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Temer completa 2 anos de governo envolto em denúncias

Por outro lado, presidente tem a seu favor melhora do cenário econômico, com retomada do crescimento, queda da inflação e da taxa de juros

Brasil|Fernando Mellis, do R7

Governo Temer enfrenta alta rejeição por parte da sociedade
Governo Temer enfrenta alta rejeição por parte da sociedade Governo Temer enfrenta alta rejeição por parte da sociedade

O governo de Michel Temer (MDB) completa dois anos neste sábado (12) com resultados positivos na economia, mas manchado por escândalos de corrupção envolvendo o presidente e seu entorno.

Nestes 730 dias, Temer viu amigos serem presos, teve problemas de saúde e agora tenta criar uma arranjo político capaz de sustentar por mais quatro anos o projeto do grupo dele para o país.

Economia

O principal resultado econômico alcançado pelo governo foi a retomada do crescimento, com a alta do PIB (Produto Interno Bruto) de 1% em 2017. A agricultura teve uma safra recorde, o que contribuiu também para a queda da inflação.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) estava em 9,32% no acumulado dos 12 meses anteriores quando o emedebista assumiu a Presidência. Em março, estava em 2,68%. A inflação de 2017 ficou em 2,95%, pela primeira vez abaixo do piso da meta desde a implantação do Plano Real.

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Com a inflação sob controle, o governo se sentiu seguro para diminuir a taxa básica de juros, a Selic, que estava em 14,25% em maio de 2016 e atualmente está em 6,5%, com possibilidade de ser reduzida ainda mais.

No entanto, para os consumidores, os juros bancários não chegam perto da Selic. O cheque especial, por exemplo, continua cobrando uma média de 331% ao ano, de acordo com dados de março do Banco Central. O rotativo do cartão de crédito custa 295% ao ano.

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Um índice Temer até tentou apontar como positivo recentemente, mas a população desacredita: o nível de emprego. Nesta semana, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles disse que o governo diminuiu o desemprego.

“O Brasil criou, em 2016 e 2017, 2 milhões de novos empregos no total. Isso não aparece muito nas estatísticas de desemprego porque muitas pessoas que estavam desanimadas vêm para o mercado de trabalho e começam a procurar emprego”, observou.

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O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrava 11,4 milhões de desocupados entre março e maio de 2016. Os dados mais recentes (janeiro a março) mostram que havia no país 13,7 milhões de pessoas em busca de emprego.

Temer tentou justificar os números baseado na metodologia do IBGE, que considera desempregados apenas aqueles que estão buscando emprego e não aqueles que desistiram, mesmo que momentaneamente.

"Quando você pega os dados do Ministério do Trabalho, você vê que o emprego está aumentando. Mas quando você pega os dados do IBGE, a sensação é que o desemprego aumentou. E é uma coisa curiosa, não é que o desemprego aumentou. É que o desempregado, quando a economia começa a melhorar, ele que estava desalentado, portanto, não procurava emprego, ele se transforma em um alentado, ele vai procurar emprego. E, na medida que vai procurar emprego, e como não há emprego para todos ainda, e ele não consegue emprego, isso entra na margem do cálculo do IBGE", disse o presidente no último dia 3.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram ainda que o Brasil só criou empregos com carteira assinada neste ano para vagas com até dois salários mínimos (R$ 1.908). Postos de trabalho formais com remunerações mais altas foram fechados.

Temer liberou saques de contas inativas do FGTS em 2017 e conseguiu injetar R$ 44 bilhões na economia. Outra medida de estímulo foi a liberação do PIS/Pasep para aposentados, o que deverá acrescentar mais R$ 21,4 bilhões.

Meirelles foi um dos responsáveis pela retomada do crescimento econômico
Meirelles foi um dos responsáveis pela retomada do crescimento econômico Meirelles foi um dos responsáveis pela retomada do crescimento econômico

Reformas

A mais defendida reforma, a da Previdência, foi deixada de lado pelo governo Temer, diante da possibilidade de não ser aprovada no Congresso. A intervenção federal no Rio de Janeiro (leia abaixo) foi a medida encontrada para que propostas de emenda à Constituição não fossem votadas por enquanto.

Já a reforma trabalhista, aprovada em agosto do ano passado, começou a vigorar em novembro, mas ainda não trouxe a segurança jurídica que o governo buscava. Temas como o imposto sindical compulsório têm sido questionados juridicamente.

A reforma tributária era outro desejo da gestão Temer, mas ainda não há previsão de quando ela será votada. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse no fim de abril que o objetivo buscado não será a redução de impostos mas a simplificação deles.

Escândalos

Logo após completar um ano no governo, Temer foi atingido pela primeiro escândalo: a delação de Joesley Batista, da J&F. Ele havia sido gravado em uma conversa no Palácio do Jaburu com o empresário, que dizia que o presidente havia dado aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba.

"Tem que manter isso aí, viu", frase dita por Temer a Joesley, ficou conhecida e é usada até hoje em protestos contra o presidente.

O caso andou, a denúncia foi enviada à Câmara dos Deputados, mas foi arquivada — será retomada após o fim do mandato. O mesmo aconteceu com a segunda denúncia, em outubro, em que o presidente foi acusado de obstruir as investigações da Lava Jato e de integrar uma quadrilha, junto com outros dois ministros Moreira Franco (Minas e Energia) e Eliseu Padilha (Casa Civil).

Para conseguir o apoio necessário para arquivar as denúncias, Temer distribuiu cargos e liberou recursos de aproximadamente R$ 30 bilhões a políticos da base aliada.

Temer viu alguns dos seus auxiliares mais próximos irem para a cadeia nestes dois anos de governo. Foram presos os ex-ministros Geddel Vieira Lima, apontado como dono de R$ 51 milhões achados em um apartamento; Henrique Eduardo Alves, tido como beneficíario de propina nas obras da Arena das Dunas (RN); o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, que ficou conhecido como o "homem da mala", flagrado carregando R$ 500 mil em propina. 

Amigo de Temer, José Yunes foi preso em março
Amigo de Temer, José Yunes foi preso em março Amigo de Temer, José Yunes foi preso em março

Neste ano, foi o Decreto dos Portos, assinado por Temer logo após assumir interinamente e que teria beneficiado empresas do setor portuário, passou a ser uma pedra no sapato do presidente.

A Polícia Federal prendeu temporariamente dois amigos de longa data do emedebista, o advogado José Yunes e o coronel aposentado João Baptista Lima Filho.

Os dois são apontados como intermediários de propinas pagas a Temer por empresas portuárias.

Parte do dinheiro ilegal teria sido usada na reforma da casa de uma das filhas de Temer, Maristela. Ela foi chamada para prestar depoimento e negou que o pai tivesse pago pelas obras, mas admitiu que a mulher do coronel Lima fez alguns pagamentos por amizade.

Atualmente, o governo tem que enfrentar o fantasma de uma nova denúncia contra o presidente, o que poderia comprometer os objetivos políticos do MDB nas eleições deste ano.

Saúde

Em meio à turbulência que já afetava seu governo, Temer teve que ser submetido a uma cirurgia para desobstrução da uretra, causada por um inchaço na próstata, em outubro do ano passado. Os médicos afirmaram que era algo normal em homens da idade dele — 77 anos.

Presidente passou por dois procedimentos cirúrgicos
Presidente passou por dois procedimentos cirúrgicos Presidente passou por dois procedimentos cirúrgicos

Um mês depois, o emedebista voltou a ser internado em São Paulo para desobstruir três artérias do coração. Em duas delas foram colocados stents, que são pequenas próteses instaladas dentro das artérias, evitando o risco de novos entupimentos.

Segundo o cardiologista Roberto Kalil Filho, Temer "é uma pessoal saudável" e poderia continuar suas atividades normalmente. Após o episódio, o presidente passou a ser visto fazendo caminhadas matinais.

Popularidade baixa

Três em cada dez brasileiros (31%) aprovavam a maneira de governar de Temer logo após ele assumir, em junho de 2016, segundo pesquisa Datafolha. Em março deste ano, esse índice caiu para 9%.

O mesmo declínio teve o quesito "confiança no presidente", que despencou de 27% para 8% no período. Os que consideram o governo ótimo ou bom eram 13% na metade de 2016 e agora são 5%. Mais da metade dos brasileiros (55%) avaliam que o emedebista está sendo pior do que a antecessora, Dilma Rousseff (PT).

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