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Um grupo de 300 mulheres negras foram ver juntas o filme "Estrelas Além do Tempo", sobre a participação fundamental de cientistas afro-americanas na NASA durante a corrida espacial, no começo deste mês em uma sala de cinema, na zona Oeste da capital.
Gisa Senna/Divulgação
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O encontro, planejado e executado pela advogada Mayara Souza, de 24 anos, fez parte das atividades e eventos do grupo “Negras Empoderadas”, que começou como uma pequena reunião de amigas e se tornou, em pouquíssimo tempo, em um importante e inflamado fórum de debates e articulações sociais e políticas.
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A história do filme, sobre a visibilidade das mulheres negras na sociedade americana, estabelece um paralelo muito expressivo com o cotidiano de lutas e desafios dessas brasileiras independentes, corajosas, vibrantes e dispostas a mudar o mundo, derrubando por terra preconceitos e barreiras.
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A troca de ideias e experiências no grupo é muito enriquecedora pois, apesar dos pontos em comum, são mulheres de perfis e histórias de vida diferentes. Cada uma contribuindo como pode para o crescimento coletivo e vitórias pessoais.
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O grupo reúne advogadas, médicas, apresentadoras de TV, artistas, empresárias, executivas, empreendedoras, estudantes. Muitas delas não se conheciam pessoalmente até o dia da sessão de cinema, porém, pela internet e pelas mensagens no celular, criaram fortes laços de amizade e solidariedade.
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“A ideia de unir mulheres negras foi fantástica, pois me fez enxergar que existem outras mulheres que passam pelas mesmas coisas que eu passo, diariamente”, disse a secretária executiva Ana Lúcia Bernardes, que precisa enfrentar olhares preconceituosos quando está passeando em um shopping da zona Sul ou dirigindo o seu carro importado.
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“Trata-se de um momento importante para a mulher negra, em especial para a brasileira. É a hora de mostrar o seu valor. A mulher pode e deve apropriar-se de tudo o que deseja. Foi espetacular a ideia de reunir 300 mulheres negras para ver este filme. Militantes ou não, foi possível perceber que todas saíram dali com uma carga adicional de motivação”, disse a maquiadora Taís Estáquio, 33 anos, que achou interessante a abordagem crítica do filme em relação ao racismo e ao machismo. “Tem sua carga comercial hollywoodiana, porém, conseguiu tratar com sucesso essas questões, completou.
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“O grupo ajuda para que todas nós, mulheres de diversos lugares do Brasil, fiquemos sabendo que não estamos sozinhas, que existem mulheres negras lutando, crescendo e alcançando grandes conquistas. As mulheres negras também exercem posições de destaque na sociedade, diferentemente da imagem que é imposta, sempre em condições de inferioridade”, disse Lilian Machado, administradora de empresa, que foi ver o filme com a mãe.
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A psiquiatra Telma Nascimento achou o filme maravilhoso. “A educação e a inteligência podem romper barreiras. Elas foram mulheres sensacionais que lutaram por seus objetivos. São exemplos que devem ser conhecidos e seguidos”, disse a médica, que levou a irmã (engenheira) e a mãe de 81 anos que é artista plástica. “Adoramos ver tantas mulheres negras, belíssimas, maravilhosas, com seus cabelos crespos naturais e com as cabeças erguidas. Juntas somos mais fortes”, disse.
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A organizadora do encontro, Mayara Souza, avaliou como muito positiva a reunião. Foi uma oportunidade para se discutir e analisar alguns pontos específicos que reforçam racismo na sociedade, por exemplo, a própria tradução do título do filme para o português. Do título original, a tradução literal seria “figuras escondidas”.
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“Na minha opinião O título em português romantiza o racismo, na tentativa de silenciar o nosso grito, algo que infelizmente é recorrente quando o assunto é racismo aqui no Brasil. Não temos dúvidas da dificuldade histórica em falar sobre racismo, "Figuras escondidas" levaria qualquer pessoa à uma reflexão sobre o tema, "Estrelas além do tempo" já não permite uma reflexão tão objetiva e rápida, caso você não faça parte de nenhum movimento ou participar de grupos que estão abertos as questões raciais dificilmente só com a leitura do título poderá perceber a intensidade da mensagem passada”, disse Mayara.
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A questão da adaptação do discurso político do filme foi um dos motivos para a realização do encontro. “Achei importante assistir ao filme com outras mulheres negras, a fim de não deixar ruídos nas mensagens passadas no filme”, disse Mayara.
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Criada em novembro de 2015, no consulado francês em São Paulo, por 23 mulheres negras de diversas áreas de atuação, a rede Negras Empoderadas tem como objetivo criar espaços de construção e transformação. Atualmente, o grupo tem quase cinco mil integrantes
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"Quando assisti o trailler do filme fiquei imaginando que lindo seria poder assistir ao lado de outras mulheres negras para podermos nos abraçar e chorarmos juntas. Choro de emoção, luta e resistência e ter a certeza que não estamos sozinhas, embora em grande parte do tempo nos sentimos sozinhas", relembrou Mayara
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Mayara também conta como foi que surgiu o grupo. "Ele nasceu de uma conversa no dia 24 de novembro de 2015 no consulado Francês. Alexandra Loras, à época consulesa, convidou um grupo de mulheres negras para a criação de uma rede para nos fortalecermos e criamos espaços de construção e transformação com ajuda da Solange Barros e Elis Santana. Naquela noite, 23 mulheres estavam no encontro, trocamos muitas energias e nos enchemos de amor. Estavam lá: Eliane Dias, Adriana Lessa, Rachel Maia, Karine Amancio, Glaucia Unal, Márcia Cabral, Anelis Assunção, Thulla Melo, entre várias outras mulheres incríveis. Eu havia conhecido Alexandra naquela manhã num evento sobre Justiça Restaurativa, no prédio da Faculdade de Direito da USP, e ela me convidou para o encontro, fui e desde de então estamos juntas.
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O grupo também é protagonista em ações de combate ao racismo. "No ano passado, soltamos uma nota de repúdio contra a esponja de aço do programa BBB 2016 [que representava uma mulher negra]. Diariamente temos notícias de violências, racismo e machismo, infelizmente não podemos atuar em todos os casos, mas estamos juntas e isso é muito importante pois muitas vezes a mulher negra é sozinha mesmo que tenha um relacionamento sério e uma vida social agitada, só outra mulher negra entende de verdade nossas questões particulares, identidade de grupos e representação", disse Mayara
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