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Após denunciar João de Deus, líder do Vítimas Unidas sofre ameaças

“Há risco de vida, sim. Essas pessoas são perigosas”, diz Vana Lopes, vítima do ex-médico Roger Abdelmassih, ao R7

Brasil|Juliana Moraes, do R7

Vana Lopes relata ameaças após denunciar médium
Vana Lopes relata ameaças após denunciar médium

Vana Lopes, vítima de Roger Abdelmassih e líder do grupo Vítimas Unidas auxilia mulheres vítima de abusos e se tornou uma das responsáveis por trazer à tona as denúncias contra João de Deus.

As primeiras vítimas procuraram a instituição em busca de ajuda e, desde então, ela se dedicou a fazer uma rede de apoio às mulheres que relatam abusos sexuais do médium. Abdelmassih, ex-médico de reprodução assistida, foi condenado a 181 anos de prisão por estupro de pacientes e está em prisão domiciliar. 

Além de orientar as vítimas e oferecer apoio psicológico com profissionais da área, Vana se dedica a colher provas para um dossiê contra o médium, tudo em parceria com o Ministério Público.

Ao R7, a ativista relata ameaças sofridas depois de tornar o caso público. “Sofro ameaças desde a caçada ao Roger Abdelmassih, mas as mais recentes começaram com as denúncias do João do Mal [João de Deus]”, afirma. “Essas ameaças têm sido constantes e são feitas pelo Facebook. Alguns também mandam para o meu e-mail. Como trabalhamos on-line, não podemos dar nossos endereços a ninguém porque somos ameaçadas de morte.”


Ainda de acordo com ela, as pessoas que fazem as ameaças também tentaram hackeá-la. “Usamos muito a internet para divulgar os crimes dessa criatura e de toda a gangue e dos cúmplices. No meu e-mail tenho recebido muitas, mas muitas denúncias. Tentaram invadir o meu e-mail, do grupo e também o meu Facebook”, afirma a ativista. Os IPs (Internet Protocol, que é o número que identifica o computador em uma rede) que tentaram invadir as redes de Vana estão sendo investigados.

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Vana diz que as ameaças também chegam como forma de intimidação. “Pessoas, inclusive, têm avisado que estão fazendo Boletim de Ocorrência contra nós porque estamos dando nomes aos coparticipantes. Não se usa o Judiciário, isso é considerado coação”, alega. “A última [ameaça] que recebi era a de que ia pagar por tudo o que estávamos falando”, completa.


Nesta segunda-feira (7), a ativista Sabrina Bittencourt encaminhou ao R7 áudios com ameaças de Rodrigo Mello Oliveira, cunhado de Chico Lobo, administrador da Casa Dom Loyola. Oliveira, no entanto, nega as acusações e diz que “jamais a intenção” foi de ameaçar.

A líder do Vítimas Unidas diz que as ameaças sofridas pelas ativistas são reais. “Há risco de vida, sim. Essas pessoas são perigosas”, garante.


Para Vana, as mulheres abusadas por João de Deus também sofrem algum tipo de ameaça. “As vítimas estão sendo intimidadas, sim. Quem tem mais contato é a Dr. Maria do Carmo, que é psicóloga delas e, por ética, não pode dizer o conteúdo da conversa. Mas as que falam comigo de forma informal, como vítimas, se sentem coagidas e têm medo”, diz. “Ainda mais porque ele tem posse de arma e lá tem os colaboradores que, de certa forma, coagem só com a presença.”

A líder do Vítimas Unidas, no entanto, se diz confiante diante das denúncias. “Não posso dizer que não há medo, porque somos mortais. Mas estamos reagindo e não vamos parar. O silêncio morreu e ninguém está de luto. Estamos lutando. É diferente”, comemora.

Devido às ameaças, Sabrina Bittencourt, Dr. Maria do Carmo [psicóloga do Vítimas Unidas] e Vana Lopes vivem fora do país ou em local mantido sob sigilo. Segundo ela, o caso é mais perigoso porque envolve políticos e empresários influentes da região “que ganhavam muito dinheiro com o charlatanismo”. Além da preocupação com a segurança, elas se cercaram de cuidados específicos para lidar com o caso João de Deus. “Lá em Abadiânia também tem pessoas do bem. E elas estão lá disfarçadas, porque estavam se sentindo coagidas. Elas não compactuavam com isso e vão nos orientando a cada passo. Recebo muita orientação de pessoas que estão infiltradas e eles nem imaginam”, conclui.

A defesa de João de Deus nega todas as acusações.

João de Deus continua preso após denúncias
João de Deus continua preso após denúncias

Entenda o caso

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, é acusado por diversas mulheres de abuso sexual durante os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás.

O Ministério Público denunciou o médium em 28 de dezembro por quatro crimes: dois por violação sexual mediante fraude e dois por estupro de vulnerável.

Durante as buscas nas casas de João de Deus, foram encontradas armas, esmeraldas e malas de dinheiros. A Justiça de Goiás concedeu habeas corpus pelo porte ilegal de arma. O médium, no entanto, continua preso por ser investigado pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Para esses crimes, o habeas corpus foi negado.

O MP recebeu mais de 600 e-mails com denúncias contra o médium. As mulheres que denunciaram João de Deus têm idade entre 9 e 67 anos.

Até o momento, a Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. O Ministério Público, porém, já ouviu mais de 100. Além disso, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 50 milhões das contas do médium.

Na última quarta-feira (2), João de Deus passou mal e foi levado às pressas para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Na quinta-feira (3), teve alta e voltou para o Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), onde está preso.

O advogado criminalista Alberto Toron, que representa João de Deus, nega as acusações de abuso sexual contra o médium.

Nesta segunda-feira (7), as denúncias contra o médium voltaram a ser analisadas pelo TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás).

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