Improviso e oportunidade de negócios viram armas de paulistanos em tempos de torneira seca
Veja como alguns moradores estão enfrentando a maior crise hídrica da história da capital
São Paulo|Do R7
Neste domingo (25), a maior cidade do País completa 461 anos, e tem entre seus mais urgentes desafios superar a pior crise hídrica desde a sua fundação. Apesar de o discurso oficial recusar o rótulo racionamento, moradores de diferentes regiões do muni...
Neste domingo (25), a maior cidade do País completa 461 anos, e tem entre seus mais urgentes desafios superar a pior crise hídrica desde a sua fundação. Apesar de o discurso oficial recusar o rótulo racionamento, moradores de diferentes regiões do município estão sendo obrigados a se adaptar à rotina de escassez de água, conforme já havia mostrado o R7 em outubro de 2014. Nos últimos meses, a situação vem se agravando. Desde 11 de janeiro deste ano, o volume do Sistema Cantareira, principal manancial do Estado e responsável pelo abastecimento de grande parte da região metropolitana, passou a cair ininterruptamente. No dia em que o aniversário de São Paulo é comemorado, o nível do reservatório atinge 5,1% da capacidade, o mais baixo já registrado. A questão pluviométrica dá um contorno ainda mais preocupante ao cenário. O acumulado de chuvas em janeiro até agora equivale a menos de um quarto do esperado para todo o mês. Como consequência, desde o dia 1º, o reservatório já perdeu quase 2% do volume de armazenamento. A Sabesp capta água da segunda cota do volume morto do Cantareira *Reportagem: Ana Cláudia Barros, do R7
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![Disciplinada, Neide é linha dura na hora de gerenciar o consumo de água da casa. Com bom humor, afirma que fiscaliza o banho do marido e dos filhos, que deve durar, no máximo, cinco minutos — e tem que fechar o chuveiro na hora de se ensaboar.
— Coloquei um relógio no banheiro para o meu marido. Ele vai para o banheiro e esquece [...] Se eles demoram, vou lá e bato na porta
Ela conta ainda que mudou a rotina da casa para se ajustar à crise.
— Antes, fazia comida todos os dias. E depois tinha que lavar a louça, limpar fogão, pia, chão, o que gastava muita água. Agora, faço uma panela de feijão, uma de arroz e faço um monte de mistura de uma vez. Ponho na geladeira. Depois, são só os pratos [para lavar].](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/E5H3K7VUKVK67BQKUAEAWYXPGY.jpg?auth=ec9c9fea2b828d317cfbd32a4ec5f451da40027e950b967f4e6d060fc6cbb4d6&width=1200&height=1800)
![Para a empresária Antônia Lima Bueno Grahl, 63 anos, apesar dos transtornos, a crise hídrica não tem sido propriamente um mau negócio. Dona de lojas na região central da franquia francesa 5àsec, especializada na lavagem a seco de roupas (feita exclusivamente com produtos químicos), ela afirma que a procura pelo serviço aumentou em torno de 20% nos últimos meses. Ela tem a franquia há 15 anos e prevê dias ainda mais prósperos.
— E acho que vai aumentar mais ainda [a demanda]](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/3CLVRHVIV5NDVIG6WF4PIP6EKI.jpg?auth=9d98c5e3982000b5526b3bcb7739bc374b7ff5082f5d3fec305e53096b91ee23&width=1200&height=800)




![Nora de Sônia e moradora de uma casa no mesmo quintal, a
diarista Eliene Santana Zotto, 34, usa a água da máquina de lavar para dar
descarga e limpar a casa. Até a que cai do chuveiro durante o banho é
recolhida.
— A gente faz o que pode.
Eliene diz temer que a falta de água tenha impacto no seu trabalho como diarista.
— Se não trabalhar, eu não ganho. Se não tiver água, vou ter
que voltar para casa e perder o meu dia. Isso vai me prejudicar.
Revoltada com a situação, Sônia diz que não há muito o que
celebrar no aniversário de São Paulo.
— Não é possível nem dar parabéns [para a cidade].
Tem que dar pêsames. Na situação em que estamos, não dá para comemorar](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/2G5TJKIOKFI7ZPUZ6HL5P2QTZQ.jpg?auth=87f6b56a02745b53262570c1a0f99c27b3033ee7d419812da132f8a1b26acdfb&width=1200&height=800)

![Já em 2009, Mendes, que teve um lava-jato tradicional,
pensava que a lavagem de carros com água “estava com dias contados”.
— O que aconteceu a partir do momento em que
começou a ter essa crise hídrica? Houve um aumento em torno de 30% na procura
em todas as lojas da AcquaZero
localizadas em locais que sofrem com o problema do racionamento. No
resto do País, também houve aumento [...] A crise também trouxe mais
interessados na franquia. A procura aumentou mais de 100%, comparado a 2013.
Evandro oliveira, 36 anos, sócio de Mendes, diz que atualmente há fila de espera para obtenção da franquia](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/3ULRO3H73ZMRRJKHHAZROU34XA.jpg?auth=3f7fd45b13d471e97619e6c0d7dd5a7f0154ba7eb19ef8dfe74aae55f341d1ad&width=1200&height=800)


![O auxiliar de farmácia Renato Oliveira, 41 anos, morador
da rua Maestro Ernesto Lahos, Cidade
Patriarca, na zona leste, ficou sem água de sábado (17) até terça-feira (20). Ele, a mulher e os filhos pequenos tiveram que tomar banho e lavar roupa na casa de parentes.
As altas temperaturas registradas naqueles dias só
aumentaram o desconforto da família. Com medo de enfrentar novamente a falta de
água, ele decidiu se precaver. Na quarta-feira (21), comprou uma segunda caixa
d’água.
— Comprei uma segunda caixa d’água e deixei embaixo. E
comprei também uma bomba de sucção para puxar para a caixa de cima. Não quero
passar por isso de novo [...] Você chega em casa de manhã, quer tomar banho e
não tem água. Aí, vai trabalhar à noite e tem que tomar banho de canequinha.
Teve um dia que não tinha água para fazer mamadeira para o meu filho. Tive que comprar uma garrafa de água](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/UYXJ2ROQBNJKFIUVGA4465AZ6I.jpg?auth=37eec015ccf5e77033330b66dc025065ae28d254f37661ab0b199f771e05642d&width=1200&height=800)
![Comprar caixa d’água extra passou a ser artifício
adotado por muitos moradores de São Paulo. Que o diga Hiroshi Shimuta,
presidente da loja de materiais de construção Nicom. De acordo com ele, as
vendas do produto no estabelecimento aumentaram cerca de 30% com a crise hídrica.
— No meu depósito tem caixa d’água saindo pelo
ladrão [...] Muitas vezes, as pessoas só tinham uma caixa pequena, de 250
litros, por exemplo. Então, passaram a comprar caixas de 500 litros, que não
são tão grandes, mas, no total, ficam com 750 litros](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/BAEE6UHR25IYJNFRX5DBR6E7GY.jpg?auth=a254d5b73c59901cc3faab0a5e3b8d9b9271f3ae16313669604eb08adad2e62e&width=1200&height=800)
![Hiroshi Shimuta completa o raciocínio:
— Pessoas que não precisavam de caixa d’água
resolveram ampliar. Antes, 250 litros davam, porque saía e entrava [água].
Agora, você fica três dias com água e um sem](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/ILRRKDYBWNJY7KV5TYZN6UQNX4.jpg?auth=6818606b017852c899a85baf76425cd809056cd5ee78d881e2826c6107fd12a1&width=1200&height=800)
