Assembleia da ONU pode ser virada de chave para COP30 no Brasil, avaliam especialistas
Governo brasileiro pretende dar um impulso nas negociações, mas enfrenta críticas em meio a cobranças de estadias vistas como abusivas
Brasília|Iasmim Albuquerque*, do R7, em Brasília
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A Assembleia-Geral da ONU, que será realizada de 22 a 24 de setembro em Nova York (EUA), é apontada por especialistas como ponto-chave para a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima), marcada para novembro no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou neste domingo (21) para representar o país no evento, destacando a importância para “fortalecimento da democracia, o enfrentamento da crise climática e a defesa do multilateralismo”.
A expectativa é que o chefe do Executivo brasileiro exponha em seu pronunciamento as prioridades da política externa do país, a defesa do multilateralismo, reforçado em vários encontros internacionais pelo petista, e uma prévia de debates sobre a crise climática, em preparação COP30.
Avaliação
De acordo com o cientista político e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro, esse é o momento para Lula articular apoios de diversos países e buscar soluções para problemas que vem sendo enfrentados na COP30.
“Há dois grandes riscos para a COP30. Um deles é a hostilidade do governo Trump ao tema da mudança climática. O outro são as dificuldades logísticas de Belém, como os escassos leitos de hotel, que aumentaram de forma exponencial os custos para as delegações que querem se hospedar na cidade, com muitos governos desistindo de enviar representantes . Por conta disso, é importante que o presidente Lula aproveite a Assembleia-Geral para articular apoios de muitos países, encontrando soluções para que possam estar presentes na conferência”, afirma Santoro.
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O presidente Lula fará o discurso de abertura na ONU, reforçando o papel do Brasil na cerimônia. Além disso, o governo brasileiro convocou uma consulta presencial com as partes negociadoras da COP30 durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
“É hora de investir em acordos comerciais com essas nações e buscar, sempre que possível, o fortalecimento de instituições multilaterais, embora com a consciência de que elas vivem um momento de grande fragilidade, como vemos, por exemplo, no caso da Organização Mundial do Comércio, que não vem tendo um papel relevante em enfrentar os tarifaços americanos”, destaca Santoro.
O objetivo é acelerar a adoção das agendas, destravar impasses e garantir um “início suave dos trabalhos”, segundo a 6ª carta à comunidade internacional emitida pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago.
Entre os temas que serão debatidos estão financiamento climático de US$ 1,3 trilhão, transição energética justa e indicadores de adaptação.
Sucesso da COP30 também depende de planos nacionais
O sucesso da conferência no Brasil também depende da apresentação das Contribuições Nacionalmente Determinadas pelos 196 países que assumiram o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, ao assinar o Acordo de Paris.
O ano de 2025 é o prazo para que esses novos planos nacionais sejam divulgados, mas, até agora, 33 países apresentaram suas propostas.
Na próxima quarta-feira (24) será realizada a Cúpula do Clima, que representa uma oportunidade para que as demais nações apresentem suas contribuições.
Esses planos vão determinar, dentre outras coisas, o quanto os países pretendem cortar de emissões de gases do efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global.
Impasses na COP30
A conferência climática voltou a ser alvo de críticas, após países pedirem ao Brasil para mudar o evento da capital paraense para outra cidade devido à cobrança de “preços abusivos” pelos hotéis.
Países alegaram não poder arcar com os preços de hospedagem na cidade brasileira, que dispararam devido à escassez de quartos.
Plataformas de locação passaram a registrar valores inéditos. Alguns anúncios por imóveis de luxo superam R$ 2 milhões por pacote de 11 noites.
O governo tenta sensibilizar o setor, mas segundo o presidente da COP30, André Corrêa, não há uma legislação que obrigue os hotéis a baixarem o preço.
“Se na maioria das cidades onde as COPs aconteceram os hotéis passaram a pedir o dobro ou o triplo do valor, no caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de dez vezes os valores normais. Então há uma sensação literalmente de revolta dos países por essa insensibilidade, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir a COP por causa dos preços extorsivos, abusivos, que estão sendo cobrados”, afirmou.
Preços abusivos desviaram foco da conferência, avalia especialista
Com a pressão internacional e a crescente repercussão sobre a hospedagem, especialistas alertam para o risco de desvio do foco da conferência.
Para o doutor e coordenador de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás, Diego Trindade, a atenção deveria estar voltada ao combate ao aquecimento global.
“É triste ver essa realidade, mas é o que tem acontecido. Os problemas de infraestrutura em Belém, de responsabilidade do Brasil, têm motivado a narrativa em torno das dificuldades logísticas e ofuscado a emergência climática, que deveria ser o centro da COP30”, afirma.
Perguntas e Respostas
Qual é a importância da Assembleia-Geral da ONU para a COP30 no Brasil?
A Assembleia-Geral da ONU, que ocorrerá de 22 a 24 de setembro em Nova York, é considerada um ponto-chave para a Conferência do Clima, marcada para novembro no Brasil. Especialistas acreditam que este é um momento crucial para o presidente Lula articular apoios de diversos países e buscar soluções para os problemas enfrentados na COP30.
Quais são os principais riscos para a COP30?
Os principais riscos para a COP30 incluem a hostilidade do governo Trump em relação ao tema da mudança climática e as dificuldades logísticas em Belém, como a escassez de leitos de hotel, que aumentou os custos para as delegações. Isso pode levar muitos governos a desistirem de enviar representantes para a conferência.
Qual será o papel do presidente Lula na Assembleia-Geral da ONU?
O presidente Lula fará o discurso de abertura na ONU, destacando o papel do Brasil na cerimônia. Além disso, o governo brasileiro convocou uma consulta presencial com as partes negociadoras da COP30 durante a Assembleia, com o objetivo de acelerar a adoção das agendas e garantir um início suave dos trabalhos.
Quais temas serão debatidos na COP30?
Entre os temas a serem debatidos estão o financiamento climático de US$ 1,3 trilhão, a transição energética justa e indicadores de adaptação. O sucesso da conferência também depende da apresentação das Contribuições Nacionalmente Determinadas pelos 196 países que assinaram o Acordo de Paris.
Qual é o prazo para a apresentação das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas?
O prazo para que os novos planos nacionais sejam divulgados é 2025, mas até agora, apenas 33 países apresentaram suas propostas. A Cúpula do Clima, que ocorrerá em 24 de setembro, será uma oportunidade para que as demais nações apresentem suas contribuições.
Quais são as críticas em relação à realização da COP30 em Belém?
A COP30 tem enfrentado críticas, pois alguns países solicitaram ao Brasil que mudasse a conferência para outra cidade devido aos "preços abusivos" cobrados pelos hotéis em Belém. Os preços de hospedagem dispararam devido à escassez de quartos, levando a uma insatisfação entre os países que não conseguem arcar com os custos.
Como o governo brasileiro está lidando com a situação dos preços de hospedagem?
O governo brasileiro está tentando sensibilizar o setor de hospedagem, mas, segundo o presidente da COP30, André Corrêa, não há legislação que obrigue os hotéis a reduzirem os preços. A situação é preocupante, pois os preços em Belém estão muito acima do que foi registrado em outras cidades que sediaram conferências semelhantes.
Qual é a preocupação dos especialistas em relação ao foco da COP30?
Especialistas alertam que a pressão internacional e as dificuldades logísticas podem desviar o foco da conferência, que deveria estar centrado no combate ao aquecimento global. A infraestrutura em Belém, que é responsabilidade do Brasil, tem gerado uma narrativa em torno das dificuldades logísticas, ofuscando a emergência climática que deve ser o centro da COP30.
*Sob supervisão de Bruna Lima
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