Brasil terá dificuldade de influenciar o conflito entre Israel e Hezbollah; entenda
Críticas do Brasil a Israel podem limitar atuação do país na resolução de um acordo de paz, dizem especialistas
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília
Desde a escalada do conflito entre Israel e o Hezbollah, o governo brasileiro tem se mostrado contra os ataques no Líbano. Apesar de o país tentar ocupar uma posição de protagonismo na diplomacia global, as críticas feitas ao governo israelense podem limitar o papel do Brasil na resolução de um acordo de paz entre as nações envolvidas. Para especialistas ouvidos pelo R7, mesmo que o país se apresente como um ator capaz de mediar conflitos internacionais, a relação atual com Israel coloca o Brasil em uma condição pouco favorável e influente para a situação.
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Na noite desta segunda-feira (30), as Forças de Defesa de Israel invadiram o território do Líbano. A iniciativa é a primeira desde 2006, quando os dois países estavam em guerra. As tensões começaram a subir após o grupo terrorista Hezbollah iniciar uma série de ataques contra Israel, desde 7 de outubro do ano passado, em apoio ao Hamas, que atua na Faixa de Gaza.
Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o governo israelense e questionou a falta de ação da ONU para mediar o conflito. Além de condenar a guerra na Ucrânia, o petista considerou os ataques do país contra os grupos terroristas Hamas e Hezbollah uma “matança desnecessária”. No último dia 27, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi morto durante os bombardeios no Líbano.
A professora de relações internacionais Natali Hoff explica que a nação atuante como mediadora em um conflito deve ser aceita por ambas as partes. Neste caso, a especialista entende que o Brasil deve ocupar um papel mais significativo no fomento de discussões sobre paz.
“Acredito que a gente vai ter uma posição bastante limitada nesse conflito. Nosso papel vai se dar mais no sentido de o Brasil ser uma das vozes no âmbito internacional que busca defender uma postura da comunidade internacional, por meio dos países que realmente têm capacidade de influenciar”, diz.
Para Hoff, mesmo que o Brasil tenha uma relação próxima com o Irã, país importante na discussão devido à ligação com o Hezbollah, há “capacidade limitada de exercer influência”.
Em complemento, o doutor em relações internacionais Igor Lucena entende que “não existe possibilidade” de o Brasil atuar como mediador no conflito. Segundo ele, as tentativas do governo brasileiro em intermediar paz, tanto com Hamas quanto com Israel e Palestina, foram vistas como negativas pelo governo israelense e pela comunidade internacional.
“Quando o Brasil entrou nas questões israelense e ucraniana, não fizemos o jogo das nações democráticas e passamos longe de propostas da comunidade internacional. Infelizmente, nós já damos a impressão de que o Brasil se alinha, por questões ideológicas, a nações que são antidemocráticas, antiliberais e anti-ocidente. E isso é péssimo para a visão do Brasil a longo prazo”, comentou Lucena.
O Hezbollah é um grupo paramilitar libanês que surgiu na década de 1980, em meio aos conflitos do Líbano com o país vizinho — que começaram quando o Estado de Israel foi fundado, em 1947. De lá para cá, foram vários os momentos de embate entre os dois países.
Resgate de brasileiros no Líbano
Nesta segunda-feira (30), Lula determinou a realização de um voo de repatriação de brasileiros no Líbano. Atualmente, cerca de 20 mil brasileiros vivem no país. A previsão é que a primeira aeronave, que deve acomodar até 240 pessoas, decole do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (2) com destino ao aeroporto de Beirute.
Apesar do papel fragilizado do país para resolução do conflito, especialistas afirmam que o Brasil não deve enfrentar dificuldades diplomáticas para repatriar seus cidadãos, mesmo sendo uma operação considerada “complexa”. Segundo Natali Hoff, a instabilidade regional pode dificultar a logística.
Além da rota por Beirute, Hoff explica que o governo estuda outros caminhos para retirada dos brasileiros, como os que passam por Síria, Turquia e Chipre. “Essas rotas estão sendo discutidas, mas existe todo um campo de negociação sobre elas, que, do ponto de vista diplomático, são bastante complexas e ajudam a gente a entender esse atraso”, completa.