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Recuperação dos locais atingidos por óleo deve levar de 10 a 20 anos

Primeiras manchas de óleo em localidades do Nordeste foram encontradas há dois meses nas praias de Conde e Pitimbu, na Paraíba

Brasil|Giuliana Saringer, do R7

Óleo atingiu nove estados brasileiros
Óleo atingiu nove estados brasileiros

Há dois meses, no dia 30 de agosto deste ano, foram encontradas as primeiras manchas de óleo nas praias do Conde e Pitimbu, na Paraíba. De lá para cá, o óleo atingiu nove estados, 94 municípios e 268 localidades, segundo os dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Para o diretor do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Francisco Kelmo, a recuperação dos locais atingidos deve levar de 10 a 20 anos.

O profissional está realizando pesquisas e visitas de campo aos locais atingidos.

A professora do programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) Patrícia Pinheiro Beck Eichler diz que, do total do óleo derramado nas praias, “30% obrigatoriamente vão passar a coluna d’água e vão cair no sedimento. Uns 70% provavelmente são passíveis de serem removidos”, explica.

O governo federal afirma que, até o momento, foram recolhidas 1.027 toneladas de resíduos em 2,5 mil quilômetros da costa brasileira com ajuda da Marinha, Ibama, Petrobras, FAB, Exército Brasileiro, Defesa Civil, ICMBio, Polícia Federal, Ministério do Meio Ambiente, instituições e agências federais, estaduais e municipais, além de empresas e universidades.


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Kelmo afirma que ainda não é possível afirmar se algum local atingido será completamente comprometido pelo óleo. “A minha esperança é que todos sejam recuperados”, afirma. Segundo o professor, o óleo tem alta densidade e, por isso, a flutuação na superfície do mar é apenas uma de suas características. “Ele tende a ficar abaixo da superfície da água. Quando chega às regiões mais rasas, fica na areia”, explica.

Eichler diz que, de 30 amostras coletadas em regiões atingidas, 28 mostram que o óleo entrou em camadas inferiores do solo marinho, com 10 centímetros de profundidade, atingindo a infauna — organismos que vivem dentro do solo marinho, como se fossem as minhocas, que são importantes para a oxigenação e remineralização do espaço.


“Teoricamente o que foi empunhado no sedimento é muito difícil de tirar. O que você vai remover de óleo vai destruir de fauna. Provavelmente não tem o que fazer”, explica.

Mangues e recifes de corais

Eichler afirma que dois ecossistemas bastante prejudicados pelo óleo são os recifes de corais e os estuários dos manguezais, regiões que são consideradas o “berçário” da vida marinha.


Corais e mangues serão bastante prejudicados
Corais e mangues serão bastante prejudicados

“Nos recifes de corais, que são um dos mais frágeis que foram atingidos, a recuperação vai ser bem lenta, com mortalidade aguda. Esse óleo com contato com a água libera ácido sulfídrico, amônia e metano, então o que não morreu agudamente vai morrer cronicamente ao longo dos anos”, afirma.

Eichler também diz que a mortalidade por asfixia de animais marinhos vai aumentar o número de “carcaças e putrefação dos ambientes como um máximo de proliferação de doenças”, devido aos ácidos sulfídrico, amônia e metano, que fazem com que o oxigênio diminua no local.

O professor da UFBA afirma que, no mar aberto, o índice de decomposição é relativamente pequeno. “O volume de água do mar é grande o suficiente para diluir os efeitos. Se isso fosse dentro de uma baia, fechada, a gente poderia se preocupar”, diz.

Segundo o Ibama, 39 animais foram conhecidamente afetados pelo óleo, sendo eles cinco aves mortas, três vivas, 18 tartarugas marinhas mortas, 11 vivas, um peixe e um réptil mortos. Além disso, foram capturados preventivamente 2.190 filhotes de tartarugas marinhas na Bahia e 624 em Sergipe.

Cuidado redobrado

O Ministério do Meio Ambiente e o Ibama orientam que a população evite contato com o óleo e não recolha os resíduos sem equipamentos de proteção, como luvas, botas, máscaras e óculos. Caso haja contato do óleo com alguma parte do corpo, é preciso higienizar o local com gelo e óleo de cozinha.

O Ministério da Saúde afirma que a inalação de vapores do poluente pode causar dificuldades de respiração e dor de cabeça. Já o contato direto com o material pode levar a manchas na pele e inchaço. Sobre a exposição de longo prazo ao óleo, a publicação alerta para o risco de câncer e infertilidade.

Em casos em que houver ingestão ou reação alérgica, o paciente deve procurar uma unidade de saúde imediatamente.

Ao encontrar um animal atingido pelo óleo, a orientação é de não encostar, proteger o ser vivo do sol até a chegada de uma autoridade competente e não o devolver ao mar.

Kelmo orienta que os brasileiros evitem comer peixes e frutos do mar das regiões atingidas pelo óleo por alguns dias, já que não se sabe se este pode ser absorvido pelos animais e chegar ao ser humano. “Tem um grupo de pesquisa que já vai pegar o pescado e fazer essa análise”, conta.

Eichler também diz que a água estar cristalina não significa que o local esteja 100% livre de óleo. “Quando a pessoa entra, ela sai preta”, porque o químico vai ficando mais fino e menos visível a olho nu.

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