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Ao menos mil militares brasileiros participaram de missões e funções no exterior nos últimos quatro anos

Estados Unidos são o principal destino dos postos e exercícios dos oficiais das Forças Armadas do Brasil mundo afora

Brasília|Plínio Aguiar e Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

EUA são principal destino de militares no exterior
EUA são principal destino de militares no exterior EUA são principal destino de militares no exterior (Reprodução Exército - 03.10.2023)

Ao menos mil militares das Forças Armadas do Brasil (Exército, Aeronáutica e Marinha) participaram de atividades relacionadas à área da defesa no exterior durante os anos de 2020 a 2023, período em que o país era comandado por Jair Bolsonaro. A informação está contida em trabalho produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta que os Estados Unidos são o principal destino dos postos e missões dos oficiais brasileiros mundo afora, com 345 agentes.

De autoria dos pesquisadores Pedro Silva Barros, Raphael Camargo Lima e Paula Macedo Barros, os dados do texto servem para a discussão sobre o setor de defesa brasileiro no exterior em questões relacionadas aos desafios, oportunidades e subsídios para a revisão de documentos. Entre as conclusões estão pouco detalhamento do direcionamento do Ministério da Defesa para a atuação internacional, concentração desproporcional nas interações com os EUA, crescente peso na Colômbia em sobreposição à Argentina no continente, entre outras.

A lista segue com a Suécia (83), Colômbia (68), Reino Unido (55), França (42), Namíbia (33), Argentina (32), Alemanha (31), Paraguai (28), Portugal (24), Chile (21), Canadá (21), Itália (19), Espanha (18), Peru (15), Bolívia (15), Equador (10), Moçambique (10), Cabo Verde (10). Os demais países do catálogo, como Israel (6), China (5), Guiana (4), Rússia (3) e Líbano (2), possuíam cada um menos de dez militares brasileiros durante o período.

O preparo e o emprego da tropa militar e o apoio aos interesses brasileiros no exterior estão entre as funções da política de defesa. Na prática, as atividades exercidas pelas Forças Armadas no campo internacional abrangem a participação em atos, postos em representações diplomáticas e comissões, memorandos de entendimento e parcerias, fóruns de alto nível, grupos de trabalho bilaterais, cursos e estágios, produtos de defesa, exercícios e treinamentos, intercâmbios e operações de paz e humanitárias.

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Do total de 345 militares que estavam nos Estados Unidos no período utilizado para o estudo, 134 fizeram cursos, 12 exerceram a função de adidos, adjuntos, assessores e auxiliares de adido e três se graduaram, por exemplo. São exemplos de universidades estadunidenses que atenderam os brasileiros Air Force Institute of Technology, George Mason, California, Wisconsin e New Hempshire.

No caso da Suécia, o segundo país que mais recebeu militares brasileiros, há uma influência do projeto de treinamento relacionado à compra dos caças Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB). Os modelos adquiridos estão entre os mais modernos do mundo, com alto poder de persuasão contra invasores do espaço aéreo e elevado desempenho de combate em conflitos. A compra ocorreu em 204, ao custo de R$ 4,5 bilhões de dólares e previa a transferência de tecnologia, com a construção de partes das unidades de um lote de 36 sendo realizada em território brasileiro.

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Um dos destaques do trabalho é o aumento substancial da Colômbia e o aumento de sua importância em relação aos demais países sul-americanos. Entre 2020 e 2022, o país respondeu por aproximadamente 75% do destino de instrutores e monitores brasileiros na América Latina e Caribe e 46% do total mundial. "O fato é que, atualmente, o país possui um lugar central nos intercâmbios de instrutores e monitores militares do Brasil. Em geral, também tem se tornado um país com relevância-chave para os Estados Unidos no processo de treinamento e cooperação militar com a América Latina", explica.

O levantamento relata outro indicador importante da atuação do setor de defesa brasileiro no exterior que reside nas funções de adidos, seus adjuntos, assessores e auxiliares. Tais missões estão entre uma das mais recorrentes entre as Forças Armadas e são parte fundamental da rede de cooperação e interação diplomática. Na prática, consiste na atuação do militar junto a uma representação diplomática com a finalidade de trabalhar em estreita ligação com as autoridades militares locais, com a permuta de informações específicas. Há casos que os agentes recebem mais de US$ 10 mil por mês na função, sem contar diárias e outros benefícios.

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Uma das conclusões apontadas pelo trabalho é da “concentração desproporcional” dos Estados Unidos nas missões no exterior. "Como uma das maiores potências militares do mundo com uma grande base industrial de defesa, é esperado que haja um peso importante do país. Porém, cabe destacar que a oferta de cursos, estágios e outras atividades internacionais jamais são politicamente neutras. Há interesses de alinhamentos estratégico e doutrinário nessa oferta que, em última instância, podem ser contrários ao interesse brasileiro", afirma o pesquisador.

"Nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, os acordos eram mais diversificados. No caso da Dilma Rousseff, foi mais concentrado nos países que fazem parte dos Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Jair Bolsonaro, por sua vez, Estados Unidos. A disparidade é grande e tem razões históricas e institucionais. Por um lado, há uma pró-atividade norte-americana. Do outro, um processo ainda incompleto de consolidação do Ministério da Defesa", argumenta Barros.

O pesquisador cita que, diferentemente das principais potências militares, as decisões de envio de militares na posição de adidos, por exemplo, são de cada uma das forças. "E os Estados Unidos oferecem cursos e facilidades que acabam gerando uma retroalimentação. Ou seja, vários dos militares de alta patente no Brasil que tomam decisões no setor de defesa foram formados no país, então a tendência, pela inércia, naturalmente, é de que seja repetida essa lógica", diz.

Segundo o profissional, há pouco detalhamento e direcionamento do Ministério da Defesa para a atuação internacional do setor, com diretrizes genéricas e pouca clareza sobre as prioridades em cada país. "É mais feita pelas forças, com seus próprios interesses, do que a pasta, em articulação em conjunto com as demais políticas públicas do país", argumenta. Barros sugere, então, o fortalecimento do papel de gestão, monitoramento, direcionamento e coordenação da área externa do setor de defesa brasileiro.

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