Exclusivo: polícia encerra investigação da morte de família de policiais
Após muitas polêmicas, relatório confirma que Marcelo Pesseghini cometeu os crimes
São Paulo|Lumi Zúnica, especial para o R7
Nove meses após a morte de cinco integrantes de uma família de policiaIs militares em São Paulo, que ficou conhecida como caso Pesseghini, o delegado Charlie Wei Ming Wang, titular da 3ª Delegacia de Polícia de Crimes Múltiplos da Divisão de Homicídios de São Paulo, encerrou as investigações e encaminhou à Justiça, na última sexta-feira (16), o relatório final que resume os dez volumes do inquérito.
Após muitas polêmicas, o caso foi encerrado com a confirmação de que Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13 anos, matou o pai, a mãe, a avó e a tia-avó, e se matou pouco depois de cometer os crimes.
Os corpos, encontrados em 5 de agosto de 2013, numa residência da Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, eram do garoto Marcelo Pesseghini; da mãe dele, o cabo da Polícia Militar Andreia Bovo Pesseghini; do pai, o sargento da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Luís Marcelo Pesseghini; da avó, Benedita Oliveira Bovo; e da tia-avó, Bernadete Oliveira da Silva.
Na época, a Polícia Civil afirmou que o autor das mortes foi o adolescente Marcelo, que teria se matado após cometer os crimes.
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Conheça, com exclusividade, os detalhes da investigação e do relatório final:
Comportamento do garoto
As músicas ouvidas por Marcelo o definem como fã do MC Daleste, Bad Boys e Cazuza. Nos jogos eletrônicos, seu preferido era “Assassin's Creed”, jogo sobre matadores, e os filmes assistidos com mais frequência eram Cavaleiro Solitário, Wolverine, Resident Evil, Django e Dr. Dolittle.
Em casa, gostava de praticar tiro ao alvo com uma espingarda de chumbinho. Acertava cabos de vassoura, embalagens de Yakult e animais, o que foi repreendido pela mãe, que lhe deu um alvo de isopor para não mais machucar os bichos. Marcelo, no entanto, continuou a acertar animais, e Andreia tomou dele a espingarda, provocando a ira do adolescente, que a ameaçou de morte. O garoto também sabia atirar com a arma do pai, uma pistola calibre .40, conforme relatos de várias testemunhas, que afirmam que ele acertava um alvo a oito metros de distância.
Outra habilidade de Marcelo era dirigir, o que, segundo testemunhas, fazia com frequência instruído pela mãe, caso viesse a acontecer alguma emergência médica.
Entre as brincadeiras praticadas com os colegas de aula e por eles relatadas, Marcelo costumava brincar de esfaqueá-los com uma régua, segurando-a do mesmo modo que o personagem do jogo de videogame “Assassin´s Creed” o fazia. Também empunhava um esquadro como se fosse uma arma e dizia que tinha o jeito certo de segurar, ou o tranco machucaria o atirador. As brincadeiras chegaram a ser repreendidas por colegas algumas vezes, originando ameaças de morte contra eles. Questionado pela coordenadoria pedagógica, afirmou se tratar de uma brincadeira.
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Durante uma dessas brincadeiras, Marcelo confessou a um colega que tentou matar a avó, Benedita, dias antes, mas que não conseguiu porque começou a tremer, e ela percebeu as intenções dele. O neto pediu a ela que não contasse aos pais. Benedita concordou, desde que ele não fizesse mais aquilo.
Segundo os colegas, Marcelo sempre contou seu desejo de matar os pais, se tornar um mercenário e fugir para viver numa construção abandonada.
O Dia das Mortes
Por volta das 12h do dia 4 de agosto de 2013, um domingo, Marcelo e os pais foram até um shopping, de onde retornaram às 19h, mesmo horário em que Evaneide, tia de Marcelo, foi visitar a mãe Bernadete e a irmã Benedita, que moravam em uma casa do mesmo terreno da família Pesseghini. Nessa tarde, Marcelo telefonou para o amigo “M” afirmando que mataria os pais esse dia, e perguntou como seria fugir de casa.
Em torno da 0h, vizinhos escutaram dois estampidos, com intervalos de dois a quatro segundos aproximadamente. Em seguida, a luz da sala foi acessa, e quase dez minutos depois, outros três estampidos foram escutados com intervalos semelhantes aos primeiros. Ninguém deu importância, pensando se tratar do barulho de escapamento de motos.
Câmeras de segurança registrariam depois Marcelo estacionando o carro da mãe por volta da 1h da madrugada da segunda-feira, próximo da escola, e só saiu do veículo às 6h, para assistir às aulas. Ele estava com uma mochila nas costas.
Na escola
Diabético, Marcelo nunca deixou de levar lanche na escola mas, nesse dia, os colegas perceberam a falta. Durante a aula, confessa ao amigo “R” que matou os pais, mas não é levado a sério. Minutos depois, faria a mesma confissão ao amigo “G”, para quem mostra as chaves do carro e o cartão de crédito da avó, e pergunta se ele sentiria sua falta caso morresse.
Outro amigo, “A”, toca a cintura de Marcelo e percebe que este carrega algo duro do lado esquerdo. Marcelo diz que não é nada. Por último, informa a uma amiga que está armado.
Nesse dia Marcelo, não levou o material escolar e disse para colegas e professores que confundiu a mochila com outra de viagem. Em determinado momento, ameaçou os colegas, caso alguém mexesse nela.
Quase ao fim das aulas, Marcelo conversou com a zeladora da escola dizendo que iria embora sozinho, com autorização da mãe, e mostrou as chaves do carro. A zeladora não autorizou a saída e o encaminhou até a direção. Quando a diretora disse que ligaria para Andreia para confirmar a história, ele desistiu.
No fim das aulas, Marcelo saiu com outros dois amigos e caminharam até o carro estacionado. Ali, ele ofereceu carona e mostrou as chaves. Os amigos não deram importância. Marcelo retornou à escola e, logo depois, saiu de carona no carro do pai de outro amigo. Ele pediu para parar ao lado do carro da mãe. Desceu, pegou o controle da entrada da garagem de casa e retornou ao carro da carona. Ao chegar na residência, pediu para não buzinar porque a avó estava dormindo. O adolescente se mataria logo após.
O relatório concluiu que Marcelo matou a família e, depois de ver que seus colegas não iriam aderir à empreitada de fugir de casa para serem matadores, ele se suicidou.