Moradores da Vila Madalena fazem “trincheira”, pedem “asilo-Copa” e saem de casa para fugir do barulho
Bairro ficou mais agitado com o Mundial; “Vila Madalena não é Woodstock”, diz morador
São Paulo|Maria Carolina de Ré, do R7
Moradores da Vila Madalena, bairro boêmio da zona oeste da cidade de São Paulo, estão incomodados com o aumento da circulação de pessoas após o início da Copa do Mundo. Eles resolveram sair de casa para fugir do barulho.
Cristine Franco Alves, de 44 anos, que mora em uma casa na vila há 17 anos, conta que há quatro dias não consegue dormir em casa. Ela diz que está pedindo “asilo-copa” para parentes porque não aguenta o barulho da rua.
Na frente da casa dela, um grupo de pessoas alugou uma garagem e a transformou em um bar. Ela compara o movimento após o início do Mundial ao Carnaval.
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— Moradores da Vila Madalena estão saindo de suas casas por conta da festa. Mas, no Carnaval, a bagunça acontece só aos finais de semana. Na Copa é todo dia.
Cristine explica que o sobradinho onde vive na rua Fidalga pertence a sua família há três gerações, mas graças "caos" que enfrenta e a falta de resposta do poder público, ela pensa em mudar e alugar o imóvel.
— Há quatro dias estou fora de casa, indo dormir na casa de parentes e amigos onde consigo asilo-Copa do Mundo. Minha vontade não é sair da minha casa, mas não estou conseguindo nem dormir.
No sábado (21), o prefeito Fernando Haddad anunciou que ia aumentar o número de bloqueios de ruas, intensificar a fiscalização dos ambulantes e instalar 40 banheiros químicos. Cristine não acredita que as medidas possam resolver o problema.
— As medidas emergenciais são para conter o problema, mas nunca para prevenir.
Além disso, ela comentou que não teve cadastro nenhum para que os moradores pudessem acessar suas casas localizadas dentro da área interditada.
Prejuízo
Morador do bairro há 15 anos, o desinger de lustres Tom Green, 49 anos, relata que se mudou da Inglaterra para o Brasil e escolheu viver na Vila Madalena porque o lugar era conhecido como um bairro artístico, que mantinha boa qualidade de vida. Ele mora na rua Ignacio Pereira da Rocha, em cima da sua loja.
— Vim de Londres para morar e vender meus produtos [lustres] no Brasil. Hoje, os comerciantes da região que não vendem bebidas alcoólicas estão tendo prejuízo. Meu faturamento caiu, no mínimo, pela metade e a loja tem que fechar nos horários de jogos.
De acordo com o comerciante, a degradação da Vila se acelerou nos últimos dois anos. Green ressalta que já havia tido experiência negativa no Carnaval.
Desde que a Copa começou ele e a mulher estão se entrincheirando em casa, com colchões nas janelas para tentar impedir o barulho. O casal usa tampões nos ouvidos para dormir.
O grande fluxo de pessoas na rua onde moram impede o estacionando do carro na garagem. Green está deixando o veículo nas ruas próximas de sua casa. Apesar de não ter sofrido nenhum dano, o morador lembra que no Carnaval alguns carros foram depredados. Ele também reclama da falta de ação do governo municipal.
— Para variar, a prefeitura só sabe os efeitos, não as causas. Seria um alívio se tivesse fiscalização efetiva dos ambulantes.
Vila Madalena não é Woodstock
Cassio Calazans, presidente da Savima (Sociedade Amigos de Vila Madalena) e morador da rua Purpurina há 55 anos, ressalta que a região se transformou em uma espécie de Woodstock, com turistas e frequentadores fazendo sexo e usando drogas nas ruas sem o menor controle do poder público.
— Vemos inúmeros ambulantes que aparecem vendendo bebida alcoólica e as pessoas usando drogas. A Vila Madalena não é Woodstock. Aqui, temos moradores, gente de bem que precisa trabalhar e ficar em paz.
De acordo com ele, os moradores não querem afastar os turistas, mas estão sendo os mais prejudicados.
— Não queremos afastar os turistas, mas o que não dá para permitir é esse pessoal que fica perambulando com bebidas pelas ruas.
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