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Sabesp quer mais água de volume morto do Cantareira

Caso órgãos gestores permitam, Cantareira contará com mais 116 bilhões de litros da reserva

São Paulo|com R7

Nível do Cantareira chegou aos 15,8% nesta segunda-feira
Nível do Cantareira chegou aos 15,8% nesta segunda-feira

A proposta da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para retirar uma segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira, sem reduzir a vazão captada, pode deixar o nível do principal manancial paulista no vermelho em até 30% para o início de 2015. A concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros da reserva profunda dos reservatórios, além dos 182,5 bilhões que começaram a ser sugados em junho e devem acabar entre outubro e novembro. Em janeiro deste ano, quando a crise da água foi declarada, o sistema estava no azul com 23% da capacidade.

Só das represas Jaguari-Jacareí, que ficam entre as cidades de Bragança Paulista e Joanópolis, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, a Sabesp quer retirar mais 90 bilhões de litros represados abaixo do nível das comportas. Se a quantidade for toda utilizada, os reservatórios que representam 82% da capacidade ficarão com apenas 4% do seu volume total, incluindo o útil e o morto. Até o último domingo (27), a Sabesp já havia retirado 65,8 bilhões de litros do fundo das duas barragens, restando 38,5 bilhões de litros da primeira cota dessas represas, que devem durar até o fim de agosto.

A partir daí, a concessionária deve iniciar a captação de 78,1 bilhões de litros da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, com duração prevista até o fim de outubro, quando começa o período chuvoso. Sem a garantia de que as chuvas voltarão à normalidade e querendo manter a vazão atual de 19,7 mil litros por segundo para abastecer mais de 40% da Grande São Paulo, a Sabesp quer usar mais 116 bilhões do volume morto, totalizando 298 bilhões de litros da reserva, o equivalente a 30% do volume útil do manancial, que se esgotou no início deste mês. A proposta ainda precisa ser aprovada pela ANA (Agência Nacional de Águas) e pelo Daee (Departamento de Água e Energia Elétrica).

Nível dos reservatórios


O nível do Sistema Cantareira recuou 0,1%, em comparação com o domingo, e atingiu os 15,8% nesta segunda-feira (28). Os reservatórios do Sistema Alto Tietê e Guarapiranga também apresentaram quedas. Os mananciais registraram 21,3% e 65,9%, respectivamente, segundo informações da Sabesp.

Neste mesmo período, mas em 2013, o Cantareira registrava 53,8%, enquanto o Alto Tietê dispunha de 63,7% de seu volume e o Guarapiranga 92,1%.


Licitação

A Sabesp já abriu licitação para comprar mais 19 conjuntos de bombas flutuantes e fazer um canal subaquático necessário para retirar mais água do volume morto do Cantareira e do Sistema Alto Tietê, segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo e que também passa por grave crise de estiagem.


No início do mês, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia negado que usaria mais uma cota da reserva profunda do Cantareira, embora a Sabesp já estivesse planejando retirar mais 100 bilhões de litros, conforme o Estado antecipou. Agora, a empresa quer aumentar em 16% a segunda cota do volume morto, que tem ao todo 400 bilhões de litros.

Estimativas apontam que, se a vazão afluente, ou seja, a quantidade de água que chega aos reservatórios, for 50% abaixo da mínima histórica, e não houver redução no volume destinado ao abastecimento da população, a segunda cota do volume morto pode acabar ainda em dezembro deste ano, o que deixaria uma crise ainda mais grave para 2015. Em julho, por exemplo, a vazão média afluente está 68% abaixo da pior já registrada para o período. O mês será o mais seco da história do sistema, o que deve resultar em déficit de 51,5 bilhões de litros, ou 5,2% da capacidade. Na média, agosto e setembro costumam ser mais secos do que julho.

Risco

Segundo o engenheiro e diretor do departamento de hidrologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Carlos Zuffo, quanto mais fundo a Sabesp for buscar água, maior o risco de contaminação.

— A dragagem está revolvendo muito lodo do fundo, onde ficam os poluentes, os metais pesados.

Zuffo utiliza termos bancários para explicar a atual situação do Cantareira.

— O volume morto é como se fosse o cheque especial do banco. Mas, em vez de poupar e reduzir o consumo, o governo quer ampliar o limite para gastar mais. Essa fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior. 

O uso da segunda cota, caso seja autorizada, também deve retardar o processo de recuperação do Cantareira. No início do mês uma análise estatística mostrou que a chance de o sistema acumular entre dezembro deste ano e abril de 2015 um volume de água suficiente para tirá-lo da crise após o término da primeira parte da reserva profunda era de apenas 25%.

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