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Índios do Amazonas se isolam na mata para fugir da covid-19

Ao todo, 27 das 32 famílias da aldeia Cruzeirinho preferiram deixar os locais em que vivem como forma de se protegerem do novo coronavírus

Brasil|Da EFE

Pandemia tem feito inúmeras vítimas entre povos do território Vale do Javari
Pandemia tem feito inúmeras vítimas entre povos do território Vale do Javari Pandemia tem feito inúmeras vítimas entre povos do território Vale do Javari

A iminente chegada do novo coronavírus fez com que cerca de 150 indígenas buscassem refúgio no seio da Floresta Amazônica para evitar o contágio entre os habitantes da aldeia Cruzeirinho, localizada às margens do Rio Javari, no interior do Amazonas.

Saiba como se proteger e tire suas dúvidas sobre o novo coronavírus

Ao todo, 27 das 32 famílias da aldeia preferiram deixar os locais em que vivem como forma de se protegerem da covid-19, doença provocada pelo coronavírus e que já afeta mais de 100 nações indígenas no Brasil.

"Eles querem se cuidar, protegerem a eles próprios, às crianças, de contraírem o coronavírus. É uma região de fronteira, e muita gente passa por aqui todos os dias. Assim, as pessoas foram para a selva para se proteger", disse à Agência Efe Bené Mayuruna, um dos poucos que preferiram continuar na aldeia.

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Aqueles que optaram por se exilar na mata buscaram isolamento total, já que não têm qualquer contato com o mundo exterior.

"Estão se protegendo, totalmente isolados na selva, levaram as crianças e estão lá, sem falar com ninguém", relatou Mayuruna.

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A decisão de se refugiar na mata foi uma resposta extrema diante do avanço do novo coronavírus, que vem deixando um rastro de devastação em diversas comunidades do Território Indígena Vale do Javari, que foi demarcado por decreto em 2001.

Esta é a segunda maior área indígena do Brasil, fica no oeste do Amazonas. Cerca de 7 mil pessoas, de sete diferentes etnias, vivem nela. Cinco das tribos do Vale do Javari, inclusive, jamais foram contactadas.

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Nesta semana, uma equipe de 23 militares do Exército, profissionais de Saúde, estão reforçando o atendimento médico na região, em missão sanitária, depois que 6.351 indígenas foram infectados e 301 morreram, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

O trabalho das Forças Armadas é acompanhado pelos profissionais de enfermagem do Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI) do Vale do Javari. O objetivo, além do tratamento, é levar informações sobre prevenção à entrada da Covid-19 nas comunidades.

"Quando surgiu o coronavírus, começamos a capacitar e orientar nossa equipe técnica, que atua nos polos base do Vale do Javari, para que orientem as comunidades indígenas sobre como impedir a entrada nas aldeias", contou Jorge Marubo, coordenador do DSEI do Vale do Javari, à Agência Efe.

Para o especialista, existe uma grande preocupação de que o coronavírus se dissemine de forma desenfreada entre a população indígena que vive na região.

"Aqui, temos indígenas de contato recente, temos indígenas que ainda vivem da forma tradicional e onde não existe muito nem mesmo a gripe comum. Portanto, há essa preocupação para não levar o coronavírus para as aldeias", explicou Marubo.

Apesar das precauções, o coordenador do DSEI admitiu que o vírus chegou a algumas das aldeias "mais suscetíveis da região", como a São Luís, que fica no coração do Vale do Javari.

Marubo garantiu que foi intensificado o trabalho para sensibilizar e orientar os indígenas, inclusive para que não permitam a entrada de desconhecidos no território e não permitam a saída dos próprios indígenas.

"Estamos conseguindo controlar o vírus", comemorou, embora admita que será uma longa batalha.

Para o coordenador do Distrito Especial de Saúde Indígena do Alto Rio Solimões, Weydson Gossel Pereira, um dos maiores desafios no combate ao patógeno entre a população indígena é a relutância de na ida para o o hospital.

"Muitos se recusam a ir, porque no hospital, quando morrem, não são enterrados na aldeia, com toda a cerimônia funeral e enterro", afirmou.

Por causa disso, os polos especializados no atendimento aos índios estão tendo que se adaptar rapidamente, embora faltem equipamentos essenciais para pacientes em estado mais grave, como respiradores.

"O suporte maior que necessitamos é o de oxigênio. Antes, tínhamos somente inaladores, mas com a Covid-19, com a dificuldade e a complicação dos casos de deficiência respiratória, decidimos adaptar", explicou Gossel Pereira.

Além disso, o coordenador do DSEI do Alto Rio Solimões explicou que, para suprir a demanda, foram adquiridos 60 cilindros de oxigênio, que serão distribuídos em 13 polos de atenção no Vale do Javari. A entrega está prevista para os próximos dias.

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