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Três crimes e uma só via: a avenida Ricardo Jafet, unida à avenida Professor Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo, já foi palco de delitos que tiveram grande repercussão e marcaram a vida de muitas pessoas
Montagem/R7
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O primeiro deles aconteceu em 2002 quando a então adolescente Suzane von Richthofen arquitetou a morte de seus pais. Tudo aconteceu com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Cristian Cravinhos. O casal Marisia e Manfred estava dormindo em casa quando foi brutalmente assassinado pelos homens, que foram levados até sua casa pela própria filha. Ela deu sinal verde para que eles entrassem no quarto e realizassem o crime
Sérgio Castro/12.11.2002/Estadão Conteúdo
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A história é conhecida. Mas o álibi que os criminosos pretendiam usar para tentar fugir da culpa é um dos detalhes mais sórdidos: Suzane e Daniel foram para o motel Colonial, que fica no número 966 da avenida. Lá, eles pagaram R$ 380 para ficar na suíte presidencial do estabelecimento de luxo e só saíram do local às 2h56. Enquanto esperava o irmão e a cunhada, Cristian comeu um lanche no McDonald’s
Eduardo Enomoto/R7
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A região é velha conhecida dos namorados da zona sul. Lá, é possível encontrar diversos motéis, dos mais simples aos mais luxuosos. Suzane fez questão de escolher um dos mais suntuosos. O motel chama a atenção por ter uma fachada bonita. Além disso, até mesmo os quartos mais “simples” são marcantes pelo ar majestoso
Eduardo Enomoto/R7
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O segundo caso emblemático ligado à avenida aconteceu um ano depois de Suzane matar os pais. Em 2003, o rapper Sabotage levou quatro tiros e morreu em frente à casa número 1.877. Como levava a mulher até o trabalho todos os dias, ele passava sempre pelo mesmo local. Porém, no dia 24 de janeiro, Sirlei Menezes da Silva, o assassino do músico, estava esperando a sua chegada
Tiago Queiroz/22.08.2002/Estadão Conteúdo
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Em 2010, Silva foi condenado pela morte que teria acontecido por vingança devido ao envolvimento do rapper com o tráfico de drogas na região da Favela da Paz, também na zona sul. A moradora da casa em que Sabotage caiu morto diz que mora no mesmo local há 40 anos e que logo que mudou para lá foi vítima de dois assaltos. Ela diz que, depois, a situação melhorou, mas a região não deixou de ser perigosa
Eduardo Enomoto/R7
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Ela diz que, no dia em que o rapper foi morto, ela tinha acabado de acordar e estava na cozinha quando “ouviu tiro”. A senhora diz que, naquela época, isso era muito comum lá e que, por isso, não estranhou. O verdadeiro susto foi quando ela saiu de casa para ir até a padaria e viu o corpo do músico estendido no chão, perto de uma lixeira que fica na porta da casa.
— Foi aqui na porta de casa. Foi nessa lixeira que ele morreu. Quando saí vi a polícia aí, assustei. Falei: “o que é isso”? Aí o PM falou pra mim quem era e disse que estavam esperando ele. Fizeram uma emboscadaEduardo Enomoto/R7
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A moradora da casa diz que só agradece pelo fato de os netos, na época com quatro e cinco anos, não estarem lá naquele momento. Ela diz também que até chegou a ser chamada para depor a respeito do crime, mas que não teve como ajudar muito: “Eu não vi nada. Só ouvi, né”?
Itamar Miranda/19.02.2002/Estadão Conteúdo
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Ela também diz que a lixeira em que Sabotage caiu morto serve como ponto de peregrinação para uma jovem que, segundo a moradora, é filha dele. A senhora diz que, em todo aniversário dele, ela passa por lá e acende velas em memória do pai morto.
— Ela fica aí. Dá dó porque ele era um moleque [Sabotage morreu aos 29 anos]. Nunca soube de ele ser envolvido com a criminalidade. Me chamaram para prestar depoimento. Mas eu vou falar o que?
O vendedor Quintino Pimentel Martins também mora na região em que o músico morreu e diz que se lembra do dia da morte como se fosse hoje: “Deram um bocado de tiro”Itamar Miranda/19.02.2002/Estadão Conteúdo
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O terceiro caso ligado à avenida e o mais recente dos três é o do jovem que arrancou o braço de um ciclista na avenida Paulista e depois “jogou o membro fora” para que não existissem provas contra ele.
Em 2013, o estudante Alex Kozloff Siwek estava voltando de carro de uma balada. Ele estava bêbado. Quando chegou na altura da estação Brigadeiro do Metrô, ele atropelou o ciclista David Santos SouzaReprodução/Rede Record
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Com a força da batida, o braço de David foi arrancado. Alex não prestou socorro à vítima e deixou o ciclista lá, no chão. Além disso, ele levou o membro embora. Quando percebeu o que tinha acontecido, o estudante resolveu se “desfazer” da prova de seu crime e jogou o braço no córrego Ipiranga, que fica na mesma avenida em que Suzane e Sabotage estiveram mais de dez anos antes.
Alex chegou até a fazer uma reconstituição do crime. O membro de David nunca foi encontrado. Depois de terem sido feitas as buscas pelo braço, ficou-se sabendo que o membro poderia ter sido reimplantado. O que nunca aconteceuEduardo Enomoto/R7
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O ciclista ganhou uma prótese e, hoje, trabalha e estuda. O atropelador teve, recentemente, a sua pena reduzida. Ele não ficará preso e, em oito meses, poderá voltar a dirigir.
A região conhecida pelos crimes “famosos” também causa vários tipos de problemas para os moradores locais. Eles vão desde assaltos e sequestros, até enchentes do córrego em que o braço de David foi arremessadoReprodução/Rede Record
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Os moradores não negam o medo que sentem. De acordo com uma moradora do local que prefere não ter seu nome publicado, por conta da criminalidade, ela só sai por lá de noite se alguém a levar de carro blindado.
— Eu nunca tive medo de nada. Eu chegava de madrugada em casa, mas hoje em dia eu tenho medo até de ir ao teatro e voltar pra casa.
O segurança da rua onde Sabotage morreu fala sobre o fato de a avenida ser conhecida também pelo shopping Plaza Sul. Isso, segundo ele, facilita a ação de bandidos.
— Aqui é perto de shopping. Os caras vêm tudo de Diadema e de Santo André para roubar. Eles vêm roubar em canto de rico. Mas polícia tem. Agora mesmo passaram dois policiais de bicicleta. Tem polícia. Mas o problema é que é muito ladrão para pouca políciaEduardo Enomoto/R7
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O córrego que corta a avenida transborda frequentemente, causando transtornos para os moradores da região. Por conta da poluição no que era um rio, muitas pessoas já perderam casa e bens em inundações que acontecem em época de chuvas.
Outra reclamação dos moradores da perigosa avenida é que os carros são roubados a todo o momento. De acordo com Horácio Calabrese, que também mora na região, toda vez que alguém sai de casa de carro tem que prestar atenção nos ladrõesMontagem/R7