O CEO da Vitamedic, Jaílton Batista, em depoimento à CPI
Jefferson Rudy/Agência Senado - 11.08.2021O diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista, confirmou um aumento nas vendas da empresa com a ivermectina durante a pandemia de covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus, mas teve o consumo incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro na crise e faz parte do chamado kit-covid, adotado pelo governo como estratégia de tratamento precoce contra a doença.
Em depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (11), Batista citou um aumento acima de 600% no faturamento da empresa com a venda do medicamento entre 2019 e 2020. Ele confirmou dados apresentados pelo relator da CPI, Renan Calheiros, que haviam sido repassados anteriormente pela empresa. Segundo os números, as vendas com ivermectina totalizaram R$ 15,7 milhões em 2019. No ano seguinte, já durante a crise da covid-19, o faturamento com o produto foi de R$ 470 milhões, ou seja, 29 vezes maior. A empresa é uma das fabricantes do remédio no Brasil.
"Houve uma demanda do produto, nós somos fabricantes, nós produzimos o que o mercado demanda. Foi só isso", disse o diretor da companhia aos senadores. "Ele tem a indicação terapêutica para outras doenças. Para qualquer produto nosso, a gente vai produzindo conforme a demanda do mercado."
O empresário informou que, além da rede privada, a empresa vendeu o medicamento para o governo estadual de Mato Grosso e diversos municípios, entre eles cidades do Paraná, Goiás, Ceará, Pará e Acre. "Foram muitos municípios que fizeram aquisição", disse Batista, que declarou um "aumento interessante" nos medicamentos usados pela população na tentativa de combater a covid-19.
Jailton Batista declarou que, conforme a bula, o medicamento é comumente usado no combate a verminoses, sarna e piolho. Apesar disso, ele admitiu que o aumento nas vendas foi diretamente proporcional ao quadro da pandemia no Brasil. O diretor da empresa afirmou que não teria como medir os efeitos da atuação do presidente Jair Bolsonaro nas vendas.
O CEO confirmou também que a empresa financiou anúncios em jornais do país a favor do tratamento precoce para a covid-19. O pedido foi feito pela Associação Médicos pela Vida e a empresa prontamente aceitou custear as publicações em vários meios de comunicação do que chamou de "estudo técnico" dos profissionais de saúde. O custo total para a empresa foi de R$ 717 mil, contou Batista.
A ação recebeu críticas, por parte de senadores, que questionaram o fato de a Vitamedic investir em anúncios para venda de um remédio sem comprovação científica contra covid-19 em vez de estudos científicos que pudessem indicar a segurança ou não do medicamento.
A investigação sobre lucros de laboratórios com remédios do kit covid é um dos sete núcleos de investigação da CPI da Covid.