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Brasília Após condenação, governistas querem anistia para Daniel Silveira

Após condenação, governistas querem anistia para Daniel Silveira

Carla Zambelli prepara projeto de lei que pretende assegurar direitos políticos ao deputado condenado a oito anos de prisão pelo STF

  • Brasília | Plínio Aguiar e Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ)

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ)

Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Após o STF (Supremo Tribunal Federal) condenar o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) a oito anos e nove meses de prisão em regime inicialmente fechado, enquadrando o parlamentar na Lei da Ficha Limpa, tornando-o inelegível por oito anos, deputados governistas se mobilizam para aprovar um projeto de lei que possa conceder anistia a ele.

A proposta em elaboração tem autoria da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e prevê o benefício ao parlamentar nos termos do artigo 48 da Constituição Federal – em que a medida cabe ao Congresso Nacional, com sanção do presidente da República.

"Ficam assegurados os direitos políticos do anistiado, bem como a manutenção do seu mandato parlamentar, e, ainda, a extinção de todos os efeitos decorrentes das condutas a si imputadas, sejam cíveis ou penais", diz o texto. A proposta acrescenta ainda que a anistia deve abranger todos os fatos da ação penal 1.004, que motivou a condenação de Silveira.

A expectativa é que o projeto seja apresentado ainda nesta sexta-feira (22) ou até a próxima semana. De acordo com uma fonte, a matéria deve ser assinada por outros 40 parlamentares. O objetivo é colocá-la em regime de urgência para que o plenário possa votá-la quanto antes.

"Não houve lesão a alguém, então cabe a anistia. Não se pode anistiar um homicida, um traficante, porque, justamente, houve a lesão. Neste caso, porém, é possível [anistiar]", diz o deputado federal Sanderson (PL-RS), vice-líder do governo.

A constitucionalista Vera Chemim explica que é possível que o Congresso Nacional conceda anistia ao deputado federal, algo que deve ser sempre realizado por meio de projeto de lei que precisa passar, posteriormente, pela sanção do presidente. A questão, segundo ela, é tratada na Constituição Federal e no Código Penal. Anteriormente, a anistia era um ato exclusivamente político; atualmente, porém, ela pode ser concedida no caso de crimes comuns.

“É cabível, sim, antes da transição em julgado da sentença condenatória, ou após. Ela é cabível, sim, de qualquer maneira”, explicou. Se concedida a anistia, caberá ao Judiciário apenas avaliar se houve alguma irregularidade no processo de votação do projeto de lei, dispensando um controle efetivo por parte dos juízes. “Com o projeto aprovado e sancionado, a única função do Judiciário é, por exemplo, perceber se houve algum desvio do poder de legislar do Congresso”, afirmou.

Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro relataram à reportagem do R7 que ele tinha a expectativa de que o seu aliado seria condenado no julgamento do STF. "São nove ministros [da Corte] que são inimigos políticos", disse uma dessas fontes.

Deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP)

Deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP)

Cleia Viana/Câmara dos Deputados - 17.09.2021

Agora, ganha ainda mais força a estratégia de Bolsonaro de eleger o máximo possível de candidatos ao Senado. Isso porque o presidente quer levar adiante o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso Silveira. A medida, que não tem força entre os políticos, só é possível na Casa Legislativa.

Em 2021, Bolsonaro enviou o pedido de impeachment contra o ministro do STF ao então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). É a primeira vez na história que um presidente pede o impeachment de um ministro do Supremo. O projeto não avançou.

Silveira foi condenado pelo plenário do STF, nesta quarta-feira (20), por 10 votos a 1, a oito anos e nove meses de prisão, em regime inicial fechado, e também a perda do mandato e multa. De acordo com a Corte, o parlamentar cometeu os crimes de coação no curso do processo e de ameaça de abolição do Estado democrático de Direito.

Votaram pela condenação o relator, Alexandre de Moraes, e os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. André Mendonça também votou pela condenação, mas com uma pena menor: de dois anos e quatro meses, em regime inicial aberto, mais multa. Nunes Marques entendeu que o réu deveria ser absolvido.

Com o fim do julgamento, o Supremo vai enviar a decisão à Câmara dos Deputados, para que a Mesa Diretora formalize o que foi definido pelos ministros. No caso de Silveira, a tendência é que o plenário não mude o entendimento tomado pelo STF. De acordo com a Constituição, quando um parlamentar tem os seus direitos políticos suspensos, a perda do mandato dele tem apenas de ser declarada pelo Congresso.

Após a condenação, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pediu à Corte que considere que o Congresso Nacional tenha a palavra final no caso de cassação de parlamentares em julgamentos na Justiça.

Com a condenação a oito anos e nove meses de prisão, Silveira vai perder o mandato e ter os direitos políticos suspensos. O parlamentar fez ataques ao Supremo e aos ministros, inclusive incitando ações contra a integridade física dos magistrados.

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