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Em carta à Seleção, CPI diz que Copa América não é segura

Texto cita 3ª onda da pandemia no país, baixo índice de vacinação, número de mortos e o estímulo a aglomerações

Brasil|Do R7, com Renata Varandas, da Record TV

Richarlison comemora gol do Brasil contra o Equador pelas Eliminatórias
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A CPI da Covid no Senado enviou carta aos jogadores e comissão técnica da Seleção solicitando que eles não entrem em campo pela Copa América, a ser realizada no Brasil a partir de 13 de junho, pois o torneio não é "a opção sanitária mais segura para o povo brasileiro".

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Entre os argumentos que, segundo o texto, foram sugeridos pelos técnicos da comissão "e sem qualquer viés político" estão a iminência de uma terceira onda da pandemia, baixo índice de vacinação, número acentuado de contaminações e mortes diárias, e a falsa sensação de segurança que o evento pode transmitir, estimulando aglomerações.

"Nosso modesto propósito é informar, alicerçados em argumentos estritamente técnicos, sem qualquer viés político. As razões para a realização da Copa América na iminência de uma terceira onda da pandemia no Brasil não corresponde a opção sanitária mais segura para o povo brasileiro", diz trecho inicial da reflexão, cujo título é "Por que a Copa América no Brasil é um mau exemplo".

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A carta vai ao encontro do movimento de jogadores e comissão técnica, que estão insatisfeitos com a realização do evento no país. O grupo prometeu se pronunciar após o jogo contra o Paraguai, na terça-feira (8), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.

Entre os motivos alegados para a suposta recusa em entrar em campo estão a pandemia e a falta de diálogo com o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo, que teria decidido trazer o torneio ao Brasil sem consultar os atletas.


Cabe ressaltar que a Argentina deixou de ser sede da Copa América devido à piora da pandemia de covid-19 no país. Já a Colômbia abriu mão da competição, pois vive protestos populares nas últimas semanas.

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O componente político ganhou ainda mais força após a confederação ter consultado o governo federal, que abriu as portas do país, alegando que outros torneios internacionais, como Libertadores da América, as próprias Eliminatórias e Sulamericana, ocorrem no país durante a pandemia.

"Fui instado pela CBF [Confederação Brasileira de Futebol], ontem [31 de maio], conversei com todos os ministros interessados e, de nossa parte, positivo", disse o presidente Jair Bolsonaro. "Agora, movimento da Globo contrário, porque o direito de transmissão é do SBT. Não está havendo jogo da Libertadores? Não está havendo da Sulamericana? Não começam agora, na sexta-feira [25], as Eliminatórias para a Copa do Mundo? Ninguém fala nada, não tem problema nenhum."

"Temos ciência da divisão existente no Brasil. Alguns setores tentam forçar a realização da Copa América, ou não, como um ato político. Como se a única neutralidade fosse obedecer sem questionar. Por isso, trazemos a lume esses argumentos nitidamente técnicos. Para muito além da política, há uma discussão entre ciência em oposição ao negacionismo", diz o texto da carta.

Veja a carta na íntegra

Por que a Copa América no Brasil é um mau exemplo

Esta reflexão, sugerida pela equipe técnica da CPI da Covid-19 no Senado Federal, é endereçada à Comissão Técnica da Seleção Brasileira e aos nossos craques, ídolos e atletas. Nosso modesto propósito é informar, alicerçados em argumentos estritamente técnicos, sem qualquer viés político. As razões para a realização da Copa América na iminência de uma terceira onda da pandemia no Brasil não corresponde a opção sanitária mais segura para o povo brasileiro.

1) O número de brasileiros vacinados representava, na totalização do dia 04/06/2021, apenas 10,77% do total da população. Isso o coloca o país na posição de número 64 no ranking mundial de vacinação adotando-se o critério percentual da população imunizada/100 mil habitantes. O Brasil não oferece segurança sanitária de acordo com dados objetivos para a realização de um torneio internacional dessa magnitude no país. Além de transmitir a falsa sensação de segurança e normalidade, oposta à realidade que os brasileiros vivem, teria o efeito reprovável de estimular aglomerações e transmitir um péssimo exemplo. Pelo atraso da vacinação estamos muito distantes da cobertura vacinal mínima para pensar em retomadas da vida normal;

2) O Brasil, onde pretensamente se realizaria a Copa América, regista hoje a trágica marca de mais de 470 mil mortos pela pandemia. Estamos vivendo um dos momentos mais críticos da doença, sob o risco concreto de uma terceira onda mais severa e, como constatado, com a população ainda não imunizada em percentuais seguros. Morrem em média perto 2 mil brasileiros todos os dias vitimados pela doença e o colapso do atendimento hospitalar se avizinha. Isso significa que a cada partida de futebol da Copa América, de 90 minutos, mais de 120 brasileiros estariam morrendo ao mesmo tempo. Futebol é uma das maiores expressões da alegria. Há alegria em uma situação como essa?

3) Temos ciência da divisão existente no Brasil. Alguns setores tentam forçar a realização da Copa América, ou não, como um ato político. Como se a única neutralidade fosse obedecer sem questionar. Por isso, trazemos a lume esses argumentos nitidamente técnicos. Para muito além da política, há uma discussão entre ciência em oposição ao negacionismo.

4) Pensem na preparação técnica de todos, nos treinamentos, deslocamentos, alojamentos, na meticulosa rotina de exercícios, na equipe de profissionais médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e tantos outros. Pensem nos esquemas táticos, nas técnicas que cada um desenvolve para alcançar o seu auge de desempenho como atleta. Há como negar que todos esses avanços são fundamentais? Essas rotinas e protocolos são “políticos”, as que todos vocês praticam todos os dias para manter a altíssima performance que é exigida de um atleta? Claro que não. Assim como não é político seguir protocolos internacionais num país que enfrenta um grave momento pandemia.

Não somos contra a Copa América no Brasil ou em qualquer outro lugar. Mas acreditamos que o torneio pode esperar até que o país esteja preparado para recebê-lo, assim como já aconteceu pela primeira vez na história com uma competição muito mais importante, as Olimpíadas do Japão. Não realizar e não participar da Copa América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis. É adotar a mesma disciplina técnica e científica que todos da Comissão Técnica e todos os Jogadores obedecem, desde sempre, todos os dias.

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