Brasil, México e Colômbia vão cobrar publicação de atas das eleições venezuelanas em nota
Chanceler brasileiro está reunido com representantes dos países; documento pode ser divulgado ainda nesta segunda
Brasília|Mara Mendes, da RECORD
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estuda emitir uma nota de cobrança da publicação das atas das eleições venezuelanas, ocorridas nesse domingo (28). O documento, construído em conjunto com Colômbia e México, será destinado ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão venezuelano responsável pelo pleito. A RECORD confirmou que o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, está reunido no Palácio do Itamaraty, em Brasília (DF), com representantes dos governos colombiano e mexicano. A nota pode ser divulgada ainda nesta segunda (29).
LEIA MAIS
Mais cedo, o CNE proclamou a reeleição do atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro, apesar de críticas da oposição e de outras nações, que apontam possíveis fraudes no processo eleitoral. O candidato Edmundo González, principal líder da oposição, também reivindica a vitória.
O Ministério das Relações Exteriores orientou a embaixadora do Brasil na Venezuela, Gilvânia Maria de Oliveira, a não comparecer a uma reunião com Maduro, que ocorrerá nesta segunda-feira (29). A RECORD apurou que o venezuelano chamou os representantes de outros países a um encontro de reconhecimento de sua reeleição. A orientação partiu de Mauro Vieira.
Com o movimento, a expectativa é que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva só reconheça o resultado reivindicado por Maduro, contestado pela oposição e por outras nações, quando as atas de votação forem publicadas pelo CNE. A reportagem apurou que o Palácio do Planalto já pediu à Venezuela a publicação dos detalhes das urnas — o que ainda não foi feito pelo CNE.
A reeleição de Maduro tem gerado protestos de cidadãos que exigem mais transparência no processo eleitoral. Em diversos pontos de Caracas, manifestantes estão realizando “panelaços” e as ruas próximas ao Palácio Presidencial estão bloqueadas. Segundo o CNE, Maduro obteve 5,15 milhões de votos, correspondendo a 51,2% do total, sendo assim proclamado presidente da república para um terceiro mandato consecutivo. Com isso, ele permanecerá no poder até 2031.
Argentina e Colômbia
Também há registros de protestos contra a reeleição de Maduro na Argentina e na Colômbia. A principal crítica diz respeito à falta de divulgação da contagem detalhada dos votos.
O presidente argentino, Javier Milei, declarou que a Argentina não reconhece a “fraude eleitoral” na Venezuela. Ele também respondeu às ofensas feitas por Maduro após o anúncio do resultado eleitoral. Na ocasião, Maduro chamou Milei de “traidor” da pátria e afirmou que ele está “vendido” aos Estados Unidos.
Além da Argentina, outros países exigiram acesso às atas das eleições. Em um comunicado conjunto, os governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai pediram uma revisão completa dos dados eleitorais.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, declarou nas redes sociais que não reconhecerá “nenhum resultado que não seja verificável”. “A comunidade internacional e especialmente o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência das atas e do processo, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo prestem contas pela veracidade dos resultados”, escreveu nas redes sociais.
A líder opositora María Corina Machado e seu candidato Edmundo González Urrutia se pronunciaram após a divulgação dos resultados pelo CNE. Segundo ela, os dados apresentados são “impossíveis diante das informações que estamos recebendo”.
“Hoje queremos dizer a todos os venezuelanos e ao mundo inteiro que a Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo Gonzalez Urrutia”, afirmou. “Já ganhamos e todo mundo já sabe. (...) Ganhamos em todos os cantos do país, em todas as cidades do país, em todos os Estados do país.”
“Neste momento temos mais de 40% das atas. Estamos recebendo todas as atas que o CNE transmitiu e todas as informações coincidem que Edmundo recebeu 70% dos votos e Maduro 30% dos votos, esse é a verdade.”
China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia parabenizaram Maduro pela reeleição. O Brasil afirmou que vai esperar por mais informações sobre a eleição da Venezuela para se pronunciar de forma oficial.