Empresas tentam derrubar tabela do frete na Justiça
Existem pelo menos 40 ações judiciais contra a tabela do frete em curso. Escritórios de advocacia pretendem abrir mais processos
Brasil|Do R7
Enquanto o governo discute uma nova tabelade preço mínimo do frete, empresas e associações entram com dezenas de ações na Justiça para derrubar o acordo fechado com os caminhoneiros, no fim de maio.
A maioria alega inconstitucionalidade da Medida Provisória 832, que institui a política de preços do transporte rodoviário de cargas. Mas também há questionamentos em relação a outras medidas do governo para compensar os benefícios aos caminhoneiros, como a redução do Reintegra, programa de incentivo fiscal aos exportadores.
Até terça-feira (12), a AGU (Advocacia-Geral da União) estava monitorando 40 ações judiciais referentes à MP 832 e à Resolução da ANTT n.º 5.820, que regulamenta o assunto. Do total, 12 ações são coletivas, propostas por associações representantes de empresas, e 18 estão suspensas por decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que acolheu recurso da AGU em defesa das normas. Uma ação aguarda posicionamento do STF (Supremo Tribunal Federal).
A expectativa é que o número de ações aumente ainda mais nos próximos dias. O escritório Mattos Filho, por exemplo, deverá entrar nesta quarta-feira (13), com uma ação contra o tabelamento do preço dos fretes. "Há clientes se articulando para contestar a medida, pois entendem que o governo não pode impor preços", diz o sócio do escritório Mattos Filho, Bruno Werneck.
"No desespero de ver cessar a greve e desobstruir as rodovias de todo o País, o Poder Público concedeu o que não poderia ter concedido e passou além de sua competência legal e constitucional", avalia o sócio-fundador do escritório Azevedo Sette Advogados, Ordélio Azevedo Sette. Segundo ele, o acordo envolve, pelo menos, 11 questões que representam violações legais.
"As empresas fazem um planejamento contando com esses programas e decisões. Aí o governo altera a regra, a margem das empresas cai e o prejuízo aumenta", diz Sette. O escritório já entrou com três ações na Justiça, sendo uma contra a redução do Reintegra. As outras contestam a implementação da tabela de preço mínimo do frete.
No escritório Machado Meyer, há entre 10 e 15 pedidos de análise sobre a constitucionalidade da MP. "Estamos em conversas com algumas associações de setores prejudicados pelas medidas", afirma o sócio do Machado Meyer, Lucas Sant'Anna. "Entendemos que a fixação de preços para o setor privado é contra o direito de livre concorrência."
Novas ações
A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) entrou na terça-feira (12) com Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF questionando o tabelamento do frete. A CNI (Confederação Nacional da Indústria (CNI) fará o mesmo nesta quarta-feira ou na próxima quinta (14).
A Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) e a Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) também recorreram à Justiça alegando a inconstitucionalidade do tabelamento dos fretes e pedindo a impugnação administrativa da medida pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
"Não tem como ter um tabelamento fixo num setor regido pela Bolsa de Valores, que tem altas e baixas", diz Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec. "Ninguém é pão-duro, é que não pode existir uma medida dessas num regime de livre concorrência."