Você já imaginou passar 15 anos da sua vida sentindo dor e nenhum médico conseguir descobrir o motivo? Esta é a história da musicoterapeuta Juliana Bertoncel, 32 anos, casada e mãe de uma filha. — Perdi as contas de quantos médicos passei para tentar descobrir o motivo das cólicas intensas e constantes que sentia. Era uma dor enlouquecedora na região pélvica. O incômodo começou aos 15 anos de idade e Juliana lembra que associava o problema às cólicas menstruais. Três anos se passaram e o quadro não apresentava melhoras. — Sofria muito com o frio porque a dor piorava e não conseguia mais usar salto alto. Quando completei 26 anos, a dor passou a ser diária e, por conta disso, passei a tomar analgésico indiscriminadamente e deixava o lazer e a vida social com os amigos de lado.Brasileiras desconhecem a endometriose, revela pesquisa A musicoterapeuta conta que a intensidade da dor era tão forte que pelo menos duas vezes por mês ela estava no PS (pronto-socorro) para tentar aliviar as crises. — Cheguei a bater o carro várias vezes porque o trânsito piorava a dor e não tinha nem força para virar a direção.Tratar a endometriose possibilita a gravidez, avisa médico A dor também afetou a vida pessoal de Juliana, que passou a ter problemas no relacionamento amoroso. — Eu e meu marido sempre tivemos uma relação sólida, mas acabamos desenvolvendo depressão e precisamos procurar ajuda profissional. Além disso, a dor também interferiu na nossa vida sexual. O diagnóstico de endometriose apareceu aos 30 anos com uma visita ao ginecologista. Embora a notícia tenha sido um “alívio” para a musicoterapeuta, a cirurgia recomendada pelo médico não foi suficiente para solucionar a doença. — Saí da cirurgia com mais dor. Há cerca de um ano, Juliana encontrou no tratamento com uma equipe multidisciplinar e alguns comprimidos diários o controle da sua doença. — Voltei a ter sonhos, ser mãe, mulher e profissional.Dor é emocional? Segundo a anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, coordenadora do Centro Integrado do Tratamento da Dor em São Paulo, “a dor é uma experiência física e emocional”. — A dor não deve ser desprezada e tratada como algo normal. Ela afeta sono, lazer, trabalho, vida sexual, humor, raciocínio e leva à depressão. Por isso, à medida que a dor melhora, observamos melhora não só no físico, mas também no emocional. Segundo a especialista, a dor afeta de 20% a 40% da população mundial. Uma recente pesquisa sobre como a dor afeta a vida social do brasileiro, encomendada pela Mundipharma, revelou que o incômodo atrapalha a rotina diária de 76% das pessoas. Para prevenir o quadro, o presidente da SBED (Sociedade Brasileira do Estudo da Dor), José Tadeu Siqueira, alerta que é importante não negligenciar o incômodo. — A dor aguda, aquela que aparece e dura poucos dias, pode evoluir para dor crônica. Nem sempre a dor crônica tem uma causa, ela pode ser a doença em si com outros sintomas, como imobilidade, depressão, distúrbio do sono. O médico reforça que antes de mascarar a dor com um monte de analgésico, é importante procurar o especialista e descobrir a causa do problema, afinal “prevenir sempre é o melhor caminho”.