Boa Vista escolhe área de 40 mil m² para 12 mil refugiados venezuelanos
Prefeitura da capital de Roraima quer alojamento humanitário para tirar refugiados das ruas da cidade antes da temporada de chuvas
Brasil|Diego Junqueira, do R7
A Prefeitura de Boa Vista sugeriu um terreno de 40 mil m² no município para alojar milhares de refugiados venezuelanos que atualmente estão em abrigos improvisados ou nas ruas da capital de Roraima.
A construção de um enorme alojamento humanitário é vista pela gestão municipal como “urgente”, em razão da precária situação dos refugiados e por causa da aproximação da temporada de chuvas, que em quatro semanas começará a inundar vias da capital.
A prefeita Teresa Surita (MDB-RR) enviou ofício à Casa Civil com a sugestão do local em 19 de fevereiro, quatro dias após o governo federal reconhecer a “crise humanitária” em Roraima e determinar assistência emergencial aos venezuelanos. A pasta comandada por Eliseu Padilha é responsável pelas ações federais na crise dos refugiados.
“A cada dia a situação fica mais dramática em nossa capital. Milhares de famílias estão vivendo de forma bem precária e centenas de pessoas continuam chegando diariamente, ocupando nossas praças e ruas, sem condições adequadas de higiene, sem água, sem banheiro, em total miséria. A fome tem sido combatida com ações voluntárias de nossa população”, escreve a prefeita no ofício, a que o R7 teve acesso com exclusividade.
“O período de chuvas fortes inicia-se no final de março, início de abril. Se a condição de sobrevivência nas ruas e praças já é difícil, com as chuvas essa situação vai piorar muito”, continua a prefeita.
O terreno
O terreno escolhido fica no bairro Treze de Setembro, a cerca de 7 km do bairro Tancredo Neves, onde se concentram os venezuelanos sem moradia.
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A área de 40 mil m² pertence ao governo federal e está localizada no mesmo quarteirão da Superintendência da Polícia Federal em Roraima, próximo à BR-174, que vai de Boa Vista a Manaus.
O terreno está situado em “local plano, alto, sem perigo de alagamento, e dispõe de infraestrutura de água potável, energia elétrica em baixa e alta tensão e rede de esgotamento sanitário”, informa o ofício. O Comando do Exército em Roraima já solicitou à prefeitura a planta do local.
A estimativa é que a área tem capacidade para abrigar entre 12 mil e 13 mil refugiados, o que seria suficiente, neste momento, para atender os venezuelanos em pior situação.
Os governos municipal, estadual e federal não sabem a quantidade de refugiados venezuelanos na cidade. Dados oficiais da Polícia Federal indicavam, no final de 2017, a presença de 30 mil venezuelanos em todo o território brasileiro.
Mas o fluxo migratório se intensificou em 2018. Segundo a PF, cerca de 800 venezuelanos cruzam a fronteira com o Brasil diariamente em Pacaraima (RR), situada 190 km ao norte de Boa Vista. A estimativa é de que haja 40 mil venezuelanos na cidade, o que representa mais de 10% da população local, estimada em 332 mil pessoas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“Não se criou uma coordenação nacional, em que um general viria para cá para cuidar disso? Então por que até agora não aconteceu? Nós já não mostramos o local que a gente pode fazer esse campo de refugiados? Já não vai começar a chover? Então por que a ação não acontece?”, perguntou a prefeita, em entrevista ao R7.
Ela reclama que o governo federal realiza “reunião atrás de reunião”, mas sem ações concretas.
— Já tem terreno, já tem coordenação, então o que falta para fazer essa ação? Aí vem para cá todas as organizações, todos os ministérios, notícia todos os dias, mas concretamente nada acontece.
Em nota ao R7, a Casa Civil afirma que o governo federal recebeu “algumas sugestões de locais para o abrigamento humanitário”, atualmente em avaliação por equipes técnicas.
“Estão sendo consideradas todas as áreas oferecidas. Equipe formada por engenheiros e coordenada pelo General [Eduardo] Pazuello está no local, em conjunto com o Acnur/ONU, definindo as áreas mais propícias para construção dos abrigamentos humanitários”, diz a nota.
A Casa Civil informa que os abrigos serão construídos com recursos da União, mas não informou prazo para o início das obras.
Procurada, a Acnur (Agência da ONU para Refugiados) não tinha detalhes da operação. O Exército não enviou uma resposta até a publicação desta reportagem.