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Juízes vão divididos à greve para defender auxílio-moradia

Maior associação da categoria decidiu não aderir à greve, mobilizada por juízes federais e trabalhistas

Brasil|Diego Junqueira, do R7

Auxílio-moradia é pago desde setembro de 2014
Auxílio-moradia é pago desde setembro de 2014 Auxílio-moradia é pago desde setembro de 2014

A paralisação de juízes marcada para esta quinta-feira (15) para defender o auxílio-moradia mobiliza parcialmente a magistratura brasileira. As associações de juízes federais e trabalhistas aderiram ao movimento, mas ficaram de fora as organizações que representam a maior parcela da categoria.

O STF (Supremo Tribunal Federal) julga no próximo dia 22 uma ação que pode acabar com o benefício. Atualmente em R$ 4.377,73, o auxílio-moradia é pago desde setembro de 2014 a todos os juízes do país, mesmo àqueles que possuem imóvel próprio na cidade de trabalho. O pagamento é garantido por decisão liminar (provisória) do ministro Luiz Fux, do Supremo. Com base nessa decisão, o benefício foi ampliado para promotores e procuradores federais.

A greve foi convocada pela Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) e recebeu apoio da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho). Juntas, a Justiça Federal e a Justiça do Trabalho somam 5.400 juízes, ou 30% dos 18 mil juízes brasileiros. São 3.600 na Justiça do Trabalho e 1.800 na Federal, segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Já a maior associação da categoria e mais influente, a AMB (Associação dos Magistrados do Brasil), não aderiu ao movimento. A associação tem 14 mil filiados (sendo 11 mil da ativa e 3.000 aposentados) de todos os setores do Judiciário, mas principalmente dos tribunais estaduais.

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A magistratura nos 26 Estados e no Distrito Federal abrange 69% da categoria, com 12,4 mil juízes. Embora inclua o auxílio-moradia, o contra-cheque desses magistrados é formado também por benefícios concedidos pelos Legislativo e Executivo estaduais. Como esses auxílios não são alvo do STF na próxima semana, a AMB não se mobilizou para a paralisação de hoje.

“O ideal seria a participação de todas as associações, mas houve discordância com a AMB quanto a um dos pontos da mobilização. Precisamos de um modelo remuneratório unificado para toda a magistratura, de tal maneira que não haja nos Estados parcelas [de benefícios] que não existam na União, e que não tenha na União parcelas não previstas nos Estados”, diz o juiz trabalhista Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Anamatra, que atua no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas e interior de SP).

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Supremo julga ação sobre auxílio-moradia no dia 22
Supremo julga ação sobre auxílio-moradia no dia 22 Supremo julga ação sobre auxílio-moradia no dia 22

Reportagem de dezembro do jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que os tribunais estaduais pagam duas vezes mais benefícios do que as altas cortes do país. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é considerado o mais generoso, com regras próprias para bancar creche e escola dos filhos dos magistrados, entre outros auxílios.

A não adesão da AMB foi selada em reunião da Frentas (Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público) no dia 28 de fevereiro, um dia antes de a Ajufe confirmar a paralisação. A Frentas é a coordenação mais ampla do Judiciário brasileiro, com 40 mil juízes e membros do Ministério Público, incluindo Ajufe, Anamatra, AMB e associações de procuradores e promotores.

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No dia seguinte, a AMB também divulgou nota cancelando sua participação no movimento.

“A AMB defende e continuará a defender a melhoria na remuneração da magistratura brasileira, mas o fará sem comprometer os valores mais caros para o Judiciário e para a República”, escreveu naquele dia o presidente da AMB, Jayme de Oliveira. Ele não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

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"O ideal seria a participação de todas as associações"

(Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Anamatra)

O presidente da Ajufe, Roberto Veloso, não concorda que a ausência da AMB enfraqueça a greve.

— Não enfraquece de maneira nenhuma. Eles [AMB] não nos informaram qual a razão [de não participar da mobilização]. Na verdade, esse movimento é da magistratura da União e do Ministério Público da União.

Modelo único de remuneração

As associações de juízes federais e trabalhistas criticam a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, por ter pautado para o julgamento do dia 22 somente a ação que trata do auxílio-moradia (Ação Originária nº 1.773), deixando de fora a ação que trata do pagamento de outros benefícios (conhecidos como “penduricalhos”) a juízes estaduais do Rio de Janeiro (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.393). Uma decisão sobre a Justiça do Rio se aplicaria também à magistratura dos demais Estados.

Feliciano admite que o assunto é "polêmico" e "causa desgaste aos magistrados", e assume que a "população nao vê com bons olhos" o benefício. Contudo, ele diz que a ajuda de custo não fere a legislação nem a Constituição. Ele ressalta que antes da decisão do ministro Fux, em 2014, o auxílio era pago de forma desigual aos magistrados. "Antigamente o modelo remuneratório era difuso, cada Estado tinha benefícios e valores diferentes", diz. Por isso, Feliciano afirma que é importante encontrar um caminho único para a categoria. 

— Queremos que do julgamento saia a indicação de um modelo remuneratório unificado. O que pode no Estado e o que não pode. Em tese, o que pode no Estado pode na União. Precisamos de uma sinalização clara para nós e para toda a sociedade, para que haja um modelo transparente e uniforme para toda a magistratura.

A expectativa é a mesma de Veloso, da Ajufe.

— Nós estamos esperando a unificação. A magistratura é uma, é nacional. Não existe magistratura federal, estadual e trabalhista.

O poder Judiciário gastou R$ 84,8 bilhões em 2016, segundo o CNJ. Desse total, R$ 72,1 bilhões (85%) custearam salários e benefícios de magistrados, servidores e aposentados.

Quem mais gasta é a Justiça Estadual, que consome 56,7% do orçamento, ante 20,1% da Justiça do Trabalho, 12,4% da Justiça Federal, 6,2% da Justiça eleitoral, 4,5% dos tribunais superiores e 0,2% da Justiça Militar Estadual.

Atos em 6 capitais

Segundo Ajufe e Anamatra, os juízes que participarem da mobilização irão adiar audiências marcadas para esta quinta-feira. Serviços prioritários serão mantidos, assim como sessões que mobilizaram réus ou testemunhas presas. A Anamatra indica 25% de adesão entre os juízes do Trabalho.

A mobilização também ganhou apoio de duas associações do Ministério Público, a ANPT (Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho) e a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Diferentemente dos juízes, os membros do Ministério Público não irão parar de trabalhar, mas participarão das manifestações. Há atos marcados em seis capitais: Brasília (DF), São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador (BA) e Belém (PA), às 14h30, e Porto Alegre (RS), às 13h30.

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