Em último depoimento desta terça-feira, defesa de Gil Rugai tenta mostrar lacunas na perícia
Advogados do réu usaram informações sobre posição de cartuchos disparados no local do crime
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
Iniciado pouco antes das 20h de terça-feira (19), o depoimento do perito Alberi Espindola foi o primeiro do rol de testemunhas convocadas pela defesa do ex-seminarista Gil Rugai, acusado de matar o pai e a madrasta em 2004. Uma das estratégias dos advogados do réu foi mostrar supostas lacunas na perícia feita durante a investigação do caso.
Uma imagem da entrada da sala de TV onde Luiz Carlos, pai de Gil teria se trancado – o corpo dele foi encontrado fora do cômodo –, foi exibida no plenário. Ela mostrava que no local havia três cápsulas deflagradas. Duas delas estavam alinhadas na entrada (um projétil estava na horizontal e outro, na vertical).
A defesa destacou o fato de os cartuchos estarem paralelos. De acordo com a testemunha, que foi ex-presidente da Associação Brasileira de Criminalística, o alinhamento chamava a atenção e indicava que a trajetória do cartucho havia sido interrompida. O perito destacou que se os dois cartuchos estavam em paralelo, a possibilidade de não haver um obstáculo na frente deles seria raríssima. O objetivo dos advogados de Rugai foi mostrar por qual motivo este alinhamento não foi considerado durante a perícia do caso.
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Ao começar a fazer perguntas para a testemunha, o promotor Rogério Zagallo enfatizou que Espindola apresentava uma versão (a de que a porta estava fechada no momento em que as vítimas foram atingidas) que nunca foi cogitada. Ele ressaltou o fato de a testemunha não ter estudado o processo e questionou por que o assassino se preocupou em arrombar a porta depois de matar o casal, ao invés de fugir.
Lembrou ainda que a TV na sala estava ligada, com chuvisco, e que havia um recipiente com sobremesa com as digitais de Luiz Carlos. A comida, segundo o representante do Ministério Público, seria recente.
— A troco de que a TV estava ligada com a porta trancada?
Por fim, Zagallo perguntou se a testemunha excluía a chance de a vítima ter se trancado antes de ser alvejada. O perito respondeu que havia a possibilidade.
Relembre o caso
O publicitário Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e sua mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33 anos, foram assassinados a tiros dentro da casa onde moravam em Perdizes, zona oeste de São Paulo no dia 28 de março de 2004.
Alessandra foi baleada cinco vezes na porta da cozinha, segundo laudo da perícia. Luiz Carlos teria tentado se proteger na sala de TV. A pessoa que entrou no imóvel naquela noite arrombou a porta do cômodo com os pés e disparou quatro vezes contra o publicitário.
O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai, na época com 20 anos, ao ver o pai e a madrasta mortos chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar dele.
Os peritos concluíram que a marca encontrada na porta arrombada era compatível com o sapato de Rugai, que, ao ser submetido pela Justiça a radiografias e ressonância magnética, teria apresentado lesão no pé direito.
Na mesma semana do duplo homicídio, os policiais encontram no quarto do rapaz, um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato do casal.
As investigações apontaram ainda que ele teria dado um desfalque de R$ 228 mil na empresa do pai, a Referência Filmes, falsificando a assinatura do publicitário em cheques da firma. Poucos dias antes do assassinato, ele foi expulso de casa.
Um ano e três meses após o duplo homicídio, uma pistola foi encontrada no poço de armazenamento de água de chuva do prédio onde o rapaz tinha escritório, na zona sul. Segundo a perícia, seria a mesma arma de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas.
Rugai responde pelo crime em liberdade e será julgado por duplo homicídio qualificado por motivo torpe.
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