Governo espera Justiça decretar ilegalidade da greve para iniciar demissões e reforçar uso da PM
Paralisação dos metroviários chega ao 3º dia com operação parcial e ameaça de piquetes
São Paulo|Do R7
A estratégia do governo do Estado é esperar pela Justiça — que marcou para domingo, às 10h, o julgamento da ilegalidade da greve. Assim, obteria aval para iniciar as demissões de servidores e usar a Polícia Militar mais abertamente para liberar as estações. A greve do metrô de São Paulo chega neste sábado (7), ao terceiro dia, sem perspectivas. Acabou sem nova proposta a reunião no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e a assembleia da categoria, à noite, manteve a paralisação. O sindicato ainda ampliou o tom das críticas e promete piquetes maiores, após confronto entre grevistas e a PM na Estação Ana Rosa.
O Estado protocolou uma petição no Tribunal Regional do Trabalho solicitando que a greve fosse decretada abusiva, antes do julgamento do dissídio, como afirma o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes
— O que a Justiça vai definir, não temos certeza. Mas o que vier, é para cumprir. Imediatamente, terão de cumprir (e voltar ao trabalho). Se não vierem, pode-se começar a emitir demissões.
No entanto, o secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, Alex Fernandes, disse que a entidade está determinada a ir "até as últimas consequências" na paralisação, apesar das ameaças de demissão. O sindicalista questionou a legalidade do envio na sexta-feira (6), de 440 telegramas por parte do governo, convocando os trabalhadores parados — sobretudo condutores de trens — a voltar para o serviço.
— Estamos vendo como proceder de uma forma legal, judicialmente, porque entendemos que (as ameaças de demissão) são um ataque ao direito de greve.
O sindicato promete piquetes neste sábado com o dobro de pessoas nas estações Ana Rosa e Bresser — o coração operacional do sistema, que vem garantindo a abertura de 34 estações. Ou seja, há novamente risco de confronto com a Polícia Militar, como explica o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Júnior.
— Vamos segurar tudo até domingo. Se a pancadaria ocorrer, vamos falar com todas as categorias. Se a gente sangrar, vamos pedir ajuda de metalúrgicos, de bancários, e fazer um dia de greve geral na boca da Copa.
Nos bastidores, ele já busca aliados. Na sexta-feira, reuniu-se com Paulo Pereira da Silva (SDD), presidente da Força Sindical, para pedir apoio na negociação com o Estado.
— Procurei o Paulinho, procurei o [Luiz Antonio] Medeiros (ex-deputado, superintendente da Delegacia Regional do Trabalho), dei vários recados pela imprensa. O que queremos é negociação. Esse governador é forte. Ele tem apoio de grandes empresários. E ele tem seu Exército particular, que é a Tropa de Choque. Mas ele não tem nada sem a classe trabalhadora. E a gente não vai deixar ele respirar.
Segundo dia
Com chuva e 27 estações fechadas, houve extensão do rush e recorde de congestionamento do ano 239 km. O impasse deve seguir até domingo, quando a Justiça analisa a legalidade da greve. Na sexta-feira, não houve avanço na negociação. Sindicalistas presentes à audiência no TRT se disseram insatisfeitos com o Metrô, representado pelo presidente, Luiz Antonio Carvalho Pacheco.
O próprio relator do processo, o desembargador Rafael Pugliese, pediu várias vezes uma proposta maior de reajuste salarial, acima dos 8,7% já proposto, o que foi contestado por Pacheco.
— Não dá, excelência.
O advogado do Metrô, Nelson Mannrich, afirmou que entrou em contato com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e não há como ampliar a oferta. O Ministério Público sugeriu aumento de 9,2%. Já o sindicato pede 12,2%, mas aceita negociar uma proposta de dois dígitos.