Comunicadores de cidades pequenas são os mais ameaçados
Informação é de relatório da ONG ARTIGO19; foram registradas 27 violações contra os profissionais em 2017
Brasil|Thais Skodowski, do R7
Dois comunicadores foram mortos, quatro sofreram tentativas de assassinato e 21 foram ameaçados de morte no ano de 2017, de acordo com o relatório “Violações à Liberdade de Expressão – 2017”, produzido pela ARTIGO19, Organização Não-Governamental de Direitos Humanos. A maioria dos casos ocorreu em cidades com menos de 100 mil habitantes.
De acordo com a ONG, houve uma redução em relação ao relatório do ano passado, que registrou 31 violações, mas os números continuam altos em relação a outros países e próximos da média histórica brasileira.
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Região
O Nordeste concentra mais da metade das violações, com 56% dos casos. Já na divisão por estados, o Ceará é o pior lugar de trabalho para os comunicadores, com sete violações. Os dois homicídios foram registrados no estado.
A grande maioria dos casos (69%) ocorre em cidades pequenas, com menos de 100 mil habitantes. Já as cidades médias, entre 100 mil e 500 mil habitantes, registram 23% dos casos. Nas cidades grandes, com mais de 500 mil habitantes, o número de violações é menor: com 8% das ocorrências.
Uma análise do relatório que cruzou a ocorrência das violações com os dados no “Atlas da Notícia”, iniciativa do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) e do VoltDataLab, mostrou que quase da metade dos casos aconteceu no “deserto de notícias”, cidades que não possuem nenhum veículo de imprensa periódico.
Segundo a ARTIGO19, a constatação é grave, porque demonstra que essas cidades tendem a permanecer sem a produção e circulação de notícias de interesse público porque não tem veículos estruturados que cubram questões locais.
Nessas regiões, as ocorrências foram registradas contra blogueiros e comunicadores independentes, que acabam sendo o único meio de informação.
Perfil dos mandantes
Agentes públicos e políticos são suspeitos de serem os executores ou mandantes em 70% dos casos.
Em relação as motivações, em primeiro ligar ficou a realização de denúncias (67%), seguido por emissão de críticas e opiniões (26%) e a realização de investigações jornalísticas (7%).
Homicídios
Os dois comunicadores assassinados foram o ex-radialista Francisco José Rodrigues, conhecido como Franzé, e Luís Gustavo da Silva. Ambos do Ceará.
Franzé foi morto com tiros disparados por dois homens no dia 11 de agosto de 2017, na cidade de Nova Morada. O atentado ocorreu quando ele saía de casa. O comunicador tinha uma página no Facebook, na qual comentava sobre crimes na região onde morava.
Já Luís Gustavo, tinha um blog em que denunciava crimes na cidade de Aquiraz. Ele foi morto a tiros na porta de casa no dia 14 de junho de 2017.
Desde 2012, quando a organização começou o monitoramento das violações à liberdade de expressão no Brasil, quase 40% dos comunicadores assassinados eram blogueiros.
Impunidade
De todas as 27 violações registradas em 2017, apenas em quatro a investigação deu início a uma ação penal. Em seis delas, a apuração não avançou e em quatro as vítimas não procuraram as autoridades.