Dez dias após ocupação, Copa do Povo reúne 7.000 pessoas: “nós vamos resistir até o fim”

MTST se reúne com a prefeitura nesta quarta-feira para tentar negociação

São Paulo|Do R7

14/05/2014 - 00h15 (Atualizado em 20/04/2024 - 08h03)

Há cerca de três anos, Laura Cristina, de 26 anos, pegou uma mochila e falou para a mãe: "vou atrás de alguma coisa para gente". Foi assim que ela entrou no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e participou de uma ocupação. Na semana que vem, ela recebe da Prefeitura de São Paulo um apartamento. Histórias como a de Laura motivam as pessoas que possuem uma barraca no terreno de 150 mil m², a menos de 4 km do Itaquerão, que está ocupado desde o dia 3. O número de acampados já chega a 7.000.

A auxiliar de limpeza é voluntária na ocupação e é responsável por vigiar, durante toda madrugada, as fogueiras do local para evitar possíveis acidentes.

— As histórias de vida aqui são todas iguais. Os nossos sonhos são os mesmos e as necessidades parecidas. Tem que ter muita coragem para se enfiar debaixo de uma lona quente e suportar o calor, a sede e a falta de energia

Reportagem: Sylvia Albuquerque, do R7

Nesta quarta-feira (14), líderes do movimento se reúnem com representantes da prefeitura para tentar uma negociação. O acampamento, batizado de "Copa do Povo", é dividido em oito grupos. Cada um tem seus coordenadores, que são responsáveis por cadastrar as famílias em uma lista de controle do próprio MTST

Uma das líderes, Maria das Dores, diz que o proprietário do terreno está disposto a negociar com a prefeitura e ceder o local para construção de casas populares. Apesar disso, a hipótese de uma reintegração de posse não está descartada.

— Nós vamos resistir até o fim. Se quiserem nos tirar daqui, também vamos para cima.

No detalhe da foto, uma tomada abastece uma cozinha coletiva do acampamento. O "gato" foi feito somente nas áreas de menor risco de incêndio

A maior parte dos ocupantes trabalha, por isso abandona suas barracas
ao longo do dia. Outra parte opta por dormir em casa e voltar ao
acampamento de manhã. Quem passa 24 horas no local, tenta de alguma
maneira deixar o espaço com cara de lar

Aline Pereira passa o dia no acampamento com os três filhos, sendo a menor de dois meses. O marido dela trabalha e fica responsável por dormir na barraca. Ela disse que é difícil a rotina com as crianças, principalmente pela falta de água

Na última terça-feira (6), o R7 esteve no terreno, que ainda era ocupado por 1.800 famílias. As barracas estão sendo diminuídas de tamanho para abrir espaços para novas. Ao fundo, o estádio Itaquerão, onde será o jogo de abertura da Copa do Mundo

Novas famílias chegam o tempo todo à ocupação e querem barracas, que podem significar a posse de um imóvel no futuro. Antônio Marcelino, de 67 anos, chegou ao terreno enquanto a reportagem estava lá.

— Você luta e no final da idade não tem nem uma casa para descansar.

O idoso foi orientado a procurar um dos 29 coordenadores que dividem os espaços para as montagens da barraca

As doações chegam de moradores dos bairros vizinhos. São aceitos alimentos, remédios e roupas

Cada barraca, feita de lona, é identificada com um número e um grupo, o que significa que pertence a um coordenador específico

São oito cozinhas coletivas que distribuem alimento e água

O acampamento tem um regulamento rígido, que impede o uso de drogas, barulho após às 22h, brigas, além de outras regras

Os coordenadores fazem trilhas durante o período da noite para evitar fogueiras e velas que podem dar início a incêndios

Valdirene, a Tuca, é bastante popular na ocupação e circula com uma lista de presença. Alguns ocupantes instalaram barraca, mas não apareceram mais no terreno

Beatriz Matos participa de ocupações há três anos e nunca conseguiu uma casa. Ela, o marido e o filho passam 24 horas por dia no local

Na ocupação, tudo tem horário. O almoço é servido pontualmente das 12h às 13h

Todos os dias, às 19h, acontece uma assembleia para discussão dos problemas da ocupação e para os líderes do movimento passarem seus avisos

Há cerca de três anos, Laura Cristina, de 26 anos, pegou uma mochila e falou para a mãe: "vou atrás de alguma coisa para gente". Foi assim que ela entrou no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e participou de uma ocupação. Na semana que vem, ela recebe da Prefeitura de São Paulo um apartamento. Histórias como a de Laura motivam as pessoas que possuem uma barraca no terreno de 150 mil m², a menos de 4 km do Itaquerão, que está ocupado desde o dia 3. O número de acampados já chega a 7.000. A auxiliar de limpeza é voluntária na ocupação e é responsável por vigiar, durante toda madrugada, as fogueiras do local para evitar possíveis acidentes. — As histórias de vida aqui são todas iguais. Os nossos sonhos são os mesmos e as necessidades parecidas. Tem que ter muita coragem para se enfiar debaixo de uma lona quente e suportar o calor, a sede e a falta de energia Reportagem: Sylvia Albuquerque, do R7

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