Pílula brasileira que promete combater câncer levanta debate sobre cura e governo investirá R$ 10 mi em pesquisa
Ministério vai dar R$ 10 milhões para desenvolvimento de estudos sobre o medicamento
Saúde|Do R7
Em 2015, surgiu uma substância no Brasil chamada fosfoetanolamina, que promete combater o câncer. Chamada "pílula do câncer", a substância foi desenvolvida no Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos.
A substância foi desenvolvida há mais de 20 anos por pesquisadores do IQSC (Instituto de Química de São Carlos) da Universidade de São Carlos e vem sendo usada como tratamento experimental contra o câncer.
Apesar de não haver pesquisas comprovando a segurança ou eficácia da substância para o tratamento da doença em seres humanos (apenas alguns estudos preliminares in vitro e com camundongos), centenas de pacientes entraram com ações na Justiça para ter direito à "droga”. O professor que orientou a pesquisa inicial, Gilberto Chierice, está aposentado e defende a distribuição da substância, que acredita ser segura, apesar de não ter dados para comprovar isso.
No começo, a pílula vinha sendo entregue no campus de São Carlos (SP), mas por causa do aumento da procura, a USP resolveu entregar a substãncia pelo correio. Atualmente, a universidade produz as pílulas somente para os casos de solicitação jurídica.
Após toda essa discussão, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação informou que vai investir R$ 10 milhões em pesquisas para descobrir se a polêmica substância tem potencial para tratar o câncer. A ideia é que Instituto do Câncer e Fiocruz participem dos trabalhos, mas a Anvisa acompanhará todo o processo.
De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, o formato proposto pelo governo prevê a análise da molécula, a realização de estudos não clínicos até eventual realização de pesquisa clínica.
Pacientes com câncer lutam pelo direito de ter acesso à pílula da USP contra a doença
De acordo com o diretor da Anvisa, Jarbas Barbosa, a distribuição da substância pode ser considerada ilegal por não ter passado por testes clínicos, não ter aprovação da agência federal e não ser produzida em um laboratório de medicamentos. Atualmente, a universidade produz as pílulas apenas para os casos de solicitação jurídica.
Em outubro deste ano, o presidente da Sboc (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), Evanius Wiermann, afirmou que não há como utilizar a substância nos pacientes sem as devidas análises de segurança e eficácia.
— Não é certo sermos coniventes com uma droga que não tem evidência científica.
O diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Paulo Hoff, afirma que os estudos clínicos são essenciais para que a vida dos pacientes não seja colocada em risco.
— O estudo determina os efeitos colaterais, a melhor administração e as indicações de medicação. Isso vale para um antibiótico e para um remédio contra o câncer. É o que dá noção de eficácia e segurança para ser usado.