Brasil se esforçou para ‘inflar’ Brics esvaziado: veja resultados práticos do encontro
Ausências de presidente da China e de Putin ditaram tom moderado do evento; declaração final não citou guerra entre Rússia e Ucrânia
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O primeiro dia da cúpula de líderes do Brics, nesse domingo (6), terminou com a divulgação da declaração final do encontro e de documentos à parte, como o texto sobre governança global da Inteligência Artificial.
Mesmo com o evento esvaziado, as sessões continuam nesta segunda-feira (7), com expectativa de debates acerca de temas climáticos, como forma de antecipação da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que ocorre em novembro em Belém (PA).
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Apesar do esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve ausência de líderes de países significativos do bloco, como dos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping.
Fundado em 2009 com a sigla formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics reúne atualmente 11 integrantes e conta com 10 países parceiros (veja lista ao fim). A presidência rotativa, a cargo do Brasil em 2025, tem duração anual.
A Rússia foi representada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, e a delegação chinesa foi liderada pelo primeiro-ministro Li Qiang.
Mesmo ausente, Putin participou do evento por videoconferência, mas o discurso não foi transmitido pelo Brasil. Falas públicas de líderes estrangeiros não foram mostradas pela transmissão brasileira.
Em meio ao acirramento das tensões no Oriente Médio, o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, também não participa do encontro, e o país é representado pelo ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi.
O conflito na região também causou a ausência do presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi.
Inteligência Artificial
O primeiro dia da cúpula teve uma plenária voltada às discussões acerca da participação do chamado Sul Global no desenvolvimento de novas tecnologias.
Na abertura dessa sessão, Lula defendeu a construção da IA de forma “justa, inclusiva e equitativa”.
“Ao adotar a Declaração sobre Governança da Inteligência Artificial, o Brics envia uma mensagem clara e inequívoca: as novas tecnologias devem atuar dentro de um modelo de governança justo, inclusivo e equitativo. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não pode se tornar privilégio de poucos países ou um instrumento de manipulação na mão de bilionários”, destacou Lula.
Críticas indiretas a Trump
Lula aproveitou para criticar a OMC (Organização Mundial do Comércio) e pedir mudanças na estrutura da instituição. O organismo é responsável por ditar as regras das trocas comerciais entre os países integrantes.
“A reforma da OMC é outro eixo de ação imprescindível e urgente. Sua paralisia e o recrudescimento do protecionismo criam uma situação de assimetria insustentável para os países em desenvolvimento. Não será possível restabelecer a confiança na OMC sem promover um equilíbrio justo de obrigações e direitos que reflita adequadamente os interesses de todos os seus membros”, afirmou o petista.
Em meio ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a fala de Lula pode ser lida como uma crítica indireta ao republicano, mesmo que o brasileiro não tenha citado Trump.
Recentemente, o governo brasileiro cogitou acionar a OMC em resposta às sobretaxações dos EUA a produtos brasileiros. Tanto Brasil quanto EUA fazem parte da organização.
“Enquanto o unilateralismo cria barreiras ao comércio, nosso bloco trabalha por sistemas de pagamento transfronteiriços mais rápidos, baratos e seguros. Isso vai intensificar o nosso fluxo de comércio e serviços”, acrescentou Lula.
Declaração não cita guerra russa
Antes do evento, a avaliação de especialistas ouvidos pelo R7 era de que a agenda fosse de tom moderado, considerando as ausências e o contexto global, marcado pelo acirramento de conflitos.
A expectativa mostrou-se acertada, e o documento final da cúpula deixou de fora qualquer menção a respeito do conflito entre Rússia e Ucrânia.
O texto condenou os ataques contra o Irã, classificado pelos líderes como uma violação ao direito internacional.
O documento também mostrou preocupação pelas instalações nucleares atingidas e pelo risco de o episódio agravar a violência no Oriente Médio.
A declaração, no entanto, não fez qualquer menção direta aos Estados Unidos ou Israel, ligados aos ataques. Ao citar o episódio iraniano, os líderes também defenderam negociações diplomáticas e cobraram a atuação do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Ao contrário da declaração final, o presidente Lula, no discurso inaugural, condenou o conflito na Ucrânia, embora não tenha citado nominalmente a Rússia.
“É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura”, limitou-se a declarar.
Países que integram o Brics
Membros permanentes:
- África do Sul
- Arábia Saudita
- Brasil
- China
- Egito
- Emirados Árabes Unidos
- Etiópia
- Indonésia
- Índia
- Irã
- Rússia
Nações parceiras:
- Belarus
- Bolívia
- Cazaquistão
- Cuba
- Malásia
- Nigéria
- Tailândia
- Uganda
- Uzbequistão
- Vietnã
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