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Chuva artificial: aposta do governo de SP para seca é ineficaz em 99% dos casos, diz especialista em clima

Previsão não indica mudança no tempo capaz de encher reservatórios até a próxima semana

São Paulo|Fernando Mellis, do R7

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Nível dos reservatórios do Sistema Cantareira é o pior da história
Nível dos reservatórios do Sistema Cantareira é o pior da história

A chuva artificial, medida adotada pela Sabesp para aumentar o nível do Sistema Cantareira — conjunto de represas que abastece cerca de 10 milhões de moradores da Grande São Paulo —, não deverá surtir efeito. A avaliação é da professora da USP Maria Assunção Faus da Silva Dias, pós-doutorada em meteorologia pela Nasa (Agência Espacial Americana).

A técnica, que vai custar R$ 4,47 milhões, consiste em pulverizar água nas nuvens com um avião para que as gotas que já estejam nelas provoquem chuva. Maria Assunção explica o motivo dessa estratégia não estar funcionando em São Paulo.


— Em 99% dos casos é ineficaz [...] Primeiro precisa ter nuvem. Depois, o avião tem que passar pela nuvem no começo do tempo de vida dela. As nuvens no céu estão em estágios diferentes e o avião vai passar por todas elas. Se pulverizar uma em estágio final, ela evapora. Teria que ser uma esquadrilha, aí essas coisas começam a ficar com um preço absurdo.

Segundo a Sabesp, até a última sexta-feira (7), a empresa ModClima, a única no País a oferecer o serviço, havia feito cinco voos na bacia das represas na região de Bragança Paulista. Porém, não houve precipitações significativas para aumentar o nível dos reservatórios. 


De acordo com a professora, estudos feitos em todo o mundo comprovam que a prática de semear nuvens não costuma ter bons resultados. Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, compararam períodos de chuva natural com aqueles em que houve pulverização. A conclusão foi de que os aumentos na precipitação foram ao acaso, devido às mudanças de padrões do clima.

Sistema Cantareira


O Estado de São Paulo vive um dos verões mais secos da história. Devido a um bloqueio atmosférico, as frentes frias que provocam as chuvas de verão não conseguem avançar sobre as regiões Sul e Sudeste. Com esse cenário, a cada dia que passa, a quantidade de água armazenada no Sistema Cantareira diminui ainda mais.

Na terça-feira (11), os reservatórios estavam com nível de 19,4%. Em média, a cada dia, o volume de água cai 0,2%, segundo a Sabesp.


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Previsão

O meteorologista Bruno Miranda, do Cptec/Inpe (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), diz que a previsão para os próximos sete dias indica aumento da chance de chuva, devido a uma frente fria no sul de SP. 

— Entre quinta, sexta e sábado o bloqueio atmosférico vai enfraquecer um pouco, com isso aumenta a condição de chuva nesses três dias. Mas na segunda-feira, São Paulo já volta a ter um tempo sem chuva. Comparado ao último mês, vai ter uma maior chance de chuva, mas nada que permaneça a tempo para amenizar a situação de seca.

Ele ainda acrescenta que a frente fria provocará pancadas isoladas que podem ser de forte intensidade. A professora Maria Assunção reforça que esse tipo de chuva não resolve a situação das represas.

— O que enche reservatório é aquela chuva que dura o dia inteiro, que a gente estava acostumado a ter no verão. Se chover bem em março e abril, pelo menos eleva os reservatórios até um nível que aguente o inverno, estação seca. Mas para recuperar a capacidade total, só ano que vem, no verão.

Outro lado

Questionada pelo R7 sobre a eficiência da semeação de nuvens, a Sabesp não havia se posicionado até a publicação desta reportagem. 

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