiu.
Duas peritas foram ouvidas nesta quarta-feira e falaram sobre o sangue encontrado na calça usada por Sandro Dota no dia do crime. Ana Cláudia Pacheco afirmou que a amostra de sangue encontrada na calça do réu batia com a encontrada embaixo da unha de Bianca. Questionada pela defesa se a amostra era de Dota, Ana Cláudia disse que não pode confirmar, pois para isso teria que receber uma amostra de sangue do acusado, o que não ocorreu durante as investigações.
Após Ana Cláudia, o júri ouviu o testemunho de Margarete Mitiko, perita criminal. O depoimento dela aconteceu das 18h03 às 18h28. Questionada sobre a possibilidade de contaminação nas amostras analisadas, ela respondeu que não havia possibilidade.
No depoimento mais esperado da noite, Daiana Consoli, irmã de Bianca Consoli e mulher de Sandro Dota na época do assassinato da universitária, também falou durante depoimento nesta quarta. De acordo com Daiana, o réu era "possessivo e não gostava de ser contrariado" e que, após a morte da irmã, vizinhos relataram que ele costumava mexer com outras mulheres da região.
Antes dela, o namorado de Bianca na época em que a jovem foi assassinada, Bruno Barranco, foi a segunda testemunha a prestar depoimento. Questionado pela juíza da 4ª Vara do Júri Fernanda Afonso de Almeida, Barranco confirmou que o réu havia “mexido com Bianca”. Segundo a testemunha, a abordagem do motoboy Sandro Dota teria acontecido na época em que a vítima estava com um ex-namorado.
A primeira testemunha a ser ouvida nesta quarta-feira foi a perita do IML (Instituto Médico Legal) Angélica de Almeida que falou por cerca de uma hora. Durante a investigação do crime, Angélica foi responsável por elaborar o laudo necroscópico da vítima. Segundo a perita, os exames indicaram que houve luta corporal entre Bianca e o autor do crime e as lesões encontradas no corpo da jovem foram provocadas pouco antes de sua morte.