Médicos estrangeiros relatam experiência negativa com "importação" de cubanos
Representantes de entidades da Venezuela e Bolívia vivenciaram experiência há poucos anos
Saúde|Vanessa Sulina, do R7
A intenção do Governo Federal de trazer médicos de outros países para atuarem em regiões mais carentes brasileiras é alvo de crítica pelas entidades médicas. Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (26), em São Paulo, representantes brasileiros trouxeram representantes das classes médicas da Bolívia e Venezuela para contar a experiência de importação de cubanos aos seus países. Ambos criticaram fortemente a medida.
Foi em 2003 que o governo da Venezuela levou médicos de Cuba, de acordo com o médico Douglas Natera. Segundo ele, os profissionais não tinham “ao menos um título” que mostravam que eram médicos.
— Nós só sabíamos que eram cubanos, mas não demonstraram que eram médicos. Quando entraram de maneira oficial, eles já tinham supostamente quatro anos de exercício da profissão, mas não tinham título. O diploma parecia um papel feito por criança. Foram depois então expulsos do país. Na verdade, eles usurparam a função de médicos. Eram em sua maioria taxistas, veterinários, carpinteiros.
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Por causa das mesmas condições enfrentadas na Venezuela, o representante médico Aníbal Cruz explica que na Bolívia o projeto também fracassou. A importação aconteceu em 2006.
— Me lembro de um homem de 36 anos que caiu de uma árvore e sofreu um trauma renal. Ele foi atendido por um médico cubano que lhe arrancou os dois rins. Os médicos bolivianos fizeram uma denúncia e iríamos fazer o transplante. Nós lutamos para que ele não fosse levado ara Cuba. Mas ele foi e nunca mais tivemos notícias.
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Trabalho escravo
Para o presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Roberto d´Ávila, a intenção de trazer médicos sem revalidação do diploma é ilegal, uma vez que a “lei da educação prevê a revalidação do diploma no estrangeiro”, além do registro no conselho regional de medicina.
Além da falta de revalidação do diploma, Geraldo Ferreira, presidente da ANM (Associação Nacional dos Médicos), afirma que trazer médicos de fora e obrigá-los a se fixar em determinada região pode ser considerado “trabalho escravo”.
— Enquadraremos isso e entregaremos a OMT (Organização Mundial do Trabalho). Além disso, eles não podem trabalhar se não for por concurso. Se isso acontecer, vamos levar ao Judiciário. O importante é promover a valorização do trabalhador brasileiro para que ele tenha uma carreira decente.
Paralisação para melhoria na saúde
Entidades médicas prometem paralisar as atividades na próxima quarta-feira (3) a partir das 10h em todo o País. O objetivo dos profissionais é mobilizar e chamar atenção da população para o projeto do Governo Federal de importar médicos cubanos, além da precariedade dos atendimentos e infraestrutura nos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde) e da falta de incentivo de carreira.
O presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), Florentino Cardoso, diz que por meio da mobilização será possível “mostrar o caos e as verdades da saúde pública do Brasil”. Segundo ele, a área médica enfrenta diversos “grandes problemas”, entre eles a falta de financiamento.
— Os médicos não suportam mais atender as pessoas com paredes caindo, com posto sem água há dois meses. Vamos aproveitar este momento histórico para reconstruir o País.
Governo quer médico este ano
Governo Federal quer trazer ao Brasil já neste ano os médicos estrangeiros para atuarem na rede pública de saúde. O edital de chamamento dará prioridade aos médicos brasileiros, mas as vagas que não forem ocupadas serão destinadas a médicos de outros países. A medida faz parte do Pacto da Saúde, assinado entre a presidente, Dilma Rousseff e governadores nesta segunda-feira (24). A data para a publicação do edital ainda não foi definida, mas segundo o ministro da saúde, Alexandre Padilha, há pressa:
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Segundo o Ministério da Saúde, ao chegar no Brasil os médicos passarão três semanas em avaliação em uma universidade brasileira e com permanente acompanhamento para garantir a qualidade do atendimento ao paciente antes de irem para os hospitais. Eles deverão também ter capacidade de se comunicar bem, quem estiver fora dos padrões não poderá exercer a função e terá que voltar ao país de origem.
Para Alexandre Padilha, a medida é a mais acertada, no momento, para atender a carência de médicos.