Contrato por vacinas seria fechado com reverendo, diz Carvalho à CPI
Representante da Davati afirmou que empresa não possui nem mesmo CNPJ, por isso negócio seria feito no nome da Senar
Brasil|Gabriel Croquer, do R7
O representante da Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, afirmou nesta quinta-feira (15) à CPI da Covid que a negociação da qual ele fez parte com o Ministério da Saúde acabaria sendo assinada com a Senar (Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos), presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula, caso as tratativas fossem adiante.
"Essa operação se fosse feita diretamente com o Brasil seria feita pela Senar. Inclusive [a Senar] fez uma LOI [Manifestação de interesse, traduzido do inglês] em nome do governo brasileiro e enviou à Davati", afirmou o depoente.
O motivo seria porque a Davati não possui nem mesmo CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) registrado no Brasil. Mesmo assim, contou Carvalho, a empresa conseguiu chegar à cúpula executiva do Ministério da Saúde, e se reunir com então secretário Elcio Franco através de contatos de Amilton Gomes dentro da pasta. O reverendo, já convocado para depor à CPI, nega qualquer envolvimento no escândalo.
A suposta ajuda de Amilton, porém, não pareceu resultar em amizade com Cristiano Carvalho. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) mostrou trechos de mensagens apreendidas entre o depoente e seu colega na Davati, o representante Luiz Dominguetti, onde Cristiano chama o reverendo de "ladrão".
"Dominguetti, esses caras não são sério (sic). Esse pessoal do reverendo é pilantra, você me desculpa, Dominguetti", diz Carvalho em um dos áudios. "Eles são bandidos, Dominguetti, são bandidos. Tem um tal de Donizete ligando para o [coronel] Guerra, ameaçando o Guerra em nome da Senar."
As mensagens reproduzidas pelo senador mostraram ainda que o grupo se preparava para se encontrar até com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Carvalho disse não ter participado da reunião, e não soube responder se o reverendo se encontrou com Bolsonaro.
A negociação das vacinas que Carvalho está envolvido é cercada de suspeitas de corrupção, das empresas que estariam oferendo vacinas, e de servidores do Ministério da Saúde. A Davati, por meio de Dominguetti, dizia ter 400 milhões de doses da Astrazeneca (que não trabalha com intermediárias) ao governo federal.
Durante uma reunião informal entre o representante e o ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias em um restaurante de Brasília, o servidor teria pedido propina de U$ 1 por dose das vacinas. Ele nega as acusações e diz ser vítima de uma armação.