Auxílio Brasil: Mourão diz que governo não pode ser 'escravo do mercado'
Vice alertou que a questão social é responsabilidade do governo, "apesar de algumas doutrinas acharem que o mercado resolve"
Brasília|Priscila Mendes, do R7, e Daniel Trevor, da Record TV
Um dia depois de ter circulado a notícia de que o governo pretendia lançar o Auxílio Brasil — benefício que substitui o Bolsa Família — com o valor mínimo de R$ 400 e pago até o fim de 2022, o vice-presidente Hamilton Mourão criticou as reações do mercado. A bolsa chegou a cair 3,3% e o dólar atingiu R$ 5,59 após o anúncio. Mourão disse que "não podemos ser escravos do mercado".
Ainda sobre a avaliação do mercado, Mourão completou dizendo que a questão social é uma responsabilidade do governo: "Apesar de algumas doutrinas acharem que o mercado resolve tudo, não é bem assim que ocorre. Se houver uma transparência total na forma como o gasto vai ser executado e de onde vai vir o recurso, o mercado não vai ficar agitado por causa disso".
O vice-presidente destacou que não está participando das discussões para definir o valor orçamentário do Auxílio Brasil, mas fez questão de dizer que é preciso um benefício mais robusto. "Uma coisa é certa: a gente precisa ter um auxílio um pouquinho mais robusto, em face da situação que estamos vivendo, com um grande número de gente desempregada, porque a economia não conseguiu retornar plena depois da pandemia. Vamos aguardar as discussões. Isso ainda vai passar pelo Congresso. O presidente não tem autonomia para definir tudo de uma vez só", destacou.
Mourão ainda fez críticas ao teto de gastos. "Em determinado momento, se criou essa questão. O teto, na minha visão, é um problema sério, porque determinadas despesas aumentam acima do limite estabelecido para as demais. Então, consequentemente, o governo fica estrangulado para ter margem de manobra no sentido de adotar políticas necessárias", disse.
CPI
As declarações do vice-presidente foram dadas poucas horas antes da abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que vai fazer a leitura do relatório final na manhã desta quarta-feira (20). Para Mourão, a CPI não "olhou" questões econômicas e sociais e houve "exploração política".
"Mais uma vez, coloco que a CPI foi criada para avaliar o desempenho do governo ao longo da pandemia. Ela se concentrou única e exclusivamente numa vertente, que foi a questão da saúde. Não olhou a questão econômica, não olhou a questão social. O relatório ainda vai ser votado lá pelos representantes da CPI, vamos ver o que vai emergir disso aí. E óbvio que haverá uma certa exploração política em relação a isso, aliás já tem ocorrido", criticou Mourão.