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Intervenção no Rio: “As tropas saem e a violência fica”, dizem moradores

Decreto que autoriza a intervenção federal no Rio de Janeiro foi assinado pelo presidente Michel Temer nesta sexta-feira (16)

Brasil|Fabíola Perez e PH Rosa, do R7

Moradores de diferentes comunidades falam sobre a intervenção federal no Rio
Moradores de diferentes comunidades falam sobre a intervenção federal no Rio

Moradores de diferentes comunidades do Rio de Janeiro afirmam que mesmo diante da constante sensação de medo decorrente da crise de segurança que afeta o Rio de Janeiro, a intervenção federal das Forças Armadas, aprovada nesta sexta-feira pelo presidente da República, Michel Temer, não deve amenizar cenário de confrontos.

A artesã e moradora da Rocinha, Luana da Silva, teve de interromper a entrevista que concedia à reportagem do R7 após perceber que a Tropa de Choque fazia patrulhamento na região. “A polícia entra para fazer o trabalho deles, mas chega com violência”, diz.

“Não acredito que a intervenção federal vai trazer segurança. Isso é muito superficial, não é a primeira vez que eles chegam”, afirma Luana em referência à intervenção das Forças Armadas na Rocinha que ocorreu em setembro do ano passado.

Segundo a moradora, algumas pessoas da Rocinha querem a presença do Exército, mas não têm esperanças de que a sensação de segurança permaneça por muito tempo. “O estado não tem condições de controlar essa situação”, diz. “Tive que fechar toda a minha varanda porque tinha briga entre policiais e traficantes do tempo todo. Estamos pagando por isso.”


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O presidente da Organização Não Governamental Rocinha.org, Ocimar Santos, 51 anos, afirma que a intervenção é uma medida paliativa. “Alguma coisa precisava ser feita, mas amanhã ou depois as tropas saem e a violência continua”, diz. “O que vimos aqui no ano passado só deve acontecer em regiões de guerra. Nunca vi na vida.”

Santos vive na Rocinha desde que nasceu e afirma que enquanto outros setores, como a educação não receberem investimentos, nenhuma mudança ocorrerá. Apesar disso, no curto prazo, o morador acredita que a intervenção deve trazer uma maior sensação de segurança. “Quando a polícia não é truculenta com o morador, ele se sente mais seguro.”


Para a coordenadora do eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Rede da Maré, Lidiane Malanquini, essa possibilidade de intervenção federal representa um retrocesso.

"A gente sabe que essas ocupações militares, assim como as no campo da Segurança Pública, afetam diretamente nas favelas e periferias. Estamos presenciando jovens negros sendo dizimados por essa política que não funciona. E, por isso, fica o questionamento: será que as Forças Armadas estão preparadas para essa atuação? Será que eles estão preparados para atuar na gestão de uma política pública, na gestão de um direito?".


O Complexo da Maré, na zona norte do Rio, teve, durante 15 meses, a presença das Forças Armadas na comunidade. Uma pesquisa realizada pela Redes da Maré, em parceria com o Peoples Palace Projects, da Queen Mary University of London, e com o apoio do Newnton Found, revelou que cerca de 75% da população do complexo considerou a ocupação dos militares regular, ruim ou péssima. Apenas 4% considerou a intervenção ótima e 19,9% boa. Foram ouvidos, durante o mês de fevereiro de 2015, mil moradores com idade entre 18 e 69 anos, das 15 comunidades ocupadas na região.

"Nessas entrevistas foi possível perceber que a presença do Exército não se configurou como uma sensação de segurança para os moradores. Tivemos um grande investimento das Forças Armadas na Maré, que representaram mais de R$ 600 milhões, e não representaram uma mudança no cenário de violência. E a ocupação na Maré foi fruto de um decreto de garantia da lei e da ordem que está cedendo, hoje, para as Forças Armadas a possibilidade de ocupar a cidade".

A coordenadora vê essa intervenção do Rio de maneira problemática.

"Para as favelas, como a Maré, o direito à Segurança Pública está ainda mais distante. A possibilidade desses militares compreenderam tanto a Maré como os seus moradores como exército inimigo é muito maior, diante de toda a desigualdade vivida no país".

Corrupção

O professor Luiz Carlos Alves, 40 anos, vive no Complexo do Alemão. Apesar de acreditar que a intervenção pode trazer benefícios para os moradores da comunidade, ele afirma que teme o aumento na corrupção em decorrência da ação militar.

“Das outras vezes que o Exército entrou no Alemão, muita gente que torceu e comemorou a chegada dos militares pagou com a própria vida”, diz. “Vi traficantes matarem vizinhos a pauladas.”

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Alves relata que embora não tenham ocorrido tiroteios com tanta frequência, o tráfico aumentou. “Há um trato entre os policiais das unidades pacificadoras e o tráfico”, afirma. “Muitas pessoas se compadecem com a situação da Síria, mas aqui temos a nossa própria guerra.”

Décadas de caos

O líder comunitário e morador do Jacarezinho Joel Luiz Costa afirma que “uma canetada não irá resolver décadas de descaso e caos social.” Segundo ele, nos últimos anos, tornou-se comum a presença das Forças Armadas nas ruas do Rio de Janeiro. “Parece uma grande cortina de fumaça.”

Luiz Costa, que também é advogado criminal e ativista da ONG Anistia Internacional, explica que nenhuma política de segurança implementada até hoje incluiu no planejamento as demandas originárias da favela. “Nosso território é tratado como praça de guerra, basta observar os helicópteros da polícia atirando de cima para baixo em zona residencial.”

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Segundo ele, deve ocorrer a militarização da vida na favela. “Mais carros blindados nas portas de nossas casas, escolas sem aulas para a execução de operações midiáticas e mais mortes de jovens negros.”

Favoráveis

Para o comerciante Marcos Lemos Marujo, 40 anos, vive no bairro de Vargem Grande, o estado está “sem controle”. “Acredito que a chegada das Forças Armadas pode dar um jeito, poderiam dar uma assistência às polícias.”

A psicóloga Ana Maria Carvalhaes, 71 anos, é favorável à intervenção. “Do jeito que está, não pode ficar. Se a polícia e os governos não estão dando conta e as UPPs estão sendo retiradas, o que nos resta fazer?”

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