"Sandro Dota é um ator dissimulado", diz promotor
Motoboy é acusado de estuprar e matar a universitária Bianca Consoli em setembro de 2011
São Paulo|Ana Claudia Barros, do R7
O promotor Nelson dos Santos Pereira Júnior começou o debate, no segundo dia do julgamento do motoboy Sandro Dota, nesta terça-feira (17), no Fórum Criminal da Barra Funda, dizendo-se emocionado. O representante do Ministério Público destacou que a acusação seria “a voz da família” de Bianca Consoli. A universitária foi assassinada dentro de casa, na zona leste de São Paulo, em setembro de 2011.
Sempre se dirigindo aos jurados, Pereira tentou mostrar que a confissão recente do réu não indicava arrependimento.
— Isso é confissão ou isso é uma manobra?
E completou, argumentando que toda prova reunida nos autos não permitia outra saída.
— Ele está fazendo conta de quando sairá da cadeia.
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Na avaliação do promotor, Sandro Dota, ao admitir o homicídio, estava em busca do interesse próprio. Pereira Júnior disse ainda que, para tentar sustentar a figura do homicídio privilegiado — que afastaria a qualificadora motivo fútil —, o acusado apresentou uma “versão mirabolante”.
— Senhores, já vi esta novela várias vezes. A vítima não está aqui para se defender [...] Quem se arrepende, se arrepende na hora, não faz cena.
Pereira Júnior afirmou também que o réu queria enganar o Conselho de Sentença, passando-se por outra pessoa.
— Este sujeito é um ator. Dissimula o tempo todo.
E fez um apelo aos jurados.
— Isso é uma estratégia dele para reduzir pena. Não caiam nessa armadilha.
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Violência sexual
Pereira Júnior rebateu o argumento da defesa de que não era comum encontrar uma vítima de violência sexual vestida e que, só pela luta corporal, Bianca não deveria estar com a roupa alinhada, como foi encontrada.
Durante a explanação do promotor, o advogado Aryldo de Paula pediu para fazer uma intervenção e perguntou como Sandro Dota teria introduzido um “agente contundente” na vítima. Laudos indicaram que havia fissuras na região anal da estudante.
— Não subestime a minha inteligência e a dos demais. O fato é que nós temos a introdução de um agente contundente. Agora, como foi, Dr., a vitima infelizmente não está aqui para responder.
Premeditado
O representante do MP ressaltou que toda a investigação deu sinais de que o crime foi premeditado. Ele disse ainda que, no início do processo, o réu tentou criar álibis, que caíram por terra. Em tom irônico, Pereira Júnior reproduziu trechos da versão apresentada por Dota após a confissão e tentou apontar inconsistências.
— Senhores, você não quer matar e coloca uma sacola plástica na boca [da vítima]?
O promotor exibiu aos sete jurados fotos dos ferimentos no corpo da universitária e leu trechos do laudo necroscópico. Na maior parte do tempo, Dota ficou de cabeça baixa, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e as mãos no rosto.
— Percebam os senhores, todas essas lesões foram produzidas por ele.
No final de seu discurso, em tom elevado, o promotor criticou o funcionamento da Justiça no Brasil.
— Neste País, tudo é pro-réu. Parece que reina a impunidade neste País.
Voltou-se novamente para os jurados e disse que hoje podem fazer Justiça.
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