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Defesa usa antropóloga para tentar desmitificar imagem ruim de Gil Rugai

Quando questionada por promotor, testemunha afirmou que não leu processo

São Paulo|Vanessa Sulina, do R7

Gil Rugai está sendo julgado pelo assassinato do pai e da madrasta
Gil Rugai está sendo julgado pelo assassinato do pai e da madrasta ADRIANO LIMA/ESTADÃO CONTEÚDO

Durante uma hora em que foi ouvida no plenário do júri do caso Gil Rugai, no começo da tarde desta quarta-feira (20), a antropóloga da USP (Universidade de São Paulo) e advogada Ana Lucia Pastore trouxe elementos acadêmicos de seu doutorado sobre Tribunal de Júri para tentar desmitificar a imagem negativa do acusado. Ela, que foi a terceira testemunha de defesa de hoje, fez um estudo sobre julgamentos após, segundo ela, passar quatro anos assistindo a diversos julgamentos.

Logo no começo de seus questionamentos, o advogado do ex-seminarista,Thiago Anástácio, perguntou à especialista o que ela achava da polícia ter pegado uma carta de uma amiga de Gil Rugai “dando a entender” que ele deveria assumir que era homossexual. Ele perguntou qual a relevância que isso teria nas investigações.

— Construir um papel negativo do acusado. Não interessa a polícia este dado.

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Defesa de Gil Rugai tenta mostrar lacunas na perícia

Após este momento, Anastácio contou a ela que a perícia deixou de fotografar partes da cena do crime, mas se atentou a fazer imagens do quarto e das gavetas do ex-seminarista. A antropóloga, então, disse que “qualquer coleta de dados é regida por princípios”.


— Havia uma tese de que aquilo poderia ser relevante. No caso Gil Rugai estão em construção narrativas pautadas em estereótipos e valores sociais para compor o cenário, já que faltam elementos materiais.

Sobre a imagens que relacionavam Gil ao nazismo, como bandeiras com suásticas, ela comentou que “imputar uma pessoa como nazista” pode ser prejudicial ao réu, já que isso não é moralmente aceitável.


A defesa ainda questionou a especialista da USP se a pessoa que não chora em algum momento triste quer dizer que ela não está triste. Na época do crime, o comportamento frio de Gil Rugai sobre a morte do despertou na polícia uma desconfiança sobre o ex-seminarista.

— Nem todos os que choram estão tristes. Como nem todos que não choram não estão triste. Pensar dessa forma é um equívoco.

Dúvida sobre o crime

Antes de falar especialmente sobre o caso Gil Rugai, a antropóloga ainda disse que na Justiça brasileira há um principio de que na dúvida sobre se o réu cometeu ou não um crime deve ser absolvido. Ela também comparou o júri brasileiro ao júri francês, em que, no segundo, o júri é composto por três juízes togados e mais seis jurados (representantes da sociedade).

— Lá, há possibilidade de debates, aqui não. Há incomunicabilidade entre os jurados. Na França, quando eles se reúnem para dar o veredito, eles se comunicam, trocam ideias e os três juízes togados também participam da votação.

Apesar de todas suas explicações, Ana Lucia respondeu ao promotor de Justiça, Rogério Zagallo, que não leu as páginas do processo e que conhece o caso apenas por notícias da mídia.

— Da mesma forma que não li [o processo], os jurados também não.

A resposta incisiva da testemunha provocou uma saia justa entre ela e a defesa, já que anteriormente, Ana Lucia disse que suas análises não eram apenas “abstrações” universitárias — como havia dito Zagallo — e que são relevantes para serem trazidas a júri.

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