Oscar Niemeyer ficou conhecido como o homem que suavizou o concreto
Saiba pontos marcantes da vida e da obra do maior arquiteto do Brasil
Brasil|Do R7
Ousadia e criatividade marcaram as obras de Oscar Niemeyer, que morreu nesta quarta-feira (5). Seu olhar crítico sobre a arquitetura da primeira metade do século 20 conseguiu o que parecia impossível: deu leveza ao concreto, que nos seus projetos ganhou curvas e movimento. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão o Palácio da Alvorada e os prédios públicos de Brasília, mas o conjunto de sua obra o transformou em um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna brasileira e mundial.
Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907. Na certidão de nascimento, o registro trazia Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho. Era uma mistura do nome do pai, Oscar de Niemeyer Soares, e do avô materno, Ribeiro de Almeida, por quem tinha um carinho especial.
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Muito boêmio, viveu os bares da Lapa e a vida noturna carioca enquanto cursou o ensino médio no Colégio dos Barnabitas Santo Antônio Maria Zaccaria. Mas, aos 21 anos, conheceu a filha de imigrantes italianos Annita Baldo e resolveu mudar de vida. Apaixonado, virou um homem sério: casou e entrou para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De lá, saiu engenheiro arquiteto formado em 1934.
Mesmo com as responsabilidades do casamento, nunca perdeu o espírito idealista, e até por isso foi trabalhar no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Para ele, a chance de estar ao lado de Lucio soou como uma oportunidade de crescimento intelectual.
— E apesar das minhas dificuldades financeiras, preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório do Lúcio Costa e Carlos Leão, onde esperava encontrar as respostas para minhas dúvidas de estudante de arquitetura. Era um favor que eles me faziam.
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A primeira e já majestosa obra
Em 1936, enquanto trabalhava de graça no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão para adquirir experiência, o arquiteto Oscar Niemeyer teve a oportunidade de projetar sua primeira obra. Foi o prédio do Ministério da Educação e Sáude. Até hoje, o edifício, projetado por encomenda do presidente Getúlio Vargas, é um símbolo de modernidade no Rio de Janeiro.
Ainda em 36, Niemeyer conheceu Le Corbusier, durante a viagem do arquiteto francês pela América do Sul. O encontro influenciou diretamente a primeira obra individual do carioca, a Obra do Berço. Construída na Lagoa, no Rio, em 37, já tinha traços fortes da arquitetura moderna pregada por Niemeyer.
Convidado por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, Niemeyer projetou o Conjunto da Pampulha. Mas o reconhecimento e a consagração de suas obras não garantiram "unanimidade". Ao contrário: sua personalidade forte e politizada criou desavenças em diversas áreas.
Muito requisitado entre os políticos, ele ganhou o apelido de "arquiteto oficial" por seus inimigos. Niemeyer não ligou e continuou firme em suas convicções. Em 1945, após conhecer Luís Carlos Prestes, ingressou no Partido Comunista. Em 1954, foi pela primeira vez à Europa, para o projeto da reconstrução de Berlim.
Brasília, a "menina dos olhos"
Entre 1957 e 1958, o já consagrado arquiteto Oscar Niemeyer projetou o Palácio da Alvorada e os principais prédios de Brasília, incluindo o Congresso Nacional, quando o já presidente Juscelino Kubitschek mudou a capital federal do Rio de Janeiro para o centro-oeste. A obra rendeu a publicação do livro "Minha experiência em Brasília".
No início dos anos 60, Niemeyer foi nomeado coordenador da Escola de Arquitetura da Universidade de Brasília, mas em 65, deixou a UnB junto com mais de 220 professores em protesto à política universitária.
Com uma exposição de sua obra no Louvre, em Paris, foi lá que Niemeyer acabou se instalando após a ditadura militar ser decretada no Brasil. Mesmo exilado, teve uma vida profissional intensa e abriu um escritório nos Champs Elysées, na capital francesa.
A importânica de sua obra está para a arquitetura, assim como os dribles de Pelé estão para o futebol ou o violão de João Gilberto está para a Bossa Nova. Entre seus conjuntos mais conhecidos estão o parque Ibirapuera, o Memorial da América Latina e o edifício Copan, na capital paulista, ou o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói.
O arquiteto mais premiado do Brasil
Mais que um estilo, a ousadia do arquiteto Oscar Niemeyer rendeu mais de 20 grandes prêmios e títulos ao longo da carreira, além de inúmeras homenagens e medalhas. Entre os destaques estão o Pritzker de Arquitetura (Estados Unidos, 1987-88), o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (Itália, 1996) e a Royal Gold Medal do Royal Institute of British Architects - RIBA (Reino Unido, 1998).
Em 2001, foram várias condecorações, como a Medalha da Ordem da Solidariedade do Conselho de Estado da República de Cuba, o Prêmio Unesco 2001 e o título de Arquiteto do Século XX, do Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil.
Ao lado da mulher Annita Baldo, Niemeyer teve apenas uma filha, Anna Maria Niemeyer. A herdeira lhe deu cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Após ficar viúvo em 2004, ele se casou com a secretária Vera Lúcia Cabreira em novembro de 2006.
Em 2007, Niemeyer completou 100 anos em plena forma e trabalhando muito. Inúmeros eventos marcaram o ano do centenário, como o lançamento do documentário sobre a vida e a obra do arquiteto, "A vida é um sopro", de Fabiano Maciel, e sua participação na seleção "100 maiores gênios vivos", da empresa americana de consultoria Synectics. Niemeyer ficou em nono lugar numa lista com nomes como Nelson Mandela (5º) e do líder espiritual budista Dalai Lama (26º).
Duas de suas últimas aparições públicas foram no Carnaval 2012 no Rio de Janeiro. O arquiteto visitou em 8 de fevereiro as obras do sambódromo. Enfrentando calor de cerca de 40ºC, percorreu em um carrinho a passarela do samba e aprovou a reforma de sua autoria.
— Está muito bom. Melhorou muito. Este não é um trabalho só meu, é o trabalho de um grupo. Isso melhora o entusiasmo da população.
Alguns dias depois, o carioca voltou ao berço do samba durante o desfile das escolas campeãs do grupo especial. Em sua cadeira de rodas, ele percorreu um trecho da Sapucaí e foi aplaudido por mais de 80 mil pessoas. Em 2013, o arquiteto será o enredo da escola de samba União da Ilha.