Mãe relata frustração por não conseguir amamentar o filho: “Foi a maior culpa da minha vida"
Jornalista sofria fortes dores devido à infecção na mama; especialista dá dicas para mamães
Saúde|Dinalva Fernandes, do R7
Que amamentar faz bem para as mães e, principalmente, para os bebês, muita gente já sabe. Mas o que deveria ser natural pode se transformar em algo doloroso e traumático para a mulher e, com a frustração, ela desiste ou não consegue dar de mamar aos filhos. A jornalista Nathalia Ilovatte, de 29 anos, por exemplo, sofreu com uma infecção no tecido mamário. As fortes dores decorrentes do problema a impossibilitaram de continuar o aleitamento do filho Benjamin, de seis meses, quando ainda era bem pequeno. Hoje, ela diz ter conseguido se livrar dessa culpa depois de perceber que "o mais importante era estar presente e bem" para o bebê. Veja a seguir o relato de Nathalia:
Durante a gravidez inteira, fui atrás de cursos sobre maternidade e amamentação. E meu marido ia junto. Ele aprendeu massagem para ajudar o leite a descer, via textos, vídeos. Tentei achar o máximo de informação para conseguir amamentar. Eu sempre achei lindo e queria muito. Sabia da importância da amamentação, do vínculo mãe e bebê, da saúde e tudo o mais. Sabia que não seria fácil no começo, mas que daria certo.
O Benjamin nasceu de parto natural, que era outra coisa que eu queria muito. E imaginava que ia conseguir amamentar com mais facilidade porque a criança já nasceria e iria direto para o peito, que era instintivo. Mas isso não é para todo mundo.
No primeiro dia [que ele mamou] já me machucou, mas eu continuei e recebi alta. Eu sabia que ia doer para o leite descer e pela contração do útero — a amamentação ajudar o útero a se contrair para voltar ao tamanho que era antes da gravidez —, mas doía demais. Doía o útero, o leite descendo e o mamilo apertando. Mas até aí beleza, e me deram alta.
A frustração
Em casa, ficava um tempão no peito, mas acordava chorando. Era exaustivo. Uma enfermeira especialista em amamentação disse que ele dormia durante a mamada e que, por isso, não mamava o suficiente. Depois que acertei a pega — posição certa para a amamentar—, pensei que a partir de então iria funcionar.
Ele mamava. À noite, a água batia no meu peito e eu chorava de dor porque o mamilo estava muito machucado e não cicatrizava. Eu via a pelezinha saindo na boca dele, sangue e o mamilo rachado. Se continuasse daquele jeito, ficaria ainda mais grave. Eu comecei a tirar o leite com a bombinha elétrica e colocava na mamadeira. A ideia era essa porque era ruim dar o leite no peito. Não melhorara, não cicatrizava e a bombinha fazia rachar mais.
O peito estava tão duro e vermelho até que descobri que estava com mastite [infecção no tecido mamário], comecei a tomar antibiótico e o leite empedrou. Com a infecção, a dor era pior ainda e nem conseguia dormir do lado do peito infeccionado. Depois que a situação melhorou um pouco, eu pensei ‘agora posso voltar a dar de mamar’. Mas não deu.
Eu tentava amamentá-lo e ele ficava nervoso, não pegava o peito direito e só chorava. Mamar no peito é muito mais trabalhoso que a mamadeira. E eu acabava dando a mamadeira, o que diminuía a chance de ele voltar a pegar o peito de novo. E o leite saía cada vez menos.
Uma noite, tirei todo o leite que consegui. Ele mamou, mas queria mais, e eu já não sabia o que fazer. Peguei a lata de fórmula no armário e dei para ele. Não podia deixar meu filho com fome. Eu esperava ele dormir e chorava. Ficava muito triste porque não conseguia dar de mamar. Aí, ele ficou só na mamadeira. Hoje, não tenho mais leite.
Eu via artigos dizendo que o leite materno ajudava a prevenir uma série de doenças e pensava que estava acabando com a saúde do meu filho. Me senti culpada e frustrada. Também sentia vergonha de dar mamadeira para ele na rua. Tinha medo de que as pessoas se aproximassem e falassem alguma coisa, do tipo ‘Que tipo de mãe que é você que não amamenta seu filho? ’. E isso realmente aconteceu. Eu ouvia comentários de outras mães, cutucadas, lição de moral, e chorava que nem criança. Foi a maior culpa da minha vida.
O alívio
Eu continuei tentando porque era o melhor para o meu filho, mas ele continuava chorando. Aquilo acabava comigo e fazia o meu sentir uma péssima mãe. Agora, percebo que estou muito mais próxima dele, mais presente, e isso é o mais importante. A gente consegue criar vínculo com o filho de outras maneiras, inclusive dando mamadeira.
Em grupos de mães, conheci outras mulheres que passaram pelo mesmo problema e também sentiram a sensação de fracasso. Cobrar de uma mãe não ajuda em nada. O que ela precisa é de apoio da família e dos amigos para que fique emocionalmente bem.”
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“Pega certa”
A mastite é uma inflação no tecido mamário, que pode ocorrer devido a processos infecciosos locais, segundo explicou a neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana Clery Bernardi Gallacci.
— O problema pode acontecer por entrada de bactérias por lesão da pele ou simplesmente por processo inflamatório local devido à estagnação de leite nas mamas [entupimentos dos ductos mamários] e ou algumas anomalias nos mesmos.
Qualquer mulher pode ter mastite, e é mais comum que ele ocorra nos três primeiros meses da amamentação. Os sintomas são dores nas mamas, inchaço, calor, febre e calafrios, e otratamento é feito à base de antibióticos. Já os analgésicos, podem ajudar a aliviar as dores, explicou a médico. Por isso, é importante que haja o esvaziamento completo das mamas para evitar a inflamação.
A maioria dos problemas na amamentação, como a mastite por exemplo, podem ser resolvidos com a pega certa na hora da mamada, alerta Clery.
— Amamentar não machuca. Se machucar, é porque a pega está errada. Existem várias técnicas para cada tipo de mamilo, de peito etc. Se não conseguir amamentar, a mãe deve procurar o obstetra dela para cuidar da mama.