Perito que participou da reconstituição do assassinato de Mércia será ouvido nesta quarta-feira
Julgamento do policial reformado Mizael Bispo entra no terceiro dia
São Paulo|Ana Cláudia Barros e Vanessa Beltrão, do R7
Marcado para começar às 9h desta quarta-feira (13), o terceiro dia do julgamento do policial militar reformado e advogado Mizael Bispo deverá ser iniciado com o depoimento de Renato Domingos Patoli, perito que participou das investigações da morte da advogada Mércia Nakashima. Ele é a terceira testemunha convocada pela defesa que prestará depoimento.
Além de Patoli, o fotógrafo Eduardo Zocchi e o físico Osvaldo Negrini Neto, também chamados pelos advogados de Mizael, devem falar no plenário do Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo.
A pedido da defesa, Negrini produziu um laudo sobre a alga encontrada no sapato do réu. O documento contesta o laudo anexado ao inquérito policial, feito pelo biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, especialista em algas, por encomenda do IC (Instituto de Criminalística).
Investigador diz que Mizael conversou 19 vezes com vigia no dia do desaparecimento de Mércia
A análise feita por Bicudo apontava que a espécie de alga encontrada no calçado de Mizael pode se desenvolver na represa de Nazaré Paulista, interior de São Paulo, onde o carro e o corpo da vítima foram localizados.
Ainda segundo Bicudo, a espécie só vive submersa em pelo menos 20 cm de profundidade. Já o laudo de Negrini mostra que a alga pode se desenvolver em ambientes terrestres.
Reconstituição
Um dos temas que devem ser levantados em plenário é a reconstituição do crime, da qual Patoli participou. O perito deve ser questionado sobre as armas não usadas na reconstituição. Na época, apurou-se que Mércia foi baleada, mas a causa da morte foi afogamento.
Para o promotor Rodrigo Merli, a questão das armas foram desconsideradas na simulação porque são “secundárias”. Diz ainda que o depoimento da testemunha protegida, que teria escutado gritos e flagrado o momento em que um homem empurrava o carro da vítima na represa, não mencionava os tiros. Foi com base no relato que os peritos realizaram a reconstituição.
— Como a testemunha protegida diz que não ouviu disparos de arma de fogo, não pode se reproduzir aquilo que ela não ouviu. Na verdade é um aspecto periférico, que não tem relevância alguma, porque estaríamos fora do relato da testemunha. E ainda que estivesse, é um aspecto secundário que não diz respeito à autoria do crime que é exatamente a discussão desse julgamento.
O promotor completou:
— Quantos tiros existiram, onde atingiram a vítima, se alguém escutou, onde escutou. Esse não é o cerne da questão. O cerne é saber se Mizael é ou não o responsável pelo crime. A defesa vai tentar comer pelas beiradas para tentar desacreditar a investigação e a ação penal como um todo, mas não tem conseguido e creio que não vai conseguir.
Segundo dia
O segundo dia de julgamento de Mizael Bispo foi marcado por clima tenso e por diversos bate-bocas entre a defesa e a acusação. Além disso, detalhes do crime, como o álibi e os registros telefônicos do réu, foram levados ao plenário. Nesta terça-feira (12), ainda, foi a primeira vez que o réu assistiu aos depoimentos dentro do plenário, já que nesta segunda-feira (11), ele ficou fora da sala a pedido das testemunhas.
O primeiro depoimento, no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo, foi do delegado Antônio de Olim, responsável pelas investigações do caso na época do crime. Ele disse ter certeza sobre a autoria do crime.
— Não tenho dúvida nenhuma que Mizael matou Mércia.
O delegado também garantiu que o ex-policial praticou o crime de forma premeditada, montando álibis para justificar sua pretensa inocência. Ele ainda afirmou que duvida que o policial reformado esteve em companhia de uma prostituta durante este período.
— Ele não sabia o nome da mulher e, só depois de muita pressão, lembrou a cor do cabelo. Depois deu apenas R$ 20. Além do que, é estranho transar em um lugar de tanto movimento, sem chamar a atenção.
Olim citou detalhes da investigação e, em seu testemunho, disse que o vigia Evandro Bezerra da Silva, também acusado de participar do crime, foi buscar Mizael Bispo na represa de Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia foi encontrado em junho de 2010.
Vídeo
Um dos momentos mais tensos do depoimento foi a exibição de um vídeo com um testemunho de Evandro Bezerra da Silva, que teria ajudado Mizael a fugir após o assassinato de Mércia. De acordo com a defesa do réu, o delegado teria torturado o Silva para que ele incriminasse o ex-policial. Após a transmissão, acusação e defesa concordaram que o vídeo não aponta indícios de tortura. No entanto, Ivon Ribeiro, um dos advogados de Mizael, questionou as imagens de forma irônica.
— Não houve tortura filmada. Este absurdo não aconteceu. O promotor Rodrigo Merli, também em tom sarcástico, respondeu a Ribeiro.
— Também não temos vídeo do Mizael matando a Mércia, esse absurdo!
Tortura
A segunda testemunha a ser ouvida foi o advogado Arles Gonçalves Júnior. Ele é membro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e foi indicado na época para acompanhar o inquérito policial. Durante o depoimento, ele destacou, ao ser questionado pelo promotor Rodrigo Merlin, que não verificou abusos durante as investigações da morte de Mércia Nakashima. Ele afirmou ainda que esteve presente durante o interrogatório do vigia Evandro Bezerra da Silva, no qual ele delatou Mizael, e negou tortura. Evandro também é acusado pelo assassinato da vítima e, após admitir participação na morte em 2010, alegou que foi torturado para confessar o crime.
Também segundo a testemunha, o vigia chegou a dizer que Mizael estava bravo com Mércia e que pretendia tomar providências contra ela. Neste depoimento, a defesa e a acusação voltaram a bater boca. Gonçalves Junior chegou a afirmar que estava ofendido após uma colocação dos advogados de Mizael.
“Clima de harmonia”
A terceira testemunha do dia — e primeira convocada pela defesa de Mizael Bispo — foi a corretora de imóveis Rita Maria de Souza. Ela contou que conhece o réu desde 2004, quando ele alugou o escritório sobre a imobiliária onde ela trabalhou, no bairro Bonsucesso, em Guarulhos. Segundo Rita, Mércia e Mizael viviam em “clima de harmonia” e a advogada era "tranquila e estava sempre contente”.
Destacou ainda que não presenciava brigas entre os dois e, questionada se Mércia alguma vez se queixou de Bispo, respondeu que não, pois não tinha amizade com ela, só “coleguismo”.
O promotor do caso, Rodrigo Merli, afirmou a corretora "é uma testemunha sem credibilidade, parcial, amiga, bastante íntima do senhor Mizael, que inclusive assinou um abaixo assinado em seu favor, escreveu uma carta e encaminhou para prisão".
Ligações de Mizael
A última testemunha do dia foi o policial civil Alexandre Simone Silva, convocado pela defesa. De acordo com o depoimento do investigador, Mizael e o vigia Evandro Bezerra conversaram 19 vezes no dia do desaparecimento da vítima por um telefone “frio”, ou seja, que não estava cadastrado no nome do réu.
Um ponto que chamou a atenção do policial, segundo ele, é que o réu ligava para a vítima em um telefone cadastrado no nome dele e, na sequência, telefonava para o vigia, usando outro telefone. O telefone “frio” não teria mais sido utilizado após o dia 23 de maio.