Criadora de "Neguinha do Espanador" se desculpa: "quero homenagear às mulheres negras"
Rita Caruzzo afirma que está vivendo um "pesadelo" e que tudo não passa de um mal entendido
São Paulo|Caroline Apple, do R7
Em entrevista ao R7, a artista Rita Caruzzo, criadora da boneca "Neguinha do Espanador", que ganhou repercussão após movimentos negros acusarem a obra de racismo, pediu desculpas às pessoas que se sentiram agredidas com sua arte e que, na verdade, a intenção é homenagear e enaltecer às mulheres negras. A boneca, doada pela Brinquedos Estrela ao MuBE (Museu Brasileiro de Escultura), faz parte da exposição Mail Art Cupcake Estrela que está em cartaz no shopping Market Place, no Morumbi, zona oeste de SP.
Rita, que afirma ser de origem afrobrasileira, diz que jamais cometeria qualquer agressão contra a própria família e origem.
— Tenho muito orgulho e sempre que eu tiver qualquer oportunidade artística vou enaltecer e homenagear às mulheres negras e isso não pode ser interpretado como ofensivo. Sou uma artista tímida e muito pacífica. Sou totalmente da paz.
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Ao ser questionada sobre o uso das penas de espanador, a artista explica que a escolha foi aleatória e sustentável.
— Não há associação alguma com o espanador de pó como objeto de utilidade e função, apenas como material utilizado na produção, elaboração e na própria confecção da fantasia. Não há qualquer associação no sentido doméstico e, independente da etnia, seria dado o mesmo título, caso fosse uma boneca branca, ruiva ou de origem asiática.
Na semana passada, a artista publicou no Facebook uma nota de esclarecimento que dizia, entre outras coisas, que "os espectadores conseguem formular seu entendimento, uns mais outros menos, de acordo com seu entendimento e nível cultural". O discurso foi visto por integrantes do movimento negro como elitista e excludente.
— Não tenho medo de ser enquadrada como artista elitista, até porque eu própria não sou e essa nunca foi minha realidade. O objetivo da minha arte foi exatamente ao contrário de tudo isso que está acontecendo, que não passa de um mal entendido. Penso sinceramente que tudo isso é um pesadelo, pois tenho muito orgulho da minha origem afrobrasileira e o objetivo da minha boneca foi enaltecer ainda mais a beleza, o charme e a feminilidade da mulher negra.
Mesmo em meio a esclarecimentos sobre a intenção da obra, Rita se defende da acusação de racismo.
— Eu conheço os meus direitos e sei que como artista posso me expressar. Tenho total liberdade de expressão. A falta de clareza nos fatos e a má interpretação da minha obra me deixou muito perplexa. Recebi ameaças e mensagens de ódio e rancor. Precisei até fechar meu atelier. Você constrói uma obra para enaltecer e homenagear e acaba sendo acusada de racismo e preconceito?