Coletivos publicam carta contra repressão policial na Cracolândia
Ação da PM e da GCM na quarta deixou quatro pessoas feridas a bala
São Paulo|Diego Junqueira, do R7
Ao menos 28 grupos publicaram na noite desta quarta-feira (10) uma carta de repúdio contra as ações violentas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana na região conhecida como Cracolândia, no bairro da Luz, centro de São Paulo.
O documento foi divulgado horas após agentes públicos de segurança entrarem em confronto com os usuários de drogas que moram na região. Aos menos quatro pessoas ficaram feridas por disparos dos policiais.
Segundo a PM, a confusão começou após homens da GCM perseguirem e prenderem um suspeito de roubo na Alameda Dino Bueno. A GCM então pediu apoio da PM para conter a confusão, após os agentes entrarem no chamado “fluxo”, o trecho da Dino Bueno, entre a Rua Helvétia e o Largo Coração de Jesus, que é totalmente ocupado pelos usuários. A polícia acabou interditando vias da região, como a Avenida Rio Branco no sentido da Marginal do Tietê. O controle de pessoas e veículos se manteve até a noite de ontem.
De acordo com a carta, “foi mais um ataque a populações desprotegidas que estão nas periferias e pontos de interesse do mercado imobiliário. O projeto é apenas eliminar os grupos que demonstram a falência das políticas públicas. A guerra às drogas é novamente a justificativa para o extermínio e o encarceramento dos pobres e negros”. Leia a íntegra da carta ao final.
O R7 apurou que, desde o início da gestão João Dória, usuários de crack e grupos que prestam assistência aos dependentes químicos — inclusive funcionários dos programas Recomeço, do governo do Estado, e do De Braços Abertos, da prefeitura — temem uma megaoperação de limpeza da população que vive naquelas ruas. Isso prejudicaria o trabalho de redução de danos que vem sendo realizado na Cracolândia nos últimos anos.
O clima de incerteza se instalou desde que o prefeito João Doria anunciou, durante a campanha eleitoral do ano passado, o fim do De Braços Abertos, o que não aconteceu até agora. Pelo programa, o dependente químico recebe moradia e remuneração em troca de serviços como varrição de ruas e plantio. O usuário é incentivado a reduzir o consumo de drogas, por meio de acompanhamento multidisciplinar, mas a internação não é exigida.
Em janeiro, a prefeitura declarou que o novo programa de combate ao crack, chamado "Redenção", vai exigir exames antidoping frequentes dos usuários como contrapartida para receberem a moradia. Quem não aceitar correrá o risco de perder o auxílio.
Em fevereiro, Doria afirmou que o Redenção vai "retirar" os dependentes da rua. A remoção seria feita de forma “humanitária”, segundo o prefeito, que não detalhou a ação. Até hoje o programa ainda não foi explicado para a população, sendo adiado mais de uma vez. A expectativa é que seja iniciado no segundo semestre. A técnica de internação forçada já foi aplicada na Cracolândia, sem sucesso.
Leia a carta a seguir:
Contra a Violência Policial na Cracolândia!
A ação repressiva dessa quarta-feira (10/5), na Cracolândia, é mais um episódio da sequência de momentos de extrema violência causados pela Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana (GCM). Foram pelo menos mais dois feridos por arma de fogo, muitas balas de borracha e bombas. O prefeito João Doria insiste em tratar as pessoas que vivem na região e nas ruas de São Paulo como lixo a ser varrido.
Foi mais um ataque a populações desprotegidas que estão nas periferias e pontos de interesse do mercado imobiliário. O projeto é apenas eliminar os grupos que demonstram a falência das políticas públicas. A guerra às drogas é novamente a justificativa para o extermínio e o encarceramento dos pobres e negros.
Defendemos um modelo de atenção que leve em consideração as diferenças e necessidades de cada um, diminuindo os danos causados pelo uso abusivo de substâncias.
Resistimos!
Estaremos desde a madrugada no território para enfrentar e denunciar novas agressões!
Em frente à Estação Júlio Prestes – quinta-feira (11/5). 7h
Craco Resiste
Iniciativa Negra por Uma Nova Política Sobre Drogas
Lampud – Rede Latino Americana e Caribenha de Pessoas que Usam Drogas
Renfa – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
Coletivo DAR – Desentorpecendo a Razão
Aborda – Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos
Abesup – Associação Brasileira de Estudos Sociais sobre o Uso de Psicoativos
Centro de Convivência É de Lei
Frente de Resistência com a rua
Coletivo sem ternos
Marcha da Maconha de SP
Bloc Feminista da Marcha da Maconha de SP
Coletivo Autonomo Dos Trabalhadores Sociais - Catso
Fórum Popular de Saúde de SP
Advogados Ativistas
Casa Rodante
Pimp My Carroça
SP Invisível
Coletivo Doe Um Ouvido
Conexões em Luta
Bem da Madrugada
Pastoral Carcerária
CMI SP
Arrua Coletivo
Casadalapa
Cultive
Minha Sampa
Bancada Ativista