Tropas do lado de fora comemoravam entrada de PMs "como se fosse gol", lembra testemunha
Funcionário do Carandiru diz que massacre “foi rebeldia dos policiais” e que não houve ordem
São Paulo|Vanessa Beltrão, do R7
Um funcionário do Complexo Penitenciário do Carandiru foi a quarta testemunha da acusação a ser ouvida durante o primeiro dia de julgamento de 26 PMs acusados de participação no massacre. O diretor da divisão de segurança e disciplina da época, Moacir dos Santos, disse acreditar que o episódio não aconteceu por meio de uma ordem específica. A afirmação contradiz a tese da defesa que argumenta que os PMs invadiram a Casa de Detenção de São Paulo obedecendo ordens.
— Foi uma rebeldia da própria polícia e acabou frustrando o coronel. Não era necessário a [participação da] Rota.
De acordo com Santos, o portão do pavilhão nove, de cerca de 2 m de largura, foi arrombado após a chegada dos policiais. O ex- funcionário criticou a forma como os PMs entraram no pavilhão.
— Foi arrombado com a euforia dos PMs. Tiveram o prazer de meter a marreta e arrebentar. A gente falando que tinha a chave para abrir e ninguém dava ouvidos.
Ao descrever a cena, a testemunha falou que os policiais entraram com as “armas empunhadas” e que logo depois era possível ouvir tiros, rajadas e bombas. A invasão teria ocorrido por volta das 14h. Ainda de acordo com Santos, as tropas que estavam do lado de fora “comemoravam como se fosse gol” a entrada dos PMs.
O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no pavilhão nove. Com a confusão, a tropa de choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta.
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Segundo a testemunha, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) também fez parte da invasão.
Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992. Desses, 84 foram acusados de homicídio. Desde aquela época, cinco morreram e agora restam 79 para serem levados a julgamento.
Alteração da cena
Durante o depoimento, o ex-funcionário insinuou que os policiais estavam mais preocupados em limpar a cena do que socorrer os feridos. Segundo ele, todos os corpos foram colocados na entrada do 2º pavimento e na sala de esportes, para que não demonstrassem que os detentos teriam sido mortos dentro das celas, sinal de que já estavam rendidos.
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