Perito fala em “mar de cadáveres” e “rio de sangue” no Carandiru
Osvaldo Negrini garante ainda que local das mortes não foi preservado
São Paulo|Thiago de Araújo e Julia Carolina, do R7
O perito criminal Osvaldo Negrini, primeira testemunha a ser ouvida no segundo julgamento do massacre do Carandiru, disse ter visto um “mar de cadáveres” e presenciado um “rio de sangue” ao chegar na Casa de Detenção no dia 2 de outubro de 1992. O júri foi iniciado nesta segunda-feira (29), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste da capital paulista. O depoimento de Negrini começou por volta das 14h10 e terminou pouco depois das 16h30.
— Encontrei um mar de cadáveres em um espaço de 36 a 40 metros quadrados. Ali, contei 90 cadáveres empilhados. Da escada descia uma gosma avermelhada escura, que eles [policiais] diziam ser óleo, mas eu cheguei mais perto e notei que era sangue, um rio de sangue descia.
Durante o seu depoimento, Negrini ainda afirmou que viu apenas dois disparos no corredor, o que contradiz o depoimento dos policiais militares, que garantiram ter ocorrido um confronto com os detentos. Além disso, ele afirmou ter certeza de que o local do massacre foi alterado, com as celas tendo sido limpas e cápsulas deflagradas tendo desaparecido do local.
— Os cadáveres foram retirados da cela também. Infelizmente, o local não foi preservado, nenhuma norma foi seguida. Contudo, o vestígio das paredes não foram apagados e foi possível remontar o que aconteceu lá naquele dia.
Mortes dentro das celas
O perito afirmou ainda que detentos foram mortos dentro de suas celas no terceiro pavimento. Questionado pela defesa, Negrini disse que a violência da ação policial naquele andar “foi muito maior” e voltou a dizer que marcas de tiros nas paredes da cela mostram que os presos poderiam estar ajoelhados quando foram mortos. Isso porque as balas não atingem a altura de um homem em pé.
— Não tenho dúvida [de que houve mortes dentro das celas].
De acordo com a testemunha, o trabalho realizado mostrou que mais de 170 disparos atingiram a parede, enquanto mais de 400 projéteis teriam sido encontrados nos corpos dos mortos.
A defesa, por sua vez, usou o tempo para tentar desqualificar o trabalho do perito. A advogada ressaltou que houve demora no trabalho do perito e que a cena poderia estar diferente.
Após a fala do perito, serão exibidos os depoimentos em vídeo de três testemunhas: Antonio Carlos Dias, Moacir dos Santos e Marco Antonio de Moura.
Conselho de Sentença
Pela manhã, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo instalou o Conselho de Sentença, formado por sete homens. Os jurados leram partes do processo contra os 26 réus, todos policiais militares, acusados pela morte de 73 detentos no terceiro pavimento (2º andar) da Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992.
Os PMs respondem por homicídio doloso (com intenção de matar) qualificado (motivo torpe, meio cruel, dificultação de defesa e acobertamento de outro crime).
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Inicialmente, 28 policiais se sentariam no banco dos réus neste segundo julgamento - o maior dos quatro que tratam do episódio -, mas um deles (Raimundo Silva Filho) morreu. Já o réu Cirineu Carlos Letang Silva alegou insanidade mental e ainda não será julgado, pois a imputabilidade dele será analisada pelo tribunal.
Dentre os 26 PMs acusados, três não compareceram ao fórum criminal nesta segunda-feira.
Dezessete testemunhas foram convocadas. Onze de acusação e seis de defesa Do total, 12 eram aguardadas no tribunal, enquanto as outras cinco teriam vídeos dos seus depoimentos apresentados no plenário. Entre elas, estão o ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, e o secretário de Segurança na época do massacre, Pedro Franco de Campos.
Relembre o caso
O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no Pavilhão 9. Com a confusão, a Tropa de Choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta.
Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses 84 foram acusados de homicídio.
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Em abril de 2013, 26 policiais militares foram levados ao banco dos réus pela morte de 15 detentos no segundo pavimento do pavilhão nove no massacre do Carandiru. Após sete dias de julgamento, a maioria foi condenada por homicídio qualificado — com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Naquela ocasião, seis homens e uma mulher formaram o Conselho de Sentença.
Dos 26 policiais, 23 foram condenados a 156 anos de prisão, inicialmente, em regime fechado. Os réus receberam a pena mínima de 12 anos por cada uma das mortes dos 13 detentos. Os condenados poderão recorrer em liberdade. Outros três PMs foram absolvidos pelo júri, que acatou o pedido feito pela acusação.
Antes deles, Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém, um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia. Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos Jardins. A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida.
Dezessete testemunhas foram convocadas. Onze de acusação e seis de defesa Do total, 12 eram aguardadas no tribunal, enquanto as outras cinco teriam vídeos dos seus depoimentos apresentados no plenário. Entre elas, estão o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho e o secretário de Segurança na época do massacre, Pedro Franco de Campos.