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R7 Brasília

Após fala de Múcio, especialistas criticam veto a blindados de Israel por ‘questões ideológicas’

Para profissionais da área, o impedimento da licitação viola regras da OMC, que preveem o livre comércio e a não discriminação

Brasília|Do R7, em Brasília

Licitação era referente a compra de viatura blindada de combate obuseiro Divulgação/ Assessoria do Porto de Paranaguá

Em meio ao distanciamento diplomático entre Brasil e Israel, a não aprovação de uma licitação vencida pelo governo israelense por questões ideológicas pode agravar a polarização entre os países. Com o impedimento do pregão, especialistas entendem que a decisão pode trazer consequências para a credibilidade do Brasil no exterior, além de comprometer as relações com Israel. Profissionais da área ouvidos pelo R7 apontam que o impedimento do acordo por ideologia indica, ainda, uma violação das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), que preveem o livre comércio e a não discriminação.

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Nesta terça-feira (8), o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que “questões ideológicas” teriam barrado uma licitação no governo federal vencida por Israel. “A questão diplomática interfere na Defesa. Houve agora uma concorrência, uma licitação, e venceram os judeus, o povo de Israel. Mas, por questão da guerra, do Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas nós não podemos aprovar”, disse.

Segundo o Ministério da Defesa, a fala de Múcio está relacionada a uma licitação vencida em abril pelo grupo israelense Elbit Systems para o fornecimento de 36 veículos blindados destinados à artilharia do Exército.

Para a professora em direito internacional da Universidade de São Paulo Maristela Basso, a decisão mostra a falta de neutralidade do Brasil, uma vez que o governo permitiu que a ideologia e “simpatia” prevalecessem sobre regras internacionais e do direito humanitário. “Essa questão do Brasil discriminar Israel é muito grave. O Brasil dá um passo nefasto no que diz respeito à conduta comercial, violando regras da OMC, e retirando-se de um acordo de compras públicas no âmbito da OMC”, disse.


De acordo com Basso, a decisão influencia negativamente, ainda, em qualquer tentativa que o Brasil tinha em ocupar uma posição de protagonismo na diplomacia global.

Já o doutor em relações internacionais Igor Lucena explica que as licitações devem estar baseadas em princípios de longo prazo, e não em ideologias. O especialista afirma que a decisão pode trazer complicações no cenário externo, podendo gerar uma diminuição das compras governamentais.


“Fatores ideológicos são extremamente prejudiciais quando a gente faz esse tipo de ponderação. O Brasil não tomar uma atitude em um mundo dividido entre nações autoritárias e nações democráticas pode fazer com que caiamos em uma situação de termos equipamentos piores. Também podemos perder a credibilidade com as nações democráticas.”

Natali Hoff, professora de relações internacionais, entende que é esperado que as licitações e acordos sejam celebrados sem interferências ideológicas. Entretanto, raramente a regra é seguida pelas nações. Porém, Hoff aponta que a atual relação entre Brasil e Israel está entre os fatores que pode ser considerado como justificativa da decisão.

“Estamos vivendo um momento bastante tenso no ponto de vista diplomático, e isso pode estar também afetando essa decisão do governo. Isso certamente pode piorar, ainda mais, nossa relação com Israel”, completou.

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