Defesa de Mizael Bispo diz que Mércia Nakashima ligou mais de 200 vezes para acusado dias antes de ser morta
Advogado diz que policial reformado "está tranquilo, porém ansioso" para julgamento
São Paulo|Vanessa Sulina, do R7
Pouco mais de dez dias antes de ser morta, a advogada Mércia Nakashima, teria ligado 248 vezes para Mizael Bispo, acusado de ter matado a ex-namorada em maio de 2010. A informação é do advogado de defesa do acusado, Ivon Ribeiro, que disse que estes dados sobre os telefonemas serão explorados no julgamento do policial reformado, que acontece a partir da próxima segunda-feira (11).
Segundo Ribeiro, os dados telefônicos servirão para mostrar que o casal tinha um “ótimo relacionamento”, apesar de estarem separados na época do assassinato. Os dois ficaram juntos por quatro anos e dois meses.
— De 1º a 10 de maio não houve ligações entre eles. Desse dia até o dia 23 [data da morte de Mércia], ele ligou para ela 48 vezes. E Mércia nesse mesmo período ligou 248 vezes. Como podemos afirmar que Mércia rejeitava o Mizael se ela ligou 248 vezes? Tenho e-mails dele conversando com ela e ela dizendo 'bye, bye, beijos, fica com Deus e se cuida' no mês da morte dela. Como essa moça o rejeitava?
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Para o promotor de Justiça, Rodrigo Merli, Mércia ligou diversas vezes ao Mizael para cobrar honorários que ele não estava repassando a ela. Segundo ele, isso também já estava irritando o acusado.
O defensor disse ainda que está tranquilo quanto às declarações do vigia Evandro Bezerra da Silva, que também é acusado de participar do crime. Em depoimento à Justiça, o segurança disse que desconfia que Mizael matou Mércia Nakashima. Ele ainda disse que foi buscar o policial reformado em Nazaré Paulista (cidade em que fica a represa que Mércia foi morta).
— Nunca vi isso na minha vida. Hoje o Evandro se coloca no local do crime, na hora do crime. O que eu vejo é todo mundo querendo fugir do local de um crime.
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De acordo com Ribeiro, Silva foi vítima de tortura policial e, por isso, teria mudado a versão de seu depoimento. Em seus depoimentos anteriores, o segurança negava o crime e também não colocava Mizael como possível assassino.
— Lá em Sergipe, depois que ele [Evandro] foi preso, colocaram ele na cela e disseram que ele só sairia quando concordasse em dizer o que eles precisavam saber. Disseram para ele “bata o pé no chão” quando estivesse pronto. Colocavam sapo na cabeça dele, colocaram fita na boca dele. Ele só respirava pelo nariz.
Fuga e prisão
Mizael Bispo segue preso no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo, desde o fim de fevereiro do ano passado. Ele se entregou à Justiça depois de pouco mais de um ano após ter a prisão decretada.
O policial reformado ficou foragido por um ano e dois meses. Segundo Ribeiro, o sumiço se deu porque Mizael Bispo “estava indignado” com as alegações feitas contra ele no processo. Ainda de acordo com o defensor, o réu não ficou mais do que “500 metros longe da casa dele”, no bairro de Vila Bonsucesso, em Guarulhos, na Grande São Paulo, durante esse período.
Logo depois de se entregar a polícia, a defesa pediu para o réu ficar preso em uma sala de Estado-Maior, espaço estipulado por lei que abriga advogados antes da sentença. Porém, com a dificuldade em se encontrar uma sala como esta no Estado de São Paulo, de acordo com Ribeiro, Mizael preferiu ficar preso no Presídio Militar Romão Gomes.
— Depois de ter ficado isolado tanto tempo [por causa da fuga], ele preferiu ficar no Romão Gomes por causa do isolamento. Para não ficar sozinho.
O júri
Com a proximidade do júri, Mizael está “ansioso, porém tranquilo”, conforme explicou seu advogado. Segundo Ribeiro, Mizael tem um relacionamento tranquilo com os presos “dentro do que é possível por ser uma cadeia”.
Durante todo o período em que responde ao processo pela morte de Mércia Nakashima, o policial reformado continua ligado a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) já que, para receber alguma punição do órgão, é necessário que ele seja condenado e não caiba mais nenhum tipo de recurso. Ele também continua recebendo sua aposentadoria em conta conjunta com sua ex-mulher, já que eles têm juntos uma filha de 12 anos, como explicou seu defensor.