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Barril de pólvora, Pacaraima fica na região do 'paraíso das cachoeiras'

Cidade brasileira na fronteira com a Venezuela sofreu nos últimos anos com a crise no país vizinho. Mais de mil refugiados foram expulsos da cidade

Brasil|Diego Junqueira e Márcio Neves, do R7, enviados especiais a Pacaraima (RR)

'Gran Sabana' venezuelana foi retratada em filme como 'o paraíso das cachoeiras'
'Gran Sabana' venezuelana foi retratada em filme como 'o paraíso das cachoeiras' 'Gran Sabana' venezuelana foi retratada em filme como 'o paraíso das cachoeiras'

No extremo norte do Brasil, a cidade de Pacaraima, na fronteira de Roraima com a Venezuela, está encravada em uma das regiões mais bonitas e selvagens da América do Sul, a Gran Sabana venezuelana. Mas a cidade acostumada ao tursimo vem sofrendo transformações nos últimos anos em razão do intenso fluxo de imigrantes venezuelanos.

A Gran Sabana é formada por um cerradão misturado com floresta amazônica, que avança também sobre o Brasil e a Guiana.

Aqui estão os famosos "tepuys", imensos chapadões de pedra onde correm rios, cachoeiras, lagos e cavernas, como o Monte Roraima, o mais famoso deles, que atrai turistas de toda a parte do mundo.

Animação Up foi inspirada no relevo da região
Animação Up foi inspirada no relevo da região Animação Up foi inspirada no relevo da região

É também nesta região que fica o "paraíso das cachoeiras", retratado no filme norte-americano Up - Altas Aventuras (2009), em que um aposentado, prestes a perder sua morada após a morte da mulher, decide amarrar centenas de balões em sua casa para voar até essa região inóspita. Era nesse local em que a companheira dele sonhava em morar, no alto de uma enorme cachoeira — especificamente no Salto Ángel, a maior cachoeira do mundo, com quase 1 quilômetro de altura.

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"Antigamente não tinha como vir a Gran Sabana e não comer um rodízio em Pacaraima", conta Maria Celeste Vasquez, venezuelana de 34 anos, natural de Maracay, a 1.400 km de distância. Ela vive há dois anos na cidade brasileira trabalhando com o acolhimento de imigrantes que abandonam a Venezuela para tentar uma nova vida no Brasil.

Pacaraima está na fronteira do Brasil com a Venezuela
Pacaraima está na fronteira do Brasil com a Venezuela Pacaraima está na fronteira do Brasil com a Venezuela

Em entrevista ao R7, Maria conta que Pacaraima era símbolo do turismo da Gran Sabana no Brasil, principalmente pelo artesanato indígena, moradores originários da região, e pelo rodízio de churrasco — ideia que simplesmente encanta os venezuelanos.

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A primeira vez que a reportagem esteve em Pacaraima, num domingo de julho de 2007, não havia uma viva alma nas ruas, com exceção dos taxistas, que transportam frequentemente os viajantes que chegam de Santa Elena de Uairén, do lado venezuelano da fronteira, até a capital Boa Vista, a 200 km dali — trajeto que então custava R$ 20 e hoje sai por R$ 50, com o carro cheio.

Naquele ano, teve início o segundo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, quando a chamada “revolução bolivariana” viveu seus últimos momento de boom econômico (PIB de 8,4%), meses antes de o preço do barril do petróleo começar a despencar no mercado internacional, a partir da crise mundial de 2008.

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Responsável por mais da metade das receitas do país, a queda do valor do petróleo transformou a Venezuela, impactando profundamente os programas sociais de Chávez. A pequena Pacaraima, de 12 mil habitantes, foi arrastada nesse processo, já que sua economia é totalmente dependente do país vizinho. O comércio local se tornou assim um termômetro da crise de abastecimento que há uma década aflige o lado venezuelano da fronteira.

As lojas de artesanato e churrascarias deram lugar a estabelecimentos que vendem mantimentos básicos, principalmente comida e óleo para o motor de veículos.

É muito comum ver hoje sacos de cesta básica prontos para venda e dezenas de lubrificantes automotivos em boa parte do comércio, dividindo espaço com as roupas nas lojas de vestuário.

Em 2013, após a morte de Chávez e a eleição do presidente Nicolás Maduro, a economia venezuelana entrou em franca decadência. Desde então, a crise econômica e de abastecimento abriu espaço para a crise social e humanitária, com a fuga de 2,3 milhões de venezuelanos de seu país, segundo a OIM (Organização Internacional das Migrações, braço da ONU), sendo 50 mil para o Brasil.

Com a alta no número de habitantes — fixos, temporários ou em trânsito —, Pacaraima passou a sofrer mudanças diariamente. As ruas se encheram de ambulantes venezuelanos, que tentam se estabelecer na cidade e ganhar algum dinheiro com a venda de café, bolos, pães, cigarros e isqueiros, fugindo da fiscalização da prefeitura e de um ameaçador 'toque de recolher' noturno.

Sem ter para onde ir e sem grana para seguir viagem Brasil adentro, centenas deles passaram a viver na ruas, em uma cidade pobre e que não tem condições de acolhimento.

A explosão populacional elevou também os índices de violência, e o que mais se escuta dos moradores da cidade é que “a tranquilidade acabou”.

A situação ficou pior na semana passada, quando o assalto e agressão a um comerciante local, cometidos supostamente por quatro venezuelanos, levaram um grupo de moradores e agitadores políticos locais a atear fogo aos pertences de centenas de refugiados que viviam nas ruas, expulsando 1.200 deles para o outro lado da fronteira.

Apesar disso, novos refugiados continuam chegando diariamente, em fuga da miséria que viviam em seu país, e centenas de venezuelanos já estão estabelecidos na cidade. Para eles, Pacaraima é a chance de uma nova vida, um lugar onde eles sonham construir boas recordações.

Veja como é a casa de uma família venezuelana em Pacaraima:

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