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Mulheres são proibidas de participar de seleção para Show Medicina

Papel feminino no evento de recepção de calouros da medicina da USP é trabalhar na costura

São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7

Alunas da FMUSP não podem atuar no espetáculo promovido
Alunas da FMUSP não podem atuar no espetáculo promovido Alunas da FMUSP não podem atuar no espetáculo promovido

O evento teatral promovido por alunos da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) para receber os calouros, conhecido como Show Medicina, exige do aluno que quiser participar de sua realização um “vestibular”, que depois se descobre ser um trote. De acordo com Y., um dos três ex-membros do grupo ouvido pelo R7, o estudante passa por prova teórica e prática. As mulheres são excluídas do processo e não têm direito de passar pela “seleção”.

Elas também não podem atuar no espetáculo promovido pelo show e o papel delas se resume a trabalhar na costura, confeccionando as roupas que serão usadas na apresentação. Segundo os jovens, quem financia o Show Medicina são pessoas que já passaram pelo grupo e, atualmente, são médicos. 

— Existe a divulgação de uma lista de obras. Os homens são convidados. Passam uma lista de filmes, de livros e de álbuns para a prova teórica. E falam que você vai ter que fazer uma apresentação para o show. A prova é feita no anfiteatro da faculdade. Ela, no final, é uma piada, um trote também. Você faz a prova, eles dão uma lida, fazem piada com que você escreveu, rasgam depois.

Segundo X, o show é visto pelo calouro como um espaço de transgressão, de rebeldia.

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— Quando você entra em contato com essa instituição, você percebe que ela é muito poderosa e grande dentro da faculdade. Existe no calouro a vontade de fazer parte disso. 

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A nudez também aparece durante o “vestibular”, conforme W.

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— Ela acontece, primeiro, no vestibular, na audiência. O momento mais importante do “vestibular”, é quando todos ficam nus, vulneráveis, sem saber quem está olhando. Apaga-se a luz, então, você fica com muito medo, conta até dez e quando acaba, acende a luz e todo mundo se cumprimenta.

Apesar das denúncias relativas à FMUSP levadas à público nesta semana, X. faz questão de enfatizar que há "muita gente boa" na instituição.

— As coisas que acontecem lá não são exclusividade da FMUSP. Agressões físicas acontecem em muitas faculdades de medicina [...] O perfil de alunos da FMUSP está mudando e muitas turmas não querem mais ser coniventes com isso. É um choque de gerações. São turmas consideradas problemáticas para o modelo da faculdade atualmente.

Nudez

De acordo com os três estudantes, dentro do grupo, a nudez muitas vezes é associada a castigos por infrações, como chegar atrasado aos ensaios. O alundo Y. relembra um episódio em que o colega foi submetido à esta punição. 

— Vi um colega que chegou atrasado ao show, porque ele estava fazendo intercâmbio, então, ele atrasou duas semanas e começou a ensaiar depois dos outros. Assim que chegou, o diretor apontou para ele e o chamou no anfiteatro, com todas as turmas, organizadas hierarquicamente (os mais novos atrás e os mais velhos na frente). O diretor o mandou ir para frente, tirar a roupa. Ele ficou diante de todo mundo exposto e, daí, as pessoas brigaram com ele, falando como ele era um bosta por tal motivo. Ele ficou pelado, de cabeça baixa. Algumas vezes, podem jogar cerveja na pessoa. Depende da situação.

W. diz que, dentro daquela estrutura, a nudez também tem um aspecto positivo, nem sempre é recurso de punição e, de certa forma, pode ser entendida como um instrumento para reforçar um sentimento de grupo e de amizade

— É um morde e assopra cotidiano que acho que vai moldando até o caráter das pessoas. Pessoas que têm bom caráter, mas que naquele momento de grupo, naquele período, são totalmente tomadas, talvez por esse movimento contraditório que há internamente, e acabam tendo uma ação coletiva extremamente divergente do que teriam fora desse grupo.

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