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Em seu centenário, corpo de ditador paraguaio aguarda repatriação

Alfredo Stroessner governou o país vizinho por 35 anos

Brasil|Do R7

Nem procissões nem coroas e nem sequer a lembrança — ao completar-se os cem anos de seu nascimento, sobre o túmulo do general paraguaio Alfredo Stroessner, no cemitério Acampamento da Paz, em Brasília, não havia neste sábado (3) nada mais que uma pequena flor amarela.

Uma única flor, aparentemente deixada pelo vento sobre a pequena lápide de mármore que só tem uma placa com o nome do general que governou o Paraguai, com mão de ferro, durante 35 anos e morreu no exílio, em Brasília, no dia 16 de agosto de 2006.

Nessa absoluta solidão, os restos de Stroessner esperam ainda para ser repatriados, um desejo que expressou em vida e que sua família quis tornar realidade para seu centenário, mas foi frustrado porque ainda não foram completados os trâmites necessários. Assim explicou nesta sexta-feira (2), em Assunção, o senador Alfredo "Goli" Stroessner, seu neto e herdeiro político, no meio de um dia marcado por protestos organizados na capital paraguaia por grupos de direitos humanos opostos à repatriação dos restos de um dos ditadores que mais tempo passou no poder na América Latina.

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Segundo estabeleceu em 2008 uma Comissão de Verdade e Justiça que investigou as violações de direitos humanos ocorridas ao longo da ditadura de Stroessner, nesse período de 35 anos houve 425 executados ou desaparecidos, 20 mil detidos e 20.814 exilados.

Vida


O general Stroessner chegou a Brasília em fevereiro de 1989, após a queda do regime que tinha presidido desde 1954, quando tirou do poder o presidente Federico Chaves. Moldou então a Constituição e as leis de acordo com seus interesses e foi reeleito oito vezes, sempre em pleitos arranjados e com votações arrasadoras, nas quais chegou a somar 90% dos votos, como ocorreu em 1983.

Durante os anos que passou em Brasília levou uma vida sumamente discreta e respeitou com todo rigor o silêncio político que lhe impunha sua condição de exilado. No entanto, a mansão que ocupava no Lago Sul da capital foi durante anos o destino de várias peregrinações políticas de líderes do Partido Colorado, que viam o general como uma espécie de conselheiro e mantinham a esperança de um retorno que nunca se concretizou.


Visitas

No entanto, ao completar-se hoje 100 anos de seu nascimento na cidade da Encarnación, fronteiriça com a Argentina, ninguém se aproximou do túmulo do general, situado no lote 3473 do setor A da Quadra 701 do cemitério. Alguns funcionários do local disseram neste sábado à Agência Efe que nem lembram quando alguém o visitou pela última vez.

Quem aparecia com certa frequência até pouco mais de dois anos era Gustavo Adolfo Stroessner, o mais velho de seus filhos e o único que permaneceu junto com seu pai durante todo o exílio. Gustavo Adolfo tinha sido coronel de Aviação e foi o primogênito dos três filhos que o general teve com sua esposa Eligia Mora, falecida em Assunção em fevereiro de 2006. Tinha chegado a Brasília junto com seu pai, também exilado, e desde então estava acusado pela Justiça paraguaia de diversos crimes de corrupção, e por isso sempre evitou retornar a seu país.

Acabou voltando finalmente em novembro de 2010, com 66 anos e doente de um câncer pelo qual já era tratado no Brasil e que, pouco após seu retorno, causou sua morte, no dia 20 de fevereiro de 2011 em um hospital de Assunção.

— Ele vinha sempre e deixava uma flor, mas há anos não o vejo.

A declaração é de um funcionário do cemitério, que até agora desconhecia a razão pela qual o único visitante frequente do túmulo do general um dia não apareceu mais.

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