93% dos brasileiros estão insatisfeitos com a saúde do País, revela pesquisa
Segundo entrevistados, pior dificuldade é a demora na marcação de consultas, exames e cirurgia
Saúde|Fernanda Domingues, do R7
Mais de 90% da população brasileira considera os serviços públicos e privados de saúde péssimos, ruins ou regulares, conforme pesquisa divulgada nesta terça-feira (19) pelo Instituto Datafolha encomendada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pela APM (Associação Paulista de Medicina). O levantamento foi anunciado uma semana após a mesma pesquisa afirmar que metade (50%) da população do Estado de São Paulo enfrenta espera de um a seis meses para marcar uma consulta no SUS (Sistema Único de Saúde).
De acordo com o Datafolha, 93% da população brasileira se diz insatisfeita com a saúde do País e atribuíram notas de zero a sete para o setor, sendo que desse valor, 60% atribuíram notas de zero a quatro. O Datafolha considera notas entre cinco e sete como regulares. Especificamente ao SUS, 87% os entrevistados deram nota de zero a sete e se disseram insatisfeitos com a saúde pública do Brasil.
A pesquisa entrevistou 2.418 homens e mulheres, com idade acima de 16 anos, em todos os Estados brasileiros entre os dias 3 e 10 de junho. Os entrevistados apresentaram como pontos mais críticos na saúde pública a marcação de consultas, exames ou cirurgias; o tempo de espera para atendimento médico; acesso a médicos especialistas; e a quantidade de médicos.
Cerca de 80% dos pacientes tiveram procedimentos negados pelos planos de saúde
O Datafolha mostrou ainda que 87% dos entrevistados colocaram a saúde como a área de maior importância, seguida da educação (18%), combate à corrupção (8%), segurança (7%), combate ao desemprego (4%) e moradia (3%). O estudo aponta que 57% acreditam que o governo federal deveria tratar a saúde como prioridade.
Difícil acesso ao SUS e baixa qualidade
De acordo com a pesquisa, todos os aspectos do atendimento ao SUS têm imagem insatisfatória entre a população brasileira. Os pontos mais críticos estão relacionados ao acesso e ao tempo de espera para o atendimento. Pelo menos 30% dos entrevistados declararam estar aguardando ou ter alguém na família aguardando marcação ou realização de algum procedimento do SUS.
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Mesmo os 22% dos entrevistados que possuem plano de saúde, segundo a pesquisa, estão aguardando algum tipo de atendimento pela rede pública. Para o presidente do CFM, Roberto Luiz D´ávila, "estamos falando de necessidades vitais, que é manter a saúde".
— Não é possível aceitarmos essa fotografia com suas imperfeições. Esse é um retrato de que as pessoas estão insatisfeitas com a saúde do Brasil, de que a demora é grande.
Sobre a qualidade dos serviços, 70% dos que buscaram atendimento no SUS disseram estar insatisfeitos e atribuíram avaliações que variam de péssimo a regular. O setor com a imagem mais negativa é o de atendimento nas urgências e emergências e nos prontos-socorros.
A emergência, juntamente com as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), foi apontada como o setor mais procurado como “porta de entrada” para o SUS. Os que mais apontaram o serviço público como pior foram os homens com idade entre 25 e 39 anos, com nível superior e moradores das regiões Norte e Centro-Oeste.
Procura por atendimento e mais investimento
Segundo o Datafolha, nos últimos dois anos, 92% dos brasileiros procuraram algum tipo de atendimento no Sistema Único de Saúde, sendo que 89% fizeram uso do serviço neste mesmo período.De acordo com a pesquisa, 67% dos entrevistados consideraram o acesso a cirurgias, nesses dois anos, como muito difícil; 56% apontaram o acesso a procedimentos específicos (quimioterapia, radioterapia e hemodiálise) também como muito difícil; e 55% consideraram o acesso a internações hospitalares também como muito difícil.
Para o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, é preciso não somente investir no setor como também melhorar sua gestão.
— Os problemas crônicos da saúde estão em fase de “agonização”. O financiamento se torna cada vez mais inadequado, apesar de alguns aportes, mas é a proporção entre demanda e oferta. Não é só orçamento que a saúde precisa, há também a necessidade da competência administrativa.