Ciro e Dudu da Fonte queriam silêncio de ex-assessor, diz PGR
Procuradoria apura tentativa de obstrução de Justiça por parte de senador e deputado federal; PF fez buscas no Congresso na manhã desta terça (24)
Brasil|Thais Skodowski, do R7 com Agência Estado
![Senador Ciro Nogueira é um dos alvos da operação](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/M6E36H2TSJKS5BVAUOC2DNVZPY.jpg?auth=d1ecdf927838b76bed9cb5ce308c7944b6f159da018234fada1f448abfc8c178&width=800&height=525)
A PGR (Procuradoria-Geral da República) suspeita que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), conhecido como Dudu da Fonte, tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor do PP (Partido Progressista) que tem colaborado com as investigações da Operação Lava Jato. Os dois políticos foram alvos de mandados busca e apreensão nesta terça-feira (24).
O ex-deputado federal Márcio Junqueira foi preso preventivamente, apontado como o intermediário do esquema, que inclui o pagamento de despesas pessoais, ameaças e até proposta para a mudança do teor de depoimento que incriminaria os alvos da operação que ocorreu nesta terça.
De acordo com a PGR, o objetivo das medidas cautelares é reunir mais provas de que houve atuação para a compra de silêncio. Membros do PP são atualmente investigados no Supremo por associação criminosa e desvio de recursos públicos, no caso conhecido como "quadrilhão do PP".
Além dos gabinetes ocupados pelos parlamentares no Congresso Nacional e dos respectivos apartamentos funcionais, em Brasília, foram realizadas buscas em endereços residenciais na capital federal, em Teresina (PI), Recife (PE) e Boa Vista (RR). Ao todo, foram cumpridos nove mandados, sendo oito de busca e apreensão e um de prisão preventiva.
As ordens foram determinas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), relator da Lava Jato no Supremo, após pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
"Quadrilhão do PP"
Eduardo da Fonte e Ciro Nogueira são investigados pela Lava Jato por suposta prática de associação criminosa, juntamente com outros parlamentares do PP: Aguinaldo Ribeiro, Arthur Lira, Benedito de Lira, José Otávio Germano, Luiz Fernando Faria e Nelson Meurer.
![Outro investigado é o deputado federal Dudu da Fonte](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/GEE3WGV4YJIMXJYG4K4NKFSXVI.jpg?auth=94a1124289043fa3170f7951a2f3237747100dbd1483bbca07ba8d0491602133&width=1212&height=794)
De acordo com denúncia do Ministério Público Federal feita em setembro de 2017, os parlamentares seriam integrantes do núcleo político de uma organização criminosa voltada ao cometimento de delitos contra órgãos e empresas da administração pública que, "desde 2004, utilizando-se dos mandatos parlamentares e na qualidade de membros do Partido Progressista, integraram pessoalmente o núcleo político de uma grande organização criminosa estruturada para arrecadar em proveito próprio e alheio vantagens indevidas no âmbito da Administração Pública Federal direta e indireta", de acordo com denúncia da PGR.
Provas reunidas no inquérito apontam que o esquema criminoso se estendeu entre 2006 e 2015 e teria causado prejuízo de cerca de R$ 29 bilhões à Petrobras, "embora a atuação do grupo não tenha se limitado a ela", diz a PGR.
Defesa
Eduardo da Fonte ainda está no Recife, informou sua assessoria de imprensa. Assessores do parlamentar disseram desconhecer detalhes da operação da PF. A previsão era de que Da Fonte chegasse a Brasília na tarde desta terça-feira.
Em nota, a defesa do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse que está acompanhando os mandados de busca e apreensão que estão sendo realizadas na residência e no gabinete do parlamentar. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay) confirmou que Nogueira está no exterior, mas afirmou que não sabe sua localização exata e ainda não conseguiu contato com ele. O senador passou o último final de semana em Portugal.
"Desconhece a defesa, até o presente momento, as razões da determinação judicial do Ministro (Edson) Fachin (do Supremo Tribunal Federal). É certo que o senador sempre se colocou à disposição do Poder Judiciário, prestando depoimentos sempre que necessário e, inclusive, já foi alvo de busca e apreensão. Continuará a agir o senador como o principal interessado no esclarecimento dos fatos", diz a nota divulgada por Kakay.
O advogado disse ainda que a defesa aguarda contato com o senador "para poder ter o necessário instrumento de poderes que dará direito ao acesso aos fundamentos da medida de busca e apreensão".
Já a assessoria de imprensa de Márcio Junqueira afirmou que a prisão é injusta e que o deputado é inocente. O Pros, partido ao qual ele é filiado, disse que não vai se pronunciar sobre a prisão.
Advogados de Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro afirmaram que os políticos não foram alvo da operação.